“The meaning of life doesn’t seem to shine like that screen”: Favoritos de 2019

Marcus Vinicius
24 min readDec 18, 2019

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Apesar do fato que o conceito de década é completamente subjetivo baseado na forma ocidental de contar a passagem do tempo, nossos cérebros humanos cheios de superstições sempre captam um senso de “virar a página” e “entrar numa nova fase da vida” quando vemos o terceiro dígito do ano mudar e não poderia ser diferente em relação a música — durante todo o ano ficamos com essa sensação de mais uma era da música moderna se fechando e com isso diversos artistas prolíficos da década lançando álbuns que parecem resumir o que fizeram durante ela, gêneros e estilos entram num círculo completo e entram em evolução para algo ainda desconhecido para a próxima década e novos potenciais estreiam e delineiam seu futuro — isso tudo ocorreu em 2019, através de diversos gêneros e estilos, o ano contribuiu com diversas entradas importantes para a lista geral desses últimos dez anos, os que vem a seguir foram os meus favoritos de todos esses lançamentos:

RATEYOURMUSIC (Reviews completas, em inglês)

EPS / PROJETOS:

Leaving, 15/03

10. Ana Roxanne — ~~~ (Ambient)

Faixa essencial: Nocturne

Um dos estilos mais acessíveis de música ambient — atmosfera meditativa, vocalizações sutis e etéreas com uma textura sonora bem cristalina — não traz nada de novo, mas demonstra a capacidade da artista em criar algo promissor e delineia um futuro interessante.

Sugar Trap, 25/04

09. Rico Nasty & Kenny Beats — Anger Management (Hardcore Hip Hop)

Faixa essencial: Cold

Contagiante e feral, não desperdiça nenhum segundo da sua duração, trabalhando dentro do formato de “controle de raiva”, com a primeira metade contendo uma raiva não-filtrada e indo gradualmente diminuindo sua intensidade, mas não a sua capacidade de cativar, com Rico controlando sua entrega numa cadência diferente.

Self-Released, 22/02

08. Uffie — Tokyo Love Hotel (Electropop)

Faixa essencial: Drugs

Uffie atualiza seu pop plástico-escapista para o clima do pop atual, mas canaliza sua essência muito bem através dele, amplificando sua natureza existencialista através de uma produção mais vítrea, mantendo seus ganchos em sincronia com o gosto agridoce das canções.

Self-Released, 12/04

07. GFOTY — If You Think I’m a Bitch, You Should Meet GFOTY (Bubblegum Bass)

Faixa essencial: Cool

Continua no etos da PC Music, mesmo fora dela — uma visão hiperativa e distorcida da música pop através de lentes frenéticas e influências do eurodance — uma abordagem intensa e levemente sarcástica, mas ainda assim completamente sincera.

JYP, 23/09

06. TWICE — Feel Special (K-Pop)

Faixa essencial: Rainbow

Twice se eleva para um dos atos mais cativantes do K-Pop nesse ano, com tudo que o gênero precisa para ser bom — produção cristalina, melodias efervescentes deliciosas, ganchos leves, mas eficientes e alguns elementos mais diferentes pipocando aqui e ali, resultando em música pop vívida e divertida.

Deewee, 08/02

05. Charlotte Adigéry — Zandoli (Synthpop, Art Pop)

Faixa essencial: Paténipat

Mistura a natureza mecânica do synthpop e da tech house com as melodias sessentistas do pop soul, numa simbiose de elementos que formam um som coeso e uma promessa cheia de camadas e cores.

On Repeat, 02/08

04. Little Boots — Jump (Nu-Disco, Deep House)

Faixa essencial: Jump

Menos etéreo que o EP do ano passado, com sintetizadores mais abrasivos com maior foco rítmico e no tom mecânico, Little Boots continua a expandir seu catálogo dentro da música dance eletrônica.

Self-Released, 15/10

03. Lim Kim — Generasian (Experimental Hip Hop, Deconstructed Club)

Faixa essencial: Digital Khan

A transformação de uma cantora de K-Pop mais convencional nesse frenesi de hip hop industrial com post-club é com certeza o ponto que nos direciona a esse lançamento, mas o que nos mantém é a sua capacidade de contornar esses gêneros com um domínio impecável e uma confiança inabalável, numa sonoridade surreal e abrasiva

Polivinyl, 30/09

02. Kero Kero Bonito — Civilisation I (Synthpop)

Faixa essencial: Battle Lines

Modificando sua sonoridade mais uma vez, a banda pula do indie -noise-pop e encontram um meio termo entre o orgânico e sintético aqui, incorporando sintetizadores massivos numa encarnação caleidoscópica do synthpop, acoplando também uma atmosfera de RPG instigante que os faz pular de cabeça num futuro trabalho promissor

Blacksmith, 06/12

01. Kilo Kish — REDUX (Electropop)

Faixa essencial: Nice Out

Mergulha na produção eletrônica obscura e metálica, que bebe influências do witch house, se mantendo diverso na sonoridade, mas ainda cobrindo tudo com sua camada de euforia sombria, afiando seus ganchos inescapáveis com uma sonoridade corajosa, numa mistura de hedonismo com existencialismo que é aplicada na dosagem correta para impacto máximo.

ÁLBUNS:

50. Matmos — Plastic Anniversary (IDM, Glitch)

Thrill Jockey, 15/03

Faixa essencial: Collapse of the Fourth Kingdom

Um álbum que constrói um mundo específico, através de sons feitos por objetos plásticos, desenrolando uma narrativa que é tão cativante quanto devastadora — justaposicionando as melodias elásticas da primeira metade com o tom apocalíptico da segunda, contando perfeitamente a história do plástico e nosso relacionamento com ele.

Republic, 08/02

49. Ariana Grande — Thank u, next (Contemporary R&B)

Faixa essencial: Needy

Num trabalho mais direto e conciso, a cantora usa mais elementos do R&B moderno, contextualizando os tropos da influência mais trap de maneira efetiva e com personalidade — variando entre composições mais emotivas e canções vápidas descontraídas e se saindo bem em ambos formatos, tornando-o uma experiência fácil e completamente aproveitável como pop mainstream eficiente.

Arts & Crafts, 22/03

48. Lucy Rose — No Words Left (Contemporary Folk)

Faixa essencial: Song After Song

Se antes, Lucy borrifava melancolia em suas canções, aqui ela a traz para o fronte — com arranjos mais diretos e atmosféricos, sua voz se prende nas melodias cinzas e ecoa no espaço em que elas existem, num estilo mais verborrágico de composição que exala um amargor difícil de tirar, mas que mostra o desabrochar do seu potencial.

Secretly Canadian, 08/03

47. Stella Donnelly — Beware of the Dogs (Indie Pop)

Faixa essencial: Beware of the Dogs

Brutalmente honesto enquanto melodicamente polido —Donnelly encaixa num indie pop/folk simples suas cruas letras sobre misoginia no meio musical e canções de amor sem filtro de forma efetiva, fazendo com que suas composições atinjam de forma pungente ao serem entregues de forma cândida — tudo, sem perder o replay value.

Secretly Canadian, 24/05

46. Faye Webster — Atlanta Millionaires Club (Alt-Country, Indie Pop)

Faixa essencial: Jonny

Não se excede em nada, mas também não falta, pegando influências setentistas do country/soft rock e os adaptando numa lente indie pop — com letras que andam entre o amor intenso e a obsessão auto-depreciativa, construindo ganchos esparsos que são efetivos em derreter a linguagem clássica do amor no desespero milenial.

Liberation, 22/02

45. Julia Jacklin — Crushing (Indie Folk)

Faixa essencial: Pressure to Party

Não quebra o molde de cantautoras folk da década — mas é mais uma bela adição a lista de álbuns que sabem canalizar sua sensibilidade de maneira específica e devastadora, com composições pungentes e uma voz angular, Jacklin transmite seus sentimentos de maneira cortante e muito cativante.

Chevalier de Pas, 13/06

44. Clarice Falcão — Tem Conserto (Synthpop, Dance-Pop)

Faixa essencial: Mal pra Saúde

Um fôlego novo no pop brasileiro, composições memoráveis embrulhadas numa produção synthpop deliciosa que traz influências de uma grande variedade de gêneros dance, num formato mais inventivo do Art Pop,. A produção é cheia de peculiaridades e estilizações exuberantes, complementando as melodias vocais de Clarice, que catapultam seus ganchos eficientes ao estrelato.

Jagjaguwar, 18/01

43. Sharon Van Etten — Remind Me Tomorrow (Indie Pop)

Faixa essencial: Seventeen

O trabalho mais polido de Etten vem com a adição proeminente de sintetizadores e com a artista soando mais impositiva que lamentosa, mas o álbum não se mantém nessa nota, canalizando influências mais mecânicas e mais obscuras, assim como seu estilo confessional usual — mantém tudo que faz seu trabalho bom através de uma variação excitante.

Sargent House, 13/09

42. Chelsea Wolfe — Birth of Violence (Gothic Country)

Faixa essencial: American Darkness

Continua a demonstrar o que Wolfe sabe fazer de melhor — criar uma atmosfera específica, que encapsulam o ouvinte em seu próprio mundo — com elementos mais simples, é menos ansioso que seus trabalhos mais pesados, mantendo uma sonoridade coesa, que ainda mantém todos seus elementos essenciais intactos.

4AD, 11/10

41. Big Thief — Two Hands (Indie Folk)

Faixa essencial: Not

O segundo álbum do ano da banda serve num todo como um companheiro para “U.F.O.F.”, andando através do indie folk com influências mais clássicas do folk rock, energizando suas composições incríveis, além de mostrar mais versatilidade aos vocais de Adrianne e permitindo a banda a adicionar mais camadas ao seu som.

2MR, 03/05

40. Kedr Livanskiy — Your Need (Outsider House)

Faixa essencial: Your Need

Com uma voz que possui ambas qualidades de uma deusa etérea e de uma cantora folk solitária, Kedr mistura os ritmos quebrados da lo-fi house atual com o breakbeat noventista e uma enorme bancada de influências, construindo um som efervescente em melodias e mais cinza nas produções, uma mistura que torna sua sonoridade unicamente sua.

Mexican Summer, 24/05

39. Cate Le Bon — Reward (Art Pop)

Faixa essencial: Sad Nudes

Cate foi capaz de abraçar incrivelmente a solidão e o surreal, juntando os dois num álbum fluído, mesclando a indietronica dos anos 2000 e psicodelia sessentista, distorcendo as melodias repetitivas com emotividade, mantendo o tom esparso e as guitarras fora do tom, construindo texturas palpáveis com seus vocais alheios e nebulosos.

Warner Bros, 22/03

38. Jenny Lewis — On the Line (Soft Rock, Country Pop)

Faixa essencial: Wasted Youth

É uma emulação perfeita do som ultra-polido do country pop rock setentista, com uma bateria pontuada e arranjos emotivos suaves que ela pega emprestado das grandes divas da época — mas por baixo dessa produção polida, há a sensibilidade, crueza e amargor da compositora brilhante que Lewis é, adicionando uma camada que deixa o álbum tridimensional e irresistível

Columbia, 01/03

37. Solange — When I Get Home (Alternative R&B, Art Pop)

Faixa essencial: Almeda

Em oposição ao seu antecessor, parece mais uma foto de um dia de gravações da Solange ao invés de uma grande afirmação e ao mesmo tempo é mais experimental e ousado, num R&B polido e minimalista que funde batidas entrecortadas com psicodelia, criando um álbum esparso que não demanda atenção, mas que necessita da mesma para revelar sua grandiosidade.

Sacred Bones, 07/06

36. Lust for Youth — Lust for Youth (Synthpop, Alternative Dance)

Faixa essencial: Insignificant

Vestindo suas influências de maneira bem proeminente, esse álbum só reafirma Lust for Youth como uma banda que sabe transmiti-las com charme — numa mistura da aura gótica e indiferente do Depeche Mode e com o ritmo efusivo do Pet Shop Boys, eles ativam as boas características de ambos os lados do espectro do synthpop, em seu álbum mais campy e dançante.

Columbia, 03/05

35. Vampire Weekend — Father of the Bride (Indie Pop)

Faixa essencial: Harmony Hall

Aborda o etos da banda de maneira mais esparramada em estrutura e sequenciamento, mas ainda mantém o ouvido impecável para ganchos eficientes e melodias ensolaradas que já nascem clássicas — o tom mais cândido e ingênuo também esconde as pontas afiadas das composições tipicamente desesperançosas da banda.

100% Silk, 15/02

34. Cherushii & Maria Minerva — Cherushii & Maria Minerva (Outsider House)

Faixa essencial: A Day Without You

Uma daquelas misturas perfeitas entre música eletrônica underground e a efervescência eufórica da música pop — a produção hipnagógica de Cherushii funde com as melodias efusivas criando um tipo de discoteca psicodélica que derrama luz em cada canto escuro da nossa mente, criando música dance escapista intricada na sua atmosfera colorida mas levemente dissociativa. Descanse em paz, Cherushii, a sua música viverá.

Elemess, 21/06

33. MC Tha — Rito de Passá (Funk Melody)

Faixa essencial: Despedida

Indubitavelmente enraizado no seu padrão pop, mas o mistura com as pontas afiadas do funk carioca e constrói algo verdadeiramente cativante — também pega influências da percussão do Axé e o peculiar Tecnobrega para construir o álbum e o conectar com sua base no Funk Melody — em menos de meia hora, “Rito de Passá” apresenta um futuro para o pop brasileiro e delineia um potencial incrível para MC Tha.

Modern Love, 06/11

32. Andy Stott — It Should Be Us (Dub Techno)

Faixa essencial: Collapse

Vê o produtor retornando a sonoridade sombria dos seus dois primeiros EPs, com os ritmos macabros permeando o suas batidas de dub techno, mas dessa vez a densidade da sonoridade é dissipada por uma nova abordagem aos ângulos, dando uma clareza maior as canções, servindo como uma interessante continuação e mantendo o seu nível de música dance hipnotizante.

Polyvinyl, 23/08

31. Jay Som — Anak Ko (Dream Pop)

Faixa essencial: Superbike

Enquanto a artista parecia tentar encontrar seu som anteriormente, esse álbum é a demonstração de algo mais desenvolvido — a atmosfera ensolarada-melancólica traz uma coesão que se encaixa na variedade de sonoridades aqui, fazendo com que tudo soe conectado e coberto pelo mesmo véu de dream pop e isso junto com as composições fortes catapultam as canções.

Sacred Bones, 30/08

30. Pharmakon — Devour (Death Industrial)

Faixa essencial: Self-Regulating System

Dando continuidade a temática de terror corporal de seu trabalho, se distancia sobre agonizar como o nosso corpo pode nos trair para olhar pela perspectiva de como nós também o atacamos, num ciclo vicioso — e dessa vez, ao invés de gritos agonizantes, temos pura raiva, com uma sonoridade mais metálica e furiosa ao invés de atmosférica — o álbum mais imediato do projeto pelo quão consumidor é.

Barsuk, 10/05

29. Charly Bliss — Young Enough (Power Pop)

Faixa essencial: Capacity

Jogando sintetizadores na sua fórmula deliciosa, Charly Bliss os usa sem emular uma sonoridade oitentista, mas sim para intensificar o sentimento catártico do seu power pop, tornando suas composições mais multi-dimensionais, aliados pelos vocais açucarados, mas venenosos de Eva, que afiam seu tom auto-depreciativo embalado em uma embalagem colorida com melodias elásticas.

AWAL, 06/09

28. Bat for Lashes — Lost Girls (Art Pop, Synthpop)

Faixa essencial: The Hunger

Em um álbum menos sério, Natasha Khan esbanja na estética horror-kitsch dos anos 80 californiano e cai de cabeça nos sintetizadores, alternando entre baladas atmosféricas oitentistas e efervescentes faixas disco, se fazendo destacar dentro de uma sonoridade já super-populada, injetando a sua dose de misticismo que mostra o seu conforto em explorar uma nova sonoridade.

4AD, 03/05

27. Big Thief — U.F.O.F. (Indie Folk)

Faixa essencial: UFOF

Crescendo ao se tornarem minimalistas, Big Thief expandem sua força ao diminuir as guitarras e baterias em troca de um som mais folk — suas composições pungentes tem mais espaço para respirar em meio as estruturas frágeis, abrindo caminho entre elas de maneira poderosa — o balanço perfeito entre o intricado e minimalista, “U.F.O.F.” é uma grande afirmação melancólica em um pequeno pacote.

Sub Pop, 22/03

26. Orville Peck — Pony (Alt-Country)

Faixa essencial: Kansas (Remember Me Now)

Um álbum bem direto em sua sonoridade, mas que tem diversas influências energizando a sonoridade do artista para algo mais, as guitarras etéreas e a atmosfera gótica transformam as canções em baladas country sedadas, acompanhadas pela sua voz profunda que trabalha em diversos ângulos num álbum de estreia promissor.

Columbia, 19/04

25. Kelsey Lu — Blood (Art Pop, Chamber Pop)

Faixa essencial: Rebel

Com um fantástico senso de melodia, Kelsey desliza através da mistura de arranjos de corda, atmosfera soturna, floreios eletrônicos e sensibilidades folk, juntando-os da melhor maneira com sua voz sedosa, crescendo num mosaico de imagens, construindo uma atmosfera hipnotizante e confortável, que é capaz de ser experimental sem deixar de ser delicada.

Kallista, 04/10

24. Carla dal Forno — Look Up Sharp (Minimal Wave, Ethereal Wave)

Faixa essencial: Took a Long Time

Invoca um certo tipo de imagem que parece disforme e portanto, atemporal, algo que vagueia pela fábrica do tempo e aterrissa em algum local indefinido — justapõe divagações vocais oníricas com passagens ambient cinemáticas, alheio a tendências modernas, constrói uma imagem borrada específica que provoca uma resposta sensorial pungente no ouvinte.

Age 101, 01/03

23. Little Simz — Grey Area (Concscious Hip Hop)

Faixa essencial: Offence

Um álbum conciso e direto, sem desvios, apenas socos — mas mesmo assim, Little Simz ainda encontra tempo de explorar diversas sonoridades e influências dentro do seu som delicioso, que é tão colorido quanto impactante, empacotado numa produção densa, mas acessível que destaca sua entrega, que destacam suas letras afiadas e que colocam o álbum em total sincronia.

Risco. 12/09

22. Ana Frango Elétrico — Little Electric Chicken Heart (MPB, Chamber Pop)

Faixa essencial: Tem certeza?

Andando através das canções não só com suas letras e vocais afiados, mas também com sua produção cristalina e composições cativantes— com uma instrumentação que leva uma mão pesada de instrumentos de sopro, ela constrói um tipo de indie-jazz-pop a partir das bases da MPB, aonde o tom lânguido usual do Samba-Jazz encontra uma base mais idiossincrática para estender suas raízes, em composições levemente progressivas e intrincadas — existem as influências claras, mas Ana é capaz de construir algo além, dela própria, florescer nelas.

Secretly Canadian, 16/08

21. Shura — forevher (Sophisti-Pop, Synthpop)

Faixa essencial: skyline, be mine

Se “Nothing’s Real” canalizava seu synthpop através de “e-se”s, “Forevher” deixa de lado todas as inseguranças e mostra uma paixão intensa e urgente, Shura inunda suas canções extravagantemente oitentistas e funky com um desejo descalibrado, um álbum descaradamente apaixonado que usa uma fusão de R&B e synthpop para canalizar sua paixão.

Dog Show, 31/05

20. 100 gecs — 1000 gecs (Bubblegum Bass)

Faixa essencial: gec 2 ü

Encapsula em 23 minutos tudo que é incrível sobre o gênero e o que me atrai a ele — o frenesi desavergonhado de soar ridículo enquanto é inegavelmente pegajoso, distorcendo gêneros como emo rap, trance e post-club, derretendo tudo e se divertindo ao máximo enquanto mantém uma beirada emocional, com uma entrega melancólica em meio ao caos.

Self-Released, 17/09

19. Slayyyter — Slayyyter (Electropop, Dance-Pop)

Faixa essencial: Alone

Uma lição em como fazer música pop revivalista — sabe o que funciona na música dos anos 2000 e transfere perfeitamente para o presente, sabendo mesclar os elementos atuais com o senso de ritmo e a sonoridade do passado, criando algo não só meramente saudosista, mas um som que só poderia ter sido criado no cenário da música pop atual.

Sub Pop, 18/10

18. clipping. — There Existed an Addiction to Blood (Industrial Hip Hop)

Faixa essencial: La Mala Ordina

Um álbum fora da curva das tendências modernas que usa música industrial e noise como base da sua produção e que mesmo assim soa reconhecível como um trabalho de hip hop, nunca soando cansativo, te seduzindo facilmente para continuar ouvindo, seja pela sua atmosfera eficiente de horror ou simplesmente por ser uma demonstração de música intensa e interessante.

Polyvinyl, 08/02

17. Xiu Xiu — Girl with a Basket of Fruit (Post-Industrial)

Faixa essencial: Pumpkin Attack on Mummy and Daddy

Quase duas décadas em atividade, Xiu Xiu continua a empurrar seus próprios limites ao criar um álbum ainda mais bizarro e devastador que seus anteriores, pegando influências das mais diversas formas de música industrial e as misturando para uma atmosfera infernal, que é tão repelente quanto atrativa.

4AD, 10/05

16. Holly Herndon — PROTO (Experimental)

Faixa essencial: Eternal

Ao usar uma AI como parte do time de produção desse álbum, Herndon subverte a narrativa que cerca a inteligência artificial como algo ameaçador e leva a tecnologia para onde ela deve estar, ao lado dos humanos, criando algo pulsante e intricado — nada melhor que o seu experimento também soe tão cativante musicalmente quanto conceitualmente, expandindo seu som para uma experiência única na música.

Asylum, 13/09

15. Charli XCX — Charli (Electropop, Bubblegum Bass)

Faixa essencial: Gone

Em todos os aspectos, “Charli” serve como uma ferramenta que condensa o trabalho da artista desde 2016 para uma audiência maior — usando todos os artifícios e colorações do seu trabalho em uma estrutura e sonoridade mais “acessível”, mas sem perder o seu talento para criar um trabalho coeso e sonoramente cativante que demonstra sua paixão pela música perfeitamente

Sacred Bones, 13/09

14. Jenny Hval — The Practice of Love (Art Pop, Synthpop)

Faixa essencial: Six Red Cannas

Uma mestre na justaposição do experimental com o pop, “The Practice of Love” é o álbum mais direto e convidativo de Hval, mas mesmo assim permanece único em sua abordagem — invocando influências do trance, a artista explora a temática do amor sob seus próprios termos, fora do molde normativo e que usa o tema como cataclista para tragédia e o disseca como algo puro e individual para cada um num álbum tão sensível quanto inventivo.

4AD, 26/04

13. Aldous Harding — Designer (Contemporary Folk)

Faixa essencial: The Barrel

Com uma confiança maior tanto em sua voz quanto em suas composições, Harding rodopia suas letras com sua entrega diversa, que varia de ameaçadora e soturna até cândida e ingênua, enquanto transforma seu folk minimalista em algo grandioso através de melodias marcantes, criando uma atmosfera impecável que transforma o álbum em um origami intricado.

Sacred Bones, 16/08

12. Blanck Mass — Animated Violence Mild (Electro-Industrial)

Faixa essencial: House vs. House

Existe uma forma natural como esse álbum atinge esse ponto perfeito entre doce e azedo, através de suas lentes maximalistas, Blanck Mass canaliza sintetizadores expansivos que funcionam como um caleidoscópio que distorce a escuridão da atmosfera apocalíptica, cercando as texturas noise e os vocais abrasivos com luzes estroboscópicas — os elementos trance servem para distorcer e expandir nos elementos industriais, ao invés do contrário, o que é uma incrível subversão, nos cegando pelo inesperado ao utilizar a natureza imediatista da EDM/”pop” para intensificar o impacto da música industrial.

Double Double Whammy, 21/06

11. Hatchie — Keepsake (Dream Pop)

Faixa essencial: Stay with Me

Uma viagem através do dream pop noventista em todos os seus ângulos e revisitada por suas lentes modernas — melodias obscuras que são repletas com feedback e riffs levemente noisy misturado com batidas dance sutis que bandas como Curve aperfeiçoaram, enquanto fundindo com os refrões épicos do “Technique” do New Order, passando através das melodias ingênuas do The Sundays com seus vocais angulares e distintos apoiados por guitarras jangle e chegando na atmosfera etérea, mas pegajosa do The Cranberries e suas melodias imaculadas que transcendem enquanto dão um sentimento terreno ao lado das divagações shoegaze-românticas do Souvlaki e finalmente temperado com a abstração açucarada dos Cocteau Twins: Está pronto o álbum Nostalgia Dream Pop perfeito, capturando a essência do gênero sem perder as suas características únicas que tornam o álbum emotivamente impactante e impossivelmente charmoso.

Interscope, 17/05

10. Carly Rae Jepsen — Dedicated (Dance-Pop, Synthpop)

Faixa essencial: Everything He Needs

Pode parecer o mesmo tipo de pop oitentista eufórico, mas uma ouvida mais atenta revelam detalhes mais sutis que diferenciam “Dedicated” do seu antecessor — ao invés da masterização altamente comprimida que dá o sentimento de uma montanha russa de emoções, “Dedicated” é mais sutil e até introspectivo — com uma produção mais polida e dinâmica, permitindo que os elementos fluam menos intensamente. Carly entrega suas letras inteligentemente, expondo sua potência máxima com sua enunciação impecável, ao lado de uma paleta sonora mais diversa, com uma bola disco em cima e uma linha de baixo de funk servindo como base para quase todas as músicas, consolidando Jepsen como uma das artistas pop essenciais da nossa década, por entender completamente a natureza simples, mas impactante do gênero.

Columbia, 18/10

09. Caroline Polachek — PANG (Art Pop)

Faixa essencial: Door

“PANG” é capaz de canalizar ambas as excentricidades inventivas do som da PC music, mas também parece um álbum clássico pop em todos os frontes, misturando uma produção glitch e estética mais experimental com ângulos vocais emotivos e influências cristalinas do R&B moderno e derretendo tudo isso na forma de algo estonteante e por fim discreto em quão estonteante é. Um álbum que te empurra para dentro dele através do seu puro magnetismo e Polachek é uma das principais razões disso, o carisma contido em sua voz se destaca tremendamente em tanto nos momentos mais peculiares e brincalhões, quanto nos melancólicos, espiralando com suas melodias pungente e letras cativantemente ornadas, dando a “PANG” uma multitude de respostas emocionais e alcançando um nível de pop profundamente construído e cirurgicamente produzido que se torna irresistível.

History Always Favors the Winners, 14/03

08. The Caretaker — Everywhere at the End of Time — Stage 6 (Dark Ambient, Drone)

Enquanto entramos no estágio final da série de álbuns e do projeto “The Caretaker” como um todo, tivemos grandes expectativas de como Leyland Kirby iria distorcer seu som ainda mais, mas o estágio 6 não se aventura em algo muito diferente — e faz sentido, o projeto é sobre o esmaecimento gradual da memória e da vida e não sobre cair abruptamente em algo profundo, mas ainda assim, existe um elemento de surpresa nesse estágio — esperança. Embora ainda temos alguns momentos de confusão, o estágio 6 é mais esperançoso — pois apresenta o fim de uma tormenta, a esperança no pós-vida ou simplesmente que os terrores da perca de memória exemplificadas nos outros estágios darão espaço para um vazio pacífico.

Mexican Summer, 06/02

07. Jessica Pratt — Quiet Signs (Contemporary Folk)

Faixa essencial: Aeroplane

Mais uma obra prima do folk minimalista — embora trabalhando com elementos similares, os sinais de evolução no som da artista são visíveis, um tom mais noturno é adicionado pelo estilo das composições, uma atmosfera mais psicodélica é intensificada pela adição sutil de instrumentos como flautas e mais camadas de poeira são sentidas sob essas canções, com um pouco de reverb e distorções, se alcança um estilo de folk etéreo ao empregar composições sessentistas acopladas com estilizações lounge e pianos sutis e sensibilidade clássica. Junto com a voz enfumaçada e elusiva de Pratt, “Quiet Signs” se torna um álbum monumental intricado, embora discreto, construindo a perfeita ambientação para divagar sua mente para fora da realidade.

Jagjaguwar, 04/10

06. Angel Olsen — All Mirrors (Art Pop, Chamber Pop)

Faixa essencial: Lark

O trabalho de alguém que se recusa a ser rotulada a uma coisa só, que sabe exatamente o que está fazendo e como deve fazer para chegar a seu objetivo — Angel Olsen traz tudo pra fora, intensificando o melodrama, adicionando arranjos de cordas robustos, tornando seu estilo de composição mais esparso e no processo cria um álbum pop impactante composto em precisão cirúrgica, ao mesmo tempo que soa extremamente confortável na sua mudança, ainda se permitindo ser catártica e divagante mesmo dentro dos arranjos épicos e exuberantes dessas baladas.

Interscope, 30/08

05. Lana del Rey — Norman Fucking Rockwell! (Art Pop, Singer/Songwriter)

Faixa essencial: The Greatest

“Norman Fuckng Rockwell!” entra em cena como um tipo de culminação, posicionado no último ano da década, serve não como um encerramento para Lana, mas um certo acordo consigo mesma. Olhando para trás e vendo o quanto caminhou e quanto foi melhorado, mas percebendo que embora você não esteja completamente feliz agora, talvez é assim que deva ser. Isso tudo é filtrado através dos seus melhores momentos musicais, empurrando a sonoridade dream pop do “Ultraviolence” dentro de um template singer/songwriter, repleto de pianos melancólicos que ocasionalmente desaparecem numa nuvem de psicodelia, trocando sua indiferença fatalista por uma abordagem mais terrena, embora ainda cinemáticas das cantautoras setentistas.

PC Music, 22/11

04. Hannah Diamond — Reflections (Bubblegum Bass, Electropop)

Faixa essencial: Fade Away

Contém uma sensibilidade sem paralelos em sua maneira de abordar solidão no mundo tecnológico moderno de uma forma aperfeiçoada por Hannah desde a sua estreia — pegando temas existencialistas e sobre perda de identidade e canalizando-os por canções de amor num formato adolescente acopladas com um estilo gélido de bubblegum bass, numa mistura pristina da euforia efervescente do gênero e as texturas congelantes que transformam essa euforia num globo de neve frágil e então alinhando essas faixas num álbum só, intensificando seu impacto e nos atingindo como uma rocha — o trunfo de Hannah Diamond é conseguir alinhar todos esses elementos num trabalho intricado e ultra-emotivo que ainda consegue ser sutil na maneira que discorre sobre a nossa dependência identitária em relação ao amor romântico.

Young Turks, 08/11

03. FKA twigs — MAGDALENE (Art Pop, Glitch Pop)

Faixa essencial: Home with You

Mais que uma evolução, “Magdalene” é o refinamento do som de FKA twigs — o alinhamento perfeitamente calibrado da natureza mecânica da música eletrônica, a experimentação alienígena distante e o magnetismo imediato que é tão intrínseco a natureza humana. Se em seus trabalhos anteriores a cantora demonstrava uma submissão obsessiva, “Magdalene” vê FKA twigs não mais entorpecida em relação a sua dor, mas sim tomando um partido, reconhecendo seus aspectos devastadores e se empurrando para frente, se construindo de sua fraqueza e no processo criando um trabalho estonteante através de suas cinzas.

Profound Lore, 19/07

02. LINGUA IGNOTA — Caligula (Death Industrial, Neoclassical Darkwave)

Faixa essencial: Do You Doubt Me Traitor

Gosto da ideia desse álbum servindo como resultado direto do álbum anterior — enquanto seu álbum de estreia era uma experiência angustiante que explicitava o sofrimento de Hayter numa demonstração devastadora de um processo catártico aonde não havia regras ou considerações de antemão, “Caligula” soa como a vingança calculada que ela infligiu em seus abusadores — enquanto em “All Bitches Die” ela estava colocando para fora todos os seus pensamentos sombrios, “Caligula” põe esses pensamentos em prática. As passagens mais ambient e os momentos mais sutis destacam esse intento, abrindo o álbum com uma afirmação ameaçadora, um assustador calafrio na espinha, um prelúdio momentos antes dela abaixar seu machado no pescoço do seu traidor na segunda faixa e essa dinâmica é vista por todo o álbum — essa estrutura mais “calculada” serve como um apoio amplificador para o poder do álbum, tornando-o mais conciso — claro que ainda mantêm-se os momentos infernais e caóticos, mas ao experienciarmos de maneira mais espalhada, os vemos como algo com um objetivo e missão maior, ao invés de uma bola densa de dor desordenada — num claro refinamento do seu processo catártico em um veiculo musical mais estruturado, “Calgula” contém resultados fantásticos para uma das experiências musicais mais intensas que você pode testemunhar.

Sub Pop, 05/04

01. Weyes Blood — Titanic Rising (Baroque Pop, Art Pop)

Faixa essencial: Everyday

Um microcosmo hermético próprio, composto de pensamentos, divagações, ilusões, esperanças, angústias e crenças submergido em galões de melancolia e nostalgia — “Titanic Rising” é tal microcosmo, composto das divagações submergidas da mente de Natalie Mering, ajustado nas expressões do pop setentista, o álbum soa como uma versão alternativa a década, com seu senso estético de esperança etérea, mas posicionados por uma visão milenial moderna mais pessimista — e nessa justaposição, é aonde vem o seu trunfo, com os arranjos de corda exuberantes e as tonalidades confortáveis das guitarras do soft rock, Mering cria aqui uma sonoridade completamente aconchegante e convidativa, criando a sua própria zona de conforto para então confrontá-la com questionamentos existenciais, perda da crença, escapismo auto-destrutivo, solidão humana no mundo moderno e claro, a sombra da mudança climática — representa perfeitamente como nos auto-sabotamos, criando uma zona de conforto na nossa mente que é vedada para o mundo exterior, para então maculá-la com nossos próprios pensamentos sombrios de solidão, de perda de identidade — criamos uma fantasia romântica da vida para servir de escudo para a realidade, só para termos a ansiedade da auto-culpa de ter se permitido afundar em tal fantasia atingir mais forte ainda quando você perceber o que fez — “Titanic Rising” é a submersão na fantasia, o envenenamento da própria, a crise de ansiedade causada por isso e então a tentativa de se empurrar para fora da fantasia tentando melhorar, enquanto ainda retendo alguns elementos da mesma para não se render a realidade completamente — tudo enrolado em uma sonoridade tão impecavelmente arranjada, com cada canto afiado perfeitamente e cada acorde cirurgicamente construído, que esconde toda a confusão mental contida no álbum, ironicamente servindo como a válvula de escape perfeita.

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