“Portrait of a young girl waiting for the ending of an era”: Os anos 2010 em 210 álbuns

Marcus Vinicius
83 min readDec 29, 2019

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Julia Holter, a artista da década.

Olhando para trás, quando essa década começou, você me verá com 13 anos e um gosto musical bem mais limitado e disforme do que como terminei a mesma — nesses dez anos não só de expandi o meu gosto musical, mas também o defini, o entendi e discerni melhor o que me interessa e o que me atrai para a música — essa entidade que foi a constante durante esses dez anos na minha vida, que populou os meus fones de ouvido e que através de diversos álbuns me acompanharam sem falha durante esse período — dessa forma, essa lista serve para representar a minha década de 2010 em duzentos e dez álbuns, de forma balanceada entre o representativo do meu gosto nesse exato momento da postagem dela com o que marcou esses dez anos, juntamente com alguns pensamentos rápidos sobre o que eles me passam e o que significam para mim.

Duzentos e dez álbuns, no entanto ainda é pouco para representar a década inteira, então se você estiver com a paciência, eu também compilei os cinquenta melhores álbuns e dez melhores EPs de cada ano, totalizando 500 álbuns e 100 EPs, formando um mosaico do meu gosto e de tudo que me energizou pela década:

2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019

RATEYOURMUSIC (Para um quadro completo do meu gosto musical e algumas reviews maiores que as presentes aqui)

210. Zola Jesus — Okovi (Darkwave, Art Pop)

Sacred Bones, 2017

Zola colide e mistura ambos darkwave e pop perfeitamente, ora com com cordas obscuras e pulsantes e uma performance vocal apocalíptica, ora com faixas mais centradas no pop, com ótimos ganchos e uma produção electropop dinâmica, o álbum varia entre esses dois humores, muitas vezes misturando-os numa faixa só, criando uma harmonia no contraste dos dois mundos.

Faixa essencial: Exhumed

209. Charly Bliss — Guppy (Power Pop)

Barsuk, 2017

A fórmula perfeita do Power Pop — ganchos de aço, canções diretas, uma guitarra barulhenta, mas intricada e melodias inescapáveis — tudo isso intensificado a um nível de catarse muito mais delicioso pelos vocais tão açucarados quanto venenosos de Eva Hendricks, que dão elasticidade e um fôlego potente as canções simples e cortantes presentes nesse álbum.

Faixa essencial: Black Hole

208. Mariah Carey — Caution (Contemporary R&B)

Epic, 2018

“Caution”, de todas as maneiras, é a mais corajosa afirmação de Mariah — com 38 minutos e 10 faixas, amarra tudo que fez de bom em sua carreira, além de explorar novos campos, se mantendo atualizada — tudo é empacotado num papel de presente azul que destaca toda as suas qualidades, “Caution” é um testamento ao legado de Mariah, aparando as arestas do que a impedia anteriormente e fazendo justiça, finalmente, a todo seu potencial artístico.

Faixa essencial: Caution

207. Róisín Murphy — Take Her Up to Monto (Art Pop)

PIAS, 2016

Róisín continua sua desconstrução da música dance, usando os seus gêneros para fazer canções discretas, mais experimentais e misteriosas — algo meticulosamente trabalhado, mostrando sua capacidade para criar uma sonoridade interessante com a mistura de tantas influências, e conseguir ser, também, cativantemente pop com suas experimentações bem sucedidas.

Faixa essencial: Mastermind

206. Carla dal Forno — Look Up Sharp (Minimal Wave)

Kallista, 2019

Invoca um certo tipo de imagem que parece disforme e portanto, atemporal, algo que vagueia pela fábrica do tempo e aterrissa em alguma local indefinido — justapõe divagações vocais oníricas com passagens ambient cinemáticas, alheio a tendências modernas, constrói uma imagem borrada específica que provoca uma resposta sensorial pungente no ouvinte.

Faixa essencial: Took a Long Time

205. Kelis — Flesh Tone (Electro House)

Interscope, 2010

Com uma mudança brusca na sonoridade, Kelis abraça o electro house completamente e entrega o seu álbum mais sensível e pessoal, mesclando a euforia dos sintetizadores abrasivos com a fragilidade da sua interpretação e letras, tornando “Flesh Tone”, também, seu trabalho mais realizado.

Faixa essencial: 4th of July

204. ionnalee — Everyone Afraid to Be Forgotten (Art Pop, Synthpop)

To whom it may concern, 2018

A sonoridade aqui é um pouco mais imediata, com um som pop menos atmosférico, mas é essencialmente o mesmo tipo de electro/synthpop etéreo, cristalino e lisérgico pelo qual ela é conhecida. As composições são completamente sólidas, com diversos ganchos perfeitos que ecoam em sua mente — tudo se complementa, criando uma experiência mais dançante, mas não menos surreal e mística.

Faixa essencial: Gone

203. Arca — Arca (Art Pop)

XL, 2017

Pode soar desconfortável em diversos momentos pela densidade da sua atmosfera dolorpsa combinada com a produção metálica, uma influência latina que pulsa discretamente embaixo das camadas de produção eletrônica e os vocais arrastados de Arca tornam o álbum uma experiência “feia”, que provoca ansiedade, repulsa e talvez por esse motivo o mesmo seja uma das experiências mais necessárias da década.

Faixa essencial: Anoche

202. Little Boots — Nocturnes (Dance-Pop, Nu-Disco)

On Repeat, 2013

Problemas com a gravadora não impediram Little Boots de lançar um incrível álbum de dance-pop, se distanciando do electropop de “Hands” se aventurando em uma sonoridade mais dance, as canções em “Nocturnes” variam entre o sentimento contagioso da música disco acoplada a euforia noturna da House, criando um álbum elusivo e intoxicante.

Faixa essencial: Motorway

201. Danny Brown — Atrocity Exhibition (Experimental Hip Hop)

Warp, 2016

Provavelmente o álbum de hip hop mais bem sucedido em criar uma atmosfera específica e mantê-la por toda sua duração — num tom realmente maníaco, o álbum nos passa essa sensação de paranoia intensa que o mesmo promete através da produção influenciada pela música gótica e os vocais maníacos de Brown.

Faixa essencial: Ain’t It Funny

200. Céu — Tropix (Art Pop)

Slap, 2016

Adicionando mais uma faceta a sua MPB cristalina, Céu faz uso dos sintetizadores parar criar um trabalho polido e direto em sua essência pop, contendo uns momentos até mesmo maximalistas, mas a sutilidade é a arma da cantora e ela faz esses leves revestimentos do seu novo som de maneira discreta, mas memorável e cativante, embalando suas composições num papel de presente brilhante.

Faixa essencial: Varanda Suspensa

199. Anna von Hausswolff — The Miraculous (Experimental Rock, Ethereal Wave)

Pomperipossa, 2015

Intensificando e obscurecendo ainda mais seu som, em seu terceiro álbum, Hausswolff injeta um tom infernal em suas canções com guitarras experimentais, criando um tom infernal mas que ainda não se sucumbiu ao caos total — uma espécie de purgatório musical.

Faixa essencial: Come Wander with Me / Deliverance

198. Carne Doce — Princesa (Indie Rock)

Self-Released, 2016

Um daqueles álbuns que são uma evolução clara do seu antecessor — se o indie rock psicodélico da banda foi delineado nele, aqui ele é levado de forma mais ambiciosa, com objetivos, estética e sonoridade definidos — “Princesa” é confiante em sua entrega e cristaliza todos os elementos do seu antecessor de uma maneira melhor ainda.

Faixa essencial: Artemísia

197. Wonder Girls — Reboot (K-Pop)

JYP, 2015

Ao voltarem para os anos 80 e misturarem o seu tom sacarino com o ritmo incessante do synthpop e freestyle da década, as Wonder Girls capturaram de uma forma impecável uma fotografia da perfeição pop — melodias impecáveis, harmonias sem precedentes na cena e uma produção forte que pontua as interpretações de todas as integrantes.

Faixa essencial: I Feel You

196. Tinashe — Nightride (Alternative R&B)

RCA, 2016

A cristalização do Trap-R&B que é um dos gêneros-chave dessa década e o trabalho mais coeso da artista — as melodias vocais suaves de Tinashe complementam as músicas mais atmosféricas que se derretem uma para dentro da outra na criação de algo intoxicantemente sensual, com um magnetismo presente em qualquer artista que saiba lidar com o R&B.

Faixa essencial: Soul Glitch

195. Luiza Lian — Oyá Tempo (Art Pop)

Tratore, 2017

Fundindo uma atmosfera mais misteriosa, urbana e noturna, suas letras incisivas são entregues com vocais cristalinos e uma performance corajosa, que soa poderosa e implacavelmente sarcástica — tudo isso e a tradução de gêneros como o Funk carioca para linguagens mais experimentais, fazem de “Oyá Tempo” um álbum interessantemente desafiador que não perde seu apelo pop.

Faixa essencial: Tucum

194. Britney Spears — Femme Fatale (Electropop, Dance-Pop)

Jive, 2011

Apesar do descrédito, “Femme Fatale” é um dos melhores da Britney — com canções que contém uma sonoridade consideravelmente ousada para o cenário pop com uma atmosfera robótica e artificial, o álbum dá um fôlego novo para a cantora e apresenta ganchos deliciosos em produções de eurodance efusivas.

Faixa essencial: How I Roll

193. Julia Holter — Tragedy (Art Pop, Experimental)

Leaving, 2011

Um trabalho experimental e abstrato — uma figura etérea evoca imagens perdidas pelo tempo em canções quebradas, com mudanças de tempo e progressão, entrando em modo drone subitamente e em estados mais eufóricos em outros — Holter usa tape loops e colagens de sons para criar uma cacofonia etérea que nos leva a um estado de sonho-pesadelo constante.

Faixa essencial: The Falling Age

192. Kylie — Aphrodite (Dance-Pop, Electropop)

Parlophone, 2010

O décimo-primeiro álbum de Kylie Minogue é um testamento a sua longevidade e consistência, celebrando sua carreira de maneira espetacular com canções efusivas e inescapáveis que entregam, sem nenhum desvio ou rodeio, o melhor do dance-pop, mais uma vez — puro, eufórico e intenso.

Faixa essencial: Get Outta My Way

191. Alvvays — Alvvays (Twee Pop, Jangle Pop)

Polyvinyl, 2014

Reafirma o poder de composições fortes no indie pop como catalisadora de um álbum incrível — misturando a sonoridade jangle oitentista com a inocência twee do indie 2000s, Alvvays se sobressai no cenário indie atual pela sua habilidade de criar canções memoráveis com elementos básicos — o nível da produção, entrega e composição são inigualáveis.

Faixa essencial: Archie, Marry Me

190. Marissa Nadler — For My Crimes (Chamber Folk)

Sacred Bones, 2018

Obscurecendo seu som ainda mais de uma maneira verdadeiramente sutil, evoluindo e expandindo-o com uma matriz maior de influências — soando ainda mais assombradamente solitária — dedilhados sombrios de violão, uma interpretação etérea, estilizações levemente góticas com toques de country — as canções aqui são contos de solidão e amargor entregues com um tom arrepiante e incorporando vários elementos discretos que as fazem soar desesperançosas e devastadoras.

Faixa essencial: Blue Vapor

189. Azealia Banks — Broke with Expensive Taste (Hip House)

Prospect Park, 2014

Por mais conturbada que for a sua carreira, ela ainda terá o inegável: um ótimo álbum em seu currículo — com produções inventivas e diversificadas, ela demonstra toda a sua força e criatividade nessas 16 músicas, transmutando seu flow em cada uma e condensando suas bordas afiadas em canções de hip house ecléticas e instigantes.

Faixa essencial: Desperado

188. V V Brown — Samson & Delilah (Art Pop, Electropop)

YOY, 2013

Numa das reviravoltas mais corajosas da música pop, VV Brown largou o pop soul do seu álbum de estreia e mergulhou de cabeça numa sonoridade mais obscura — seus vocais se tornaram mais operáticos e evocativos, a produção se tornou agressiva com influências do darkwave da música industrial e as composições esparsas completam “Samson & Delilah” como um álbum estonteante.

Faixa essencial: Nothing Really Matters

187. CHVRCHES — The Bones of What You Believe (Synthpop, Electropop)

Virgin, 2013

Com uma produção que balanceia bem o som cristalino do synthpop oitentista e o fuzz agressivo do electropop moderno, composições sólidas com ganchos inegáveis e a intensidade eufórica embebida nos vocais de Mayberry, CHVRCHES estreia com o pé direito, se destacando em uma sonoridade já bem populada.

Faixa essencial: Recover

186. Little Simz — Grey Area (Concscious Hip Hop)

Age 101, 2019

Um álbum conciso e direto, sem desvios, apenas socos — mas mesmo assim, Little Simz ainda encontra tempo de explorar diversas sonoridades e influências dentro do seu som delicioso, que é tão colorido quanto impactante, empacotado numa produção densa, mas acessível que destaca sua entrega, que destacam suas letras afiadas e que colocam o álbum em total sincronia.

Faixa essencial: Offence

185. Natalie Prass — The Future and the Past (Sophisti-Pop, Pop Soul)

ATO, 2018

Em seu segundo álbum, seu som se torna mais variado, com linhas de baixo funky, arranjos soul mais coloridos e sofisticados, que permanecem tão doces quanto seus trabalhos anteriores, mas de forma mais afiada e com um empurrão mais forte. Ela domina o som com graça, charme e uma interpretação confiante.

Faixa essencial: Short Court Style

184. Keaton Henson — Birthdays (Indie Folk)

Oak Ten, 2013

Um dos álbuns mais miseráveis emocionalmente que já ouvi — toda nota tocada por Keaton é embebida de uma melancolia extrema e todas as canções soam frágeis ao ponto de quebrar, mesmo quando a instrumentação fica mais intensa, tudo parece um bibelô de porcelana melancólico como na capa e dessa forma cria uma atmosfera cativante.

Faixa essencial: You

183. LA Vampires with Maria Minerva — The Integration LP (Outsider House)

Not Not Fun, 2012

Existe uma sensualidade distópica que simplesmente me atraí para esse álbum, com sua produção intoxicante e os vocais sutis que nos espetam no momento certo e da maneira mais pungente possível, música dance fantasmagórica, mas ainda embebida em euforia intensa.

Faixa essencial: Seasons Change

182. Soap&Skin — Narrow (Art Pop)

PIAS, 2012

Uma torrente de emoções que é simplesmente imparável — seja nas canções mais diretas e sufocantes, aonde a dor pode ser sentida de maneira desconfortável e direta como em “Voyage, Voyage” ou quando ela é canalizada por experimentações industriais como em “Deathmental” — “Narrow” tira tudo da frente e simplesmente nos entrega um trabalho exasperante sobre morte.

Faixa essencial: Vater

181. Oneohtrix Point Never — Replica (Plunderphonics, Ambient)

Software, 2011

Pode parecer clichê, mas reflete perfeitamente o senso de perda de identidade e horror sedado da capa — emula sentimentos abstratos e etereamente encapsulantes, ao mesmo tempo que soa enervante e psicótico com samples repetitivos e uma atmosfera ameaçadora — num geral, um álbum que sabe usar todos os seus truques ao seu favor.

Faixa essencial: Explain

180. Ellie Goulding — Bright Lights (Electropop)

Polydor, 2010

Leve, doce e com uma dose de inocência, “Bright Lights” mistura a produção fluorescente do electropop com melodias cristalinas da música folk, tornando-o um álbum simples e extremamente polido, mas também muito eficiente em sua premissa — com a voz vítrea de Goulding sendo perfeita para o mesmo.

Faixa Essencial: Lights

179. Kelsey Lu — Blood (Art Pop, Chamber Pop)

Columbia, 2019

Com um fantástico senso de melodia, Kelsey desliza através da mistura de arranjos de corda, atmosfera soturna, floreios eletrônicos e sensibilidades folk, juntando-os da melhor maneira com sua voz sedosa, crescendo num mosaico de imagens, construindo uma atmosfera hipnotizante e confortável, que é capaz de ser experimental sem deixar de ser delicada.

Faixa essencial: Rebel

178. Zola Jesus — Stridulum II (Darkwave, Art Pop)

Polindo o seu darkwave e retirando suas influências de noise, Zola Jesus soa mais como uma diva gótica, trazendo seus vocais para o fronte da produção — com suas composições fortes e voz imponente, cria uma hipnotizante fusão entre o gótico e o pop, com elementos ainda bem enraizados nas trevas.

Faixa essencial: Night

177. Laura Marling — Semper Femina (Chamber Folk)

Kobalt, 2017

O álbum soa como uma ode a mulher num geral, com sutis referências a relacionamentos entre duas mulheres e a afirmação orgulhosa das mais diversas formas da feminilidade — seu som é consistente, mas cada canção contém elementos diferentes, seja de rock, country, art pop ou chamber folk. Tudo soa coerente dentro da estética rosada e delicada criada nele.

Faixa essencial: Soothing

176. Ana Frango Elétrico — Little Electric Chicken Heart (MPB, Chamber Pop)

Risco. 2019

Andando através das canções não só com suas letras e vocais afiados, mas também com sua produção cristalina e composições cativantes — com uma instrumentação que leva uma mão pesada de instrumentos de sopro, ela constrói um tipo de indie-jazz-pop a partir das bases da MPB, aonde o tom lânguido usual do Samba-Jazz encontra uma base mais idiossincrática para estender suas raízes, em composições levemente progressiva e intrincadas — existem as influências claras, mas Ana é capaz de construir algo além, dela própria, florescer nelas.

Faixa essencial: Tem certeza?

175. Feist — Pleasure (Indie Rock)

Interscope, 2017

É um dos álbuns mais bem produzidos de 2017, cada canção tem detalhes peculiares para realçar suas atmosferas e personalidades próprias, melhorando a experiência do álbum num geral, a voz quebrada e as melodias minímas se prendem em sua mente e você continua a cantarolá-las, mesmo se não pareceram grudentas de primeira.

Faixa essencial: Century

174. Jesca Hoop — Memories Are Now (Indie Folk)

Sub Pop, 2017

“Beleza na sutilidade” seria uma descrição precisa desse álbum, essa é a melhor qualidade do álbum, junto com suas composições. A qualidade de pegar canções tecnicamente simples — engrandecê-las através de nada além da força de suas melodias e composições, fazendo com que pareça que há muita coisa acontecendo nessas canções.

Faixa essencial: Memories Are Now

173. Metá Metá — MM3 (Jazz-Rock, Vanguarda Paulista)

Self-Released, 2016

Usando as estruturas tradicionais do rock e as vertendo e aproveitando em canções que aliam sua herança cultural africana, a uma performance tipicamente urbana. Transcende barreiras ou rótulos, fazendo música que ao mesmo tempo soa acessível, soa desafiadora, com produção e interpretação que não deixa em nenhum momento ofuscar a beleza exuberantemente bruta dessas canções.

Faixa essencial: Três Amigos

172. Oathbreaker — Rheia (Blackgaze)

Deathwish, 2016

Um álbum coeso e bem estruturado, “Rheia” injeta personalidade e diversidade na fórmula do “Blackgaze”, soando dinâmico e substancial e imergindo o ouvinte em seu mundo — justapondo elementos gelados, atmosféricos e etéreos ao lado de lamentos furiosos e malignos gritos cortantes acompanhados de uma bateria incessante e guitarras agressivas.

Faixa essencial: Second Son of R.

171. La Roux — Trouble in Paradise (Synthpop)

Polydor, 2014

Deixa o electropop moderno de lado em busca de uma sonoridade mais retrô, que transmuta La Roux para uma verdadeira diva oitentista — “Trouble in Paradise” também conta com composições mais concisas e focadas, que permitem a cantora condensar todo seu poder de permanência em um trabalho mais consistente.

Faixa essencial: Uptight Downtown

170. Susanne Sundfør — The Silicone Veil (Art Pop)

EMI, 2012

Evolui a sonoridade gelada do álbum anterior e adiciona a ela mais melodias gradientes e composições mais fortes, além de uma entrega vocal mais confiante e forte — mas num geral, é uma continuação maravilhosa do seu álbum anterior em sua mistura de emocional congelante e melodias cerebrais.

Faixa essencial: Rome

169. Beyoncé — Lemonade (Contemporary R&B)

Parkwood, 2016

Julgar “Lemonade” como um álbum representativo dos problemas sociais e raciais dos Estados Unidos é desonesto, ele representa uma mulher forte enfrentando adversidades em frente a turbulências matrimoniais e emocionais, assim como o fato dela estar assumindo sua identidade e uma posição mais contundente sobre isso, e nesse quesito é um álbum extremamente bem sucedido em todos os níveis.

Faixa essencial: Love Drought

168. Natalia Lafourcade — Musas, Vol. 2 (Nueva canción latinoamericana)

Sony Latin, 2018

Se o primeiro volume era mais relaxado, ensolarado e apenas com uma melancolia suave em algumas canções, esse é mais intenso e sombrio. Assim como o primeiro volume se você não soubesse que esse é um álbum composto em sua maioria por covers, você não perceberia pela forma que Lafourcade interpreta tão apaixonadamente e encapsula essas canções com tanta personalidade, transformando-as totalmente — assim como se você não soubesse que ela escreveu alguma dessas, não poderia distinguir, porque todas soam como clássicos.

Faixa essencial: Derecho de Nacimiento

167. Luísa Maita — Fio da Memória (Art Pop, Indietronica)

Cumbancha, 2016

A voz suave de Maita vagueia discretamente através da produção elegante, sensual e exuberante, misturando gêneros como MPB com o downtempo, criando uma atmosfera escura, enigmática e atraente, como a de um quarto escuro com apenas uma luz roxa ligada. Nunca implora por sua atenção, mas também nunca se deixa cair completamente como música de fundo, tornando-o uma experiência extremamente recompensadora.

Faixa essencial: Porão

166. PJ Harvey — Let England Shake (Art Rock)

Island, 2011

Se coloca bem no meio dos horrores da guerra, mas não soa tão comovida por eles — ao invés, PJ soa como se cantasse amargamente e catarticamente enquanto esses horrores se desenrolam ao redor dela, dando um tom de apatia desconfortável que torna o álbum ainda mais pungente em sua entrega.

Faixa essencial: The Glorious Land

165. Katy B — On a Mission (Dance-Pop, UK Funky)

Rinse, 2011

Música pop que não se contenta em usar suas influências dance como elemento de fundo, trazendo-a para o fronte da produção e deixando suas melodias pegajosas fundir-se a energia da EDM, criando uma atmosfera de sensualidade elétrica e única através da efusividade do UK Funky e do Dubstep.

Faixa essencial: Katy on a Mission

164. Shura — forevher (Sophisti-Pop, Synthpop)

Secretly Canadian, 2019

Se “Nothing’s Real” canalizava seu synthpop através de “e-se”s, “Forevher” deixa de lado todas as inseguranças e mostra uma paixão intensa e urgente, Shura inunda suas canções extravagantemente oitentistas e funky com um desejo descalibrado, um álbum descaradamente apaixonado que usa uma fusão de R&B e synthpop para canalizar sua paixão.

Faixa essencial: skyline, be mine

163. 100 gecs — 1000 gecs (Bubblegum Bass)

Dog Show, 2019

Encapsula em 23 minutos tudo que é incrível sobre o gênero e o que me atrai a ele — o frenesi desavergonhado de soar ridículo enquanto é inegavelmente pegajoso, distorcendo gêneros como emo rap, trance e post-club, derretendo tudo e se divertindo ao máximo enquanto mantém uma beirada emocional, com uma entrega melancólica em meio ao caos.

Faixa essencial: gec 2 ü

162. Various Artists — PC Music Volume 1 (Bubblegum Bass)

PC Music, 2015

Marca um ponto interessante na música dessa década — o fenômeno da PC Music, o surgimento do Bubblegum Bass como uma junção cacofônica e empilhamento de diversos gêneros do pop num caos melódico — e essa primeira compilação é um resumo perfeito disso tudo que aconteceu por esses anos.

Faixa essencial: Beautiful

161. SZA — Ctrl (Alternative R&B)

RCA, 2017

Não é um álbum sobre o que é ser mulher, mas que ao analisar a psique de uma mulher em específico, traduz em um trabalho abrangente e identificável sobre o gênero — isso também explica o sucesso massivo do álbum, num mundo que necessita de representatividade, a música de SZA se torna um símbolo universal de poder na fragilidade.

Faixa essencial: Drew Barrymore

160. Lingua Ignota — All Bitches Die (Death Industrial, Neoclassical Darkwave)

Música que é engatilhada por uma necessidade de catarse da dor enclausurada, é a mais pura definição de liberação e massacre dos seus próprios demônios — sem um momento de paz, apenas angústia e confusão advindas de anos de abuso de alguém que finalmente encontrou um objetivo divino para sua dor dentro da música noise.

Faixa essencial: Woe to All

159. Sleater-Kinney — No Cities to Love (Indie Rock)

Sub Pop, 2015

Em todos os aspectos soa como um álbum que procurar testar águas — ver se ainda existe a chama que as levaram a ser uma banda antes e como elas ressoam no cenário atual — por isso, se mantém num ponto seguro da sonoridade, canalizando sua energia num mix de indie e punk que fica mais rítmico e com refrões mais explosivos — mostrando que a banda ressoa perfeitamente para uma nova geração de ouvintes.

Faixa essencial: Price Tag

158. Lana del Rey — Honeymoon (Art Pop)

Interscope, 2015

Lana del Rey se entedia com a própria persona glamour-decadente que incorporou anteriormente e decide explodir tudo, ao mesmo tempo que canta sem expressão na frente das suas próprias ruínas — “Honeymoon” se auto-satisfaz em sua letargia sofisticada, em seu niilismo insignificante e caminha sangrando para dentro do próprio vazio, alheio a tudo em seu redor.

Faixa essencial: Terrence Loves You

157. Slayyyter — Slayyyter (Electropop, Dance-Pop)

Self-Released, 2019

Uma lição em como fazer música pop revivalista — sabe o que funciona na música dos anos 2000 e transfere perfeitamente para o presente, sabendo mesclar os elementos atuais com o senso de ritmo e a sonoridade do passado, criando algo não só meramente saudosista, mas um som que só poderia ter sido criado no cenário da música pop atual.

Faixa essencial: Alone

156. clipping. — There Existed an Addiction to Blood (Industrial Hip Hop)

Sub Pop, 2019

Faixa essencial: Run for Your Life

Um álbum fora da curva das tendências modernas que usa e música industrial e noise como base da sua produção e que mesmo assim soa reconhecível como um trabalho de hip hop, nunca soando cansativo, te seduzindo facilmente para continuar ouvindo, seja pela sua atmosfera eficiente de horror ou simplesmente por ser uma demonstração de música intensa e interessante

155. Jenny Hval — Blood Bitch (Art Pop, Ambient Pop)

Sacred Bones, 2016

Enquanto seu álbum anterior soava mais como várias ideias disparadas sem pensar e num fluxo constante, “Blood Bitch” soa mais focado, mais conciso, suas experimentações provocantes e desconfortáveis soam mais planejadas. Ao invés de soar como estivesse falando da sua vida sexual na mesa de jantar em família, Hval soa como alguém apresentando sua vida sexual como tema de sua tese de mestrado.

Faixa essencial: Conceptual Romance

154. Xiu Xiu — Girl with a Basket of Fruit (Post-Industrial)

Polyvinyl, 2019

Quase duas décadas em atividade, Xiu Xiu continua a empurrar seus próprios limites ao criar um álbum ainda mais bizarro e devastador que seus anteriores, pegando influências das mais diversas formas de música industrial e as misturando para uma atmosfera infernal, que é tão repelente quanto atrativa.

Faixa essencial: Pumpkin Attack on Mummy and Daddy

153. Holly Herndon — PROTO (Experimental)

4AD, 2019

Ao usar uma AI como parte do time de produção desse álbum, Herndon subverte a narrativa que cerca a inteligência artificial como algo ameaçador e leva a tecnologia para onde ela deve estar, ao lado dos humanos, criando algo pulsante e intricado — nada melhor que o seu experimento também soe tão cativante musicalmente quanto conceitualmente, expandindo seu som para uma experiência única na música.

Faixa essencial: Eternal

152. Natalia Lafourcade — Hasta La Raíz (Chamber Pop, Folk Pop)

Sony, 2015

As composições impecáveis de Lafourcade brilham ainda mais quando ela abre mais ângulos para o seu indie pop através da incorporação de influências ensolaradas latinas — resultando num álbum perfeito para se ouvir despretensiosamente em uma tarde sol, um álbum que traz paz ao coração de forma instantânea.

Faixa essencial: Hasta La Raíz

151. Jenny Hval — The Practice of Love (Art Pop, Synthpop)

Sacred Bones, 2019

Uma mestre na justaposição do experimental com o pop, “The Practice of Love” é o álbum mais direto e convidativo de Hval, mas mesmo assim permanece único em sua abordagem — invocando influências do trance, a artista explora a temática do amor sob seus próprios termos, fora do molde normativo e que usa o tema como cataclista para tragédia e o disseca como algo puro e individual para cada um num álbum tão sensível quanto inventivo.

Faixa essencial: Six Red Cannas

150. Crystal Castles — Crystal Castles (II) (Synthpop)

Fiction, 2010

Apesar das circunstâncias da produção desse álbum terem sido hostis para a vocalista, “(II)” ainda é um grande marco na cultura alternativa da década e um testamento para o talento de Alice Glass, conseguindo dar a alma para o álbum — que definitivamente foi o que o alavancou — canalizando sua dor em uma mistura de synthpop etéreo, noise e faixas disformes mais experimentais.

Faixa essencial: Celestica

149. Nicola Roberts — Cinderella’s Eyes (Dance-Pop, Electropop)

A&M, 2011

Uma pérola da música pop, o álbum de estréia solo de Nicola Roberts combina uma produção pristina e seu vocal cristalino com canções eufóricas que aliam o sentimento incessante da música pop com composições fortes e sinceras com elementos peculiares inventivos que o transformam num dos álbuns pop mais verdadeiros da década.

Faixa essencial: I

148. SOPHIE — Product (Bubblegum Bass)

Numbers, 2015

Pega o pop distorcido e satírico da PC Music e demonstra como empurrar suas barreiras ainda mais para frente — do template básico de pop-edm hiperativo para um frenesi de melancolia ingênua até a canções genuinamente perturbadoras, “Product” é o produto de venda de Sophie, plástico e tragicamente sincero — e a coloca como catalisadora e protagonista de todo o movimento.

Faixa essencial: BIPP

147. Xiu Xiu — Forget (Noise Pop)

Polyvinyl, 2017

Com estruturas mais bem definidas e melodias mais identificáveis que seus trabalhos mais experimentais, uma produção focada em sintetizadores abrasivos, guitarras abafadas e vocais torturados, Xiu Xiu mostra sua estética bizarra e perturbada de maneira concisa e cativante — incorporando seus elementos caóticos e únicos em uma produção mais “acessível”.

Faixa essencial: Get Up

146. Tune-Yards — Nikki Nack (Art Pop, Progressive Pop)

4AD, 2014

A inegável melodia da cacofonia — determinada em produzir um álbum mais alto e intenso possível, Merril Garbus tira o máximo possível que ela pode do seu caleidoscópio de ideias e sons, com a ajuda de uma sensibilidade pop mais afiada, ela transforma Nikki Nack em um trabalho mais conciso e cativante, mas não menos instigante e inventivo.

Faixa essencial: Water Fountain

145. CHVRCHES — Every Open Eye (Synthpop, Electropop)

Virgin EMI, 2015

Caminha para um lado mais mainstream, mas caminha na calçada certa — melodias pop intensas que explodem os sintetizadores de maneira harmônica com os refrões complexos e interessantes de Mayberry, que enche o álbum de personalidade com suas capacidades como compositora e vocalista.

Faixa essencial: Leave a Trace

144. Charli XCX — Number 1 Angel (Electropop)

Asylum, 2017

As canções apresentadas aqui são mais discretas no bubblegum bass, valorizando mais o seu aspecto electropop mais convencional, mas sem deixar de lado a produção elástica e vivída típica do gênero — “Number 1 Angel” foi mais um passo de Charli para a dominação do pop e uma transição/preparação necessária para o que veio depois no mesmo ano…

Faixa essencial: Roll with Me

143. Let’s Eat Grandma — I’m All Ears (Art Pop, Synthpop)

Transgressive, 2018

“I’m All Ears” é a culminação da cultura millenial dentro de um som colorido com uma miríade de influências que ainda consegue ser capaz de soar distante, flutuando numa camada angústia, desejando estar o mais longe da realidade possível — tudo isso sendo extremamente pegajoso, com diversas camadas para serem exploradas, num equilíbrio entre imediatez e desafio.

Faixa essencial: It’s Not Just Me

142. TR/ST — Joyland (Futurepop, Synthwave)

Arts & Crafts, 2014

A sonoridade permanece com a base nos mesmos elementos, mas o tom é bem diferente da sua estreia — “Joyland” pega a mistura bem sucedida de industrial e pop e a canaliza através de um filtro mais hiperativo e caleidoscópico sob um véu EDM mais proeminente, elevando a melancolia do seu darkwave lúgubre a uma solidão sintetizada e neon.

Faixa esencial: Capitol

141. The Knife — Shaking the Habitual (Experimental Electronic)

Brille, 2013

O álbum que coroou The Knife como um dos atos mais importantes do nosso século — uma odisseia da música experimental que vagueia por diferentes sonoridades entre a intensidade do industrial techno ao tom esparso maligno do dark ambient, enquanto os energiza com um tom político cortante que deixa ‘Shaking the Habitual’ desconcertante e relevante.

Faixa essencial: Full of Fire

140. Björk — Utopia (Glitch Pop)

One Little Indian, 2017

O álbum soa como uma direta e merecida continuação a “Vulnicura”, mas também seu contraste direto. Björk trocou a melancolia e latente dor dos instrumentos de cordas por uma flauta mais bucólica e agridoce. Esse o contraste mais importante e definidor do álbum em relação ao anterior, mas soa como uma continuação devido a temática e produção similares — Björk no entanto, está em outro contexto e mentalidade em “Utopia”.

Faixa essencial: Blissing Me

139. Lana del Rey — Born to Die (Art Pop)

Interscope, 2012

Ao misturar suas próprias experiências com uma persona que representa uma caricatura americana embebida em glamour decadente, Del Rey criou um dos álbuns pop mais culturalmente importantes da década — odeie ou ame essa persona, mas a transmissão da mesma através de um trip-pop letárgico e bombasticamente deprimente contém um magnetismo irresistível.

Faixa essencial: Blue Jeans

138. Melody’s Echo Chamber — Melody’s Echo Chamber (Dream Pop, Neo-Psychedelia)

Fat Possum, 2012

Usa a psicodelia sessentista como trampolim para uma sonoridade muito mais inventiva, com suas melodias intricadas, estruturas não-usuais e vocais multi-dimensionais — Melody Prochet podeira abordar esse álbum de maneira mais segura e ainda ser bem sucedida, mas ela prefere torná-lo uma experiência muito mais intensa.

Faixa essencial: Crystalized

137. Katy B — Little Red (Dance-Pop, Electropop)

Columbia, 2014

Cristaliza o seu estilo de EDM-pop para uma sonoridade ainda mais diretamente pop, mas sem deixar de lado a intensidade emocional que permite que as suas composições ganhem mais ângulo dentro das produções espiralantes de house e breakbeat, criando uma atmosfera perfeita de melancolia na pista de dança.

Faixa essencial: 5AM

136. Laurel Halo — Quarantine (Ambient Pop)

Hyperdub, 2012

Um álbum que abraça uma decadência futurista e a sua distopia cyberpunk sem oferecer uma saída — num mundo da destruição das relações humanas por sentimentos mecânicos que levam a um autoritarismo que massacra qualquer tipo de progresso, “Quarantine” é a voz sem corpo que nos arrasta por esse mundo paranoicamente monocromático e devastado.

Faixa essencial: Light + Space

135. Charli XCX — Charli (Electropop, Bubblegum Bass)

Asylum, 2019

Em todos os aspectos, “Charli” como uma ferramenta que condensa o trabalho da artista desde 2016 para uma audiência maior — usando todos os artifícios e colorações do seu trabalho em uma estrutura e sonoridade mais “acessível”, mas sem perder o seu talento para criar um trabalho coeso e sonoramente cativante que demonstra sua paixão pela música perfeitamente.

Faixa essencial: Gone

134. Melody’s Echo Chamber — Bon Voyage (Neo-Psychedelia, Progressive Pop)

Domino, 2018

É capaz de construir uma atmosfera perfeita, com um senso de mistério e excitação através dessas maravilhosas 7 faixas, um álbum criativo e extremamente polido, mas que exala vida e cor através de suas canções sonoramente ocupadas e progressivamente belas.

Faixa essencial: Cross My Heart

133. Jessy Lanza — Pull My Hair Back (Alternative R&B, Synthpop)

Hyperdub, 2013

Jessy Lanza e sua voz vítrea carregam um álbum impecavelmente produzido — Pull My Hair Back pode soar indistinto de primeira, mas preste atenção nos detalhes da produção contida nele, em todos os detalhes intricados e em sincronia, que permitem-o tornar uma experiência cativante, borrando a linha entre o sensual e o melancólico.

Faixa essencial: Keep Moving

132. Aldous Harding — Designer (Contemporary Folk)

4AD, 2019

Com uma confiança maior tanto em sua voz quanto em suas composições, Harding rodopia suas letras com sua entrega diversa, que varia de ameaçadora e soturna até cândida e ingênua, enquanto transforma seu folk minimalista em algo grandioso através de melodias marcantes, criando uma atmosfera impecável que transforma o álbum em um origami intricado.

Faixa essencial: The Barrel

131. Blanck Mass — Animated Violence Mild (Electro-Industrial)

Sacred Bones, 2019

Existe uma forma natural como esse álbum atinge esse ponto perfeito entre doce e azedo, através de suas lentes maximalistas, Blanck Mass canaliza sintetizadores expansivos que funcionam como um caleidoscópio que distorce a escuridão da atmosfera apocalíptica, cercando as texturas noise e os vocais abrasivos com luzes estroboscópicas — os elementos trance servem para distorcer e expandir nos elementos industriais, ao invés do contrário, o que é uma incrível subversão, nos cegando pelo inesperado ao utilizar a natureza imediatista da EDM/”pop” para intensificar o impacto da música industrial.

Faixa essencial: House vs. House

130. Andy Stott — Passed Me By / We Stay Together (Dub Techno)

Modern Love, 2011

Uma força definidora para a música eletrônica dessa década, Stott apresenta o dub distorcido e filtrado através de uma atmosfera obscura e desesperançosa, pulsando sintetizadores encapsulantes, samples vocais e canalizando idiomas industriais que entram por debaixo da sua pele — seja no mais melódico “Passed Me By” ou no mais atmosférico em “We Stay Together”.

Faixa essencial: Submission

129. iamamiwhoami — bounty (Art Pop, Electropop)

To whom it may concern, 2013

A coleção de singles que deu início ao projeto é obviamente um dos melhores álbuns da década — mais evocativo e místico que “kin”, as canções aqui ainda possuem aquele tom de mistério e elusividade, que combinam com os vídeos mais centrados na natureza — a combinação entre a eterealidade provida pelos vocais e a efusividade do electropop seriam a marca registrada da artista é divisada em seu estágio inicial aqui.

Faixa essencial: y

128. Juçara Marçal — Encarnado (Vanguarda Paulista, Experimental Rock)

Self-Released, 2014

Um álbum feito de contrastes e contrapontos, de quebra do convencional — sem uma seção rítmica, sem bateria ou baixo, “Encarnado” é a não-conversação entre duas guitarras e um vocal — Marçal canta suas letras trágicas sobre morte como se estivesse em um álbum de MPB, enquanto Dinucci e Campos brigam com suas guitarras atrás dela, fazendo do álbum uma não-sincronia incrível e dando a ele um som único, um atrativo magnético que nos puxa em sua direção.

Faixa essencial: Ciranda do Aborto

127. Chairlift — Moth (Synthpop)

Columbia, 2016

Delicioso, extremamente doce, mas com tons de azedo como um milkshake de morango, “Moth”, terceiro álbum do Chairlift apresenta uma transição muito bem executada da sonoridade mais “indie” dos álbuns anteriores para a mais pop. Um álbum bem sucedido e sustentado pela delicadeza da composição e o colorido da produção que interagem entre si de maneira impecável.

Faixa essencial: Crying in Public

126. Courtney Barnett — Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit (Indie Rock)

Mom + Pop, 2015

Um dos álbuns de indie rock mais afiados dessa década — Barnett condensa toda a indiferença sarcástica e apatia angustiante dos late 20s e a explode em linhas de guitarra incisivas e uma mistura de psicodelia com a crueza do garage rock que soa tanto familiar quanto refrescante.

Faixa essencial: Pedestrian at Best

125. Lucy Dacus — Historian (Indie Rock)

Matador, 2018

O que beneficia muito “Historian”, é seu estilo de composição — ao invés de termos canções mais baseadas na estrutura verso-refrão-verso, temos canções mais assimétricas que se alongam em passagens quase progressivas e transformam as músicas em diversas seções diferentes, que desintensificam o poder dos refrões, tornando-os pouco identificáveis, mas amplificam o poder e impacto das letras ermas e escritas em estilo de conto.

Faixa essencial: Night Shift

124. Duda Brack — É (Alternative Rock)

Self-Released, 2015

Duda pega música compostas por outros e transformam numa força que só poderiam ser interpretadas por ela — com uma voz marcante e poderosa, ela torna esse curto álbum em uma afirmação marcante de sua maestria como intérprete, acompanhada de uma banda que faz um trabalho criativo dentro da mistura do rock e ritmos brasileiros.

Faixa essencial: Cadafalso

123. Luísa Maita — Lero-Lero (MPB)

Cambuncha, 2010

Um infinito fim de tarde de verão, guiado por uma voz distante e sedutora que constrói melodias tropicais que se desdobram como um labirinto, afastando sua mente cada vez mais da realidade, absorvendo seus pensamentos e os desligando, focando nos contos narrados pela voz com uma suavidade estranhamente intensa.

Faixa essencial: Lero-Lero

122. Janelle Monáe — Dirty Computer (Contemporary R&B, Art Pop)

Bad Boy, 2018

A entrega frenética de Janelle e suas letras diretas, com um tom quase punk em si, amplificam a atmosfera efervescente do álbum — as letras podem ser muito “na sua cara”, mas sua natureza direta funciona no contexto do álbum — as vezes você precisa ser direto e sem rodeios, ou a sua mensagem não funcionará e esse é o caso aqui. Janelle está simplesente cuspindo a sua verdade enfaticamente e não se importa com ninguém em seu caminho, ela está cuspindo a sua verdade a abraçando sua negritude e sexualidade em todos os níveis — música empoderadora em todos os sentidos da palavra.

Faixa essencial: Screwed

121. Sleigh Bells — Treats (Noise Pop)

Mom + Pop, 2010

Um filme de terror B que consiste de líderes de torcidas zumbi que saíram diretamente do inferno terrorizando uma cidade — distorção do dance-pop da maneira mais intensa e revigorante possível, ritmos pegajosos inundados por guitarras noise e sintetizadores abrasivos acompanhados de uma interpretação quebrada e totalmente maníaca tornam “Treats” uma das experiências mais interessantes da década.

Faixa essencial: Tell ‘Em

120. Perfume Genius — Too Bright (Art Pop)

Matador, 2014

Transforma a melancolia solitária do seus álbuns anteriores em algo mais cortante, ao adicionar elementos eletrônicos e uma entrega mais mecânica, Hadreas dá uma faceta mais obscura a sua música, engolindo seus lamentos de maneira ameaçadora e mais confiante, passando por cima deles por mais que doa.

Faixa essencial: Grid

119. Vampire Weekend — Contra (Indie Pop)

XL, 2010

Fundindo ritmos regionais com indie pop e uma nova adição de elementos eletrônicos — contém um sentimento de casualidade twee, mas com uma construção de melodias, ritmos e texturas cirúrgica, guiando as canções de maneira metódica — com seus pequenos detalhes intricados, “Contra” é um álbum laboratorialmente construído para termos o balanço perfeito entre idiossincrático e melódico.

Faixa essencial: Horchata

118. Angel Olsen — Half Way Home (Indie Folk)

Bathetic, 2012

O álbum exala solidão. Uma entrega vocal desconcertante e angustiante — é a peça central do álbum que demonstra uma dor palpável e real que ecoa em sua mente. O acompanhamento para a voz são algumas melodias folk lo-fi, que servem de fundo para Olsen e ajudam a criar uma atmosfera ainda mais dilacerante.

Faixa essencial: Lonely Universe

117. Kelly Lee Owens — Kelly Lee Owens (Tech House, Ambient Pop)

Smalltown Supersound, 2017

Provavelmente um dos álbuns mais esteticamente prazerosos da década. Batidas pulsantes, vocais sutis e sussurrados, produção droney e imaculada e melodias coloridas injetadas numa base monocromática transformam o álbum homônimo de Kelly Lee Owens em uma experiência específica e extremamente recompensadora.

Faixa essencial: Anxi.

116. Paramore — Paramore (Power Pop)

Fueled by Ramen, 2013

Um ponto de extrema importância para a banda — depois da saída de dois membros e descreditada na nova década, Paramore prova sua força e resistência como banda com 17 faixas que demonstram todos seus pontos fortes e mostra sua versatilidade, mas mais importante, sua capacidade de composição pristina e entrega intensa.

Faixa essencial: Last Hope

115. Sharon Van Etten — Are We There (Singer/Songwriter)

Jagjaguwar, 2014

Um dos álbuns de término de relacionamento mais certeiros da década — encapsula de maneira intensa todo o melodrama, desespero e devoção envolvido em um término de grandes proporções — Etten não limita ou mede suas emoções em nenhum momento e só deixa elas explodirem o dique do seu coração.

Faixa essencial: Your Love Is Killing Me

114. Kacey Musgraves — Same Trailer, Different Park (Contemporary Country)

Mercury, 2013

Um álbum elevado por suas melodias simples, mas completamente cativantes, cristalinas e envolventes — as composições de Musgraves encontram intensidade e poder de permanência em versos trabalhados de maneira brilhante e vocais embebidos de uma textura ensolarada, mas pungente.

Faixa essencial: Merry Go Round

113. St. Vincent — Masseduction (Art Pop)

Loma Vista, 2017

Afiando ainda mais sua habilidade de criar pop experimental que ainda é perfeitamente acessível — Um caminho natural para a música de Clark: synth-noise pop explosivo, brincalhão e colorido Fundindo influências dance do dance-punk até o electro-disco, distorcendo-as com guitarras reverberadas e empregando sintetizadores obscuros, tornando-o um álbum incessantemente interessante.

Faixa essencial: Los Ageless

112. The xx — Coexist (Ambient Pop, Dream Pop)

Young Turks, 2012

Esvazia o pop minimalista do álbum de estréia ainda mais, deixando as melodias ainda mais minimalistas, as interpretações ainda mais letárgicas e o sentimento de vazio ainda mais intenso — mas é competente o suficiente para ser tão encapsulante e emocionalmente pungente quanto “xx”.

Faixa essencial: Reunion

111. Perfume Genius — No Shape (Art Pop)

Matador, 2017

Perfume Genius junta tudo que ele fez anteriormente e explode, mostrando um crescimento artístico fantástico, o álbum é instigante e intricado com uma produção grandiosa e corajosa que complementam seus vocais estranhos e torturados. Estilos e elementos não-convencionais e produção extravagante pareadas com estruturas pop que juntas, criam um trabalho efervescente que é melodicamente pegajoso e desafiador ao mesmo tempo.

Faixa essencial: Slip Away

110. Björk — Biophilia (Art Pop)

One Little Indian, 2011

Deslocado da realidade terrena e parte de uma dimensão diferente, “Biophilia” desconstrói o som da Björk e o reconstrói com melodias esparsas, estruturas disjuntas e composições intrincadas apesar da sutileza aparente — embora o título faça referência a vida natural (assim como diversas canções do álbum) , Björk não poderia soar mais distante da terra — uma adição preciosa ao seu trabalho experimental.

Faixa essencial: Virus

109. Tim Hecker — Ravedeath, 1972 (Ambient, Drone)

Kranky, 2011

Retorna a temática de decadência urbana de seu álbum de estreia, mas dessa vez de uma maneira mais ameaçadora e opaca — com peças construídas sobre composições de piano, soa como um piano em queda livre representando um sentimento anti-musical em uma distopia aonde a música se enfraquece cada vez mais — mas para algo tão ermo, também se parece estranhamente humano e aconchegante em sua destruição.

Faixa essencial: In the Fog II

108. Crystal Castles — (III) (Witch House)

Casablanca, 2012

Provavelmente o trabalho mais bem sucedido do Witch House, pega as partes mais etéreas dos álbuns anteriores e a intensifica com uma produção mais onírica e levemente gótica, com uma sensibilidade pop mais afiada, mas ainda misantrópico o suficiente para não perder a abrasividade, “(III)” é o álbum aonde o punho emocional da banda acerta de forma mais concentrada.

Faixa essencial: Transgender

107. Jessy Lanza — Oh No (Synthpop, UK Bass)

Hyperdub, 2016

Pega a produção intricada do seu álbum de estréia e a eleva com influências enraizadas no maximalismo oitentista, mas com uma estética minimalista quase alienígena, soando completamente urbano e futurista — “Oh No” representa a riqueza de cores presente na vida urbana, o universo presente dentro de cada pessoa dentro de cada apartamento aparentemente cinza.

Faixa essencial: V V Violence

106. Hatchie — Keepsake (Dream Pop)

Double Double Whammy, 2019

Uma viagem através do dream pop noventista em todos os seus ângulos e revisitada por suas lentes modernas — melodias obscuras que são repletas com feedback e riffs levemente noisy misturado com batidas dance sutis que bandas como Curve aperfeiçoaram, enquanto fundindo com os refrões épicos do “Technique” do New Order, passando através das melodias ingênuas do The Sundays com seus vocais angulares e distintos apoiados por guitarras jangle e chegando na atmosfera etérea, mas pegajosa do The Cranberries e suas melodias imaculadas que transcendem enquanto dão um sentimento terreno ao lado das divagações shoegaze-românticas do Souvlaki e finalmente temperado com a abstração açucarada dos Cocteau Twins e está pronto o álbum Nostalgia Dream Pop perfeito.

Faixa essencial: Stay with Me

105. Weyes Blood — Front Row Seat to Earth (Psychedelic Folk)

Mexican Summer, 2016

Cada canção aqui existe num mundo próprio,cada uma conta sua própria história épica, mas que são todas permeadas por uma sonoridade única que as permite transbordar umas nas outras — um álbum que soa tão apaixonado pelo passado e preso ao mesmo, que consegue soar epicamente futurista de maneira natural, como se suas referências modernas fizessem parte do passado.

Faixa essencial: Used to Be

104. Tennis — Yours Conditionally (Indie Pop)

Mutually Detrimental, 2017

Duas pessoas que se amam fazendo o que amam e isso se traduz para a música muito bem, soando como algodão doce sendo derretido em meus ouvidos, ao mesmo tempo que nunca se torna diabeticamente doce, não nos sobrecarregando por sua doçura, mas mantendo o balanço entre o amor saudável e a melancolia ocasional.

Faixa essencial: Ladies Don’t Play Guitar

103. Beach House — Thank Your Lucky Stars (Dream Pop)

Sub Pop, 2015

O segundo álbum da banda no mesmo ano afunda-se ainda mais em seus próprios pensamentos e se transmuta em algo ainda mais anônimo, que divaga sonambulamente em uma casa fria e vazia, ao mesmo tempo que parece ir para todos os lugares.

Faixa essencial: Elegy to the Void

102. Carly Rae Jepsen — Dedicated (Dance-Pop, Synthpop)

Interscope, 2019

Pode parecer o mesmo tipo de pop oitentista eufórico, mas uma ouvida mais atenta revelam detalhes mais sutis que diferenciam “Dedicated” do seu antecessor — ao invés da masterização altamente comprimida que dá o sentimento de uma montanha russa de emoções, “Dedicated” é mais sutil e até introspectivo — com uma produção mais polida e dinâmica, permitindo que os elementos fluam menos intensamente.

Faixa essencial: Everything He Needs

101. Mitski — Be the Cowboy (Indie Rock, Art Pop)

Dead Oceans, 2018

Pegar sentimentos de solidão, crise existencial, melancolia, nostalgia e explodindo eles numa erupção de emoções espiraladas em um curto período de tempo já é a marca registrada de Mitki — e em “Be the Cowboy” sua incrível habilidade como compositora permanece sólida, ela é capaz de compactar grandes emoções em pequenas canções, pintando uma imagem vivida através do seu modo de compôr dinâmico, mas afiado, criando uma atmosfera solitária e interpretando todas essas canções de uma maneira variada, indo de apática a catártica em questões de segundos

Faixa essencial: Nobody

100. Clau Aniz — Filha de Mil Mulheres (Art Rock)

Mercúrio, 2018

Um álbum de combustão lenta que não apressa nada e permite que suas influências e canções se desenrolem diante dos nossos olhos. Começa lentamente com uma voz profundamente suave e cadente que soa elusiva assim como reconfortante — então, te engole em saxofones de dark jazz e antes mesmo que você perceba, estás cercado por uma enorme e imponente atmosfera obscura, com guitarras de post-rock e um senso de estar engolfado em algo poderoso, apesar de calmo. O álbum continua a soar como uma “calmaria antes da tempestade”, um desenrolar de elementos que irão te levar a algo maior — mas isto nunca acontece, pois você não está na calma antes da tempestade, você já está na tempestade em si desde o começo do álbum.

Faixa essencial: Berro

99. Daughter — If You Leave (Dream Pop)

4AD, 2013

Polindo o som folk mais homemade do seus EPs, Daughter criou um dos álbuns mais encapsulantes do dream pop dessa década — Tonra e sua voz eternamente melancólica, as guitarras post-rock e o sentimento de tristeza que inunda o álbum faz com que suas canções transbordem uma para as outras e criam uma sonoridade coesa e pungente

Faixa essencial: Smother

98. Elza Soares — A Mulher do Fim do Mundo (Vanguarda Paulista)

Circus, 2015

Pega toda a força de Elza Soares e a solidifica ainda mais como uma força da natureza — moderniza o seu som, a sua importância e a traduz para gerações novas, ainda se mantendo fiel a todo seu histórico. O primeiro álbum autoral da cantora aos 80 anos mostra uma vontade de cantar e de se expressar imparável e inigualável.

Faixa essencial: Maria da Vila Matilde

97. St. Vincent — Strange Mercy (Art Pop, Art Rock)

4AD, 2011

Uma amálgama concisa de todos os elementos que borbulham nos trabalhos anteriores (e futuros) da artista — um trabalho de guitarra enervante, os vocais apaticamente mecânicos que soam indiferente a realidade, os efeitos eletrônicos perfurantes e o sentimento de tensão explosiva que transformam “Strange Mercy” em uma experiência claustrofóbica e extasiante.

Faixa essencial: Cruel

96. Áine O’Dwyer — Music for Church Cleaners (Ambient)

Fort Evil Fruit, 2015

Despe o catolicismo de toda sua pompa e doutrinas, retira tudo que reveste a espiritualidade e nos mostra que se Deus existe, ele está dentro dos momentos que não há celebração, nos pequenos silêncios do dia-a-dia e naquelas pessoas que cantam para ninguém, “Deus” se manifesta quando não há ninguém prestando atenção ou entendendo sua mensagem — são nesses momentos que experiências marcantes se sucedem.

95. Cult of Luna & Julie Christmas — Mariner (Atmospheric Sludge Metal)

Indie, 2016

Uma das vocalistas mais angulares do metal se junta com uma das bandas mais interessantes do gênero e cria um álbum hipnotizante ao mesmo tempo que esmagador — o contraste dos vocais com a produção funciona de maneira surpreendente ao criar uma atmosfera desconcertantemente intensa.

Faixa essencial: Cygnus

94. Sufjan Stevens — Carrie & Lowell (Indie Folk)

Ashmatic Kitty, 2015

Um álbum que representa a dor que a efemeridade da vida e dos bons momento nos inflige, que discorre sobre pequenos detalhes e os disseca de maneira obsessiva que só resulta em prantos inconsoláveis, um álbum que demonstra o ápice artístico de Sufjan Stevens quando ele se despe de toda a sua produção e se apoia apenas no som atemporal do folk atmosférico.

Faixa essencial: Should Have Known Better

93. Chelsea Wolfe — Hiss Spun (Doom Metal)

Sargent House, 2017

“Hiss Spun” é seu trabalho mais pesado até o momento e sucessor natural de “Abyss” — enquanto naquele álbum tivemos uma influência de metal mais sutil, sempre á espreita, se mostrando apenas algumas vezes aqui e ali, em “Hiss Spun” essa influência é levada para o contexto do álbum inteiro, explodindo as guitarras e deixando-as proeminentes e cobrindo-o numa produção lodosa.

Faixa essencial: Scrape

92. Susanne Sundfør — Ten Love Songs (Art Pop, Synthpop)

Warner Music Norway, 2015

O fato que a ideia inicial da artista para esse álbum era “Ten Songs About Violence” e no meio do processo percebeu que escrevia canções de amor diz muito sobre ele — músicas que explicitam uma dor tão lancinante que resulta em violência emocional e até física contra outros e si própria — catarse condensada em sintetizadores fluorescentes e refrões intensos.

Faixa essencial: Kamikaze

91. Tim Hecker — Virgins (Ambient, Drone)

Kranky, 2013

Se o álbum anterior de Hecker mostrava um certo desespero na decadência, “Virgins” demonstra uma atmosfera embebida de um terror mais puro e cru — o medo instintivo e gutural, do escuro, de vultos, de barulhos estranhos vindo de locais aonde você não consegue identificar — aquele sentimento de ameaça constante e eminente que te deixa em estado de alerta, mesmo que desarmado e incapaz.

Faixa essencial: Live Room

90. Laura Marling — Once I Was an Eagle (Contemporary Folk)

Virgin, 2013

A mudança no seu estilo de composição e entrega é muito bem-vinda — adquirindo um tom mais verborrágico nas suas composições e uma forma de cantar mais intensa ao mesmo tempo que story-teller, “Once I Was an Eagle” representa uma maturação para Marling e flui de maneira impecável — sua primeira metade é uma obra-prima do folk.

Faixa essencial: Master Hunter

89. Andy Stott — Luxury Problems (Dub Techno)

Modern Love, 2012

Continua a distorção do dub por uma produção ameaçadora e desesperançosa, mas retira uma parte das camadas impenetráveis dos idiomas industriais para inserir influências mais melódicas e abertas, com vocais femininos suaves mais proeminentes que tornam a produção mais suave de início, mas que ainda persiste em seu tom desesperançoso e pulsante da música techno.

Faixa essencial: Lost and Found

88. U.S. Girls — In a Poem Unlimited (Psychedelic Pop, Art Pop)

4AD, 2018

Em seus singelos 37 minutos, “In a Poem Unlimited” se desdobra como um dos trabalhos mais puramente efusivos e ambiciosos da década e com um histórico e discografia mais lo-fi e discreta, Meg Remy se desabrocha como uma artista incrivelmente promissora — seu senso melódico é insuperável, sua produção pristina atinge seu ápice e sua voz, sensualmente atrativa, mas sinistramente desafiadora em pontos, fecha o álbum como uma obra consistente, instigante e recompensadora em todos os sentidos.

Faixa essencial: Velvet 4 Sale

87. Julia Holter — Ekstasis (Art Pop, Progressive Pop)

Rvng, 2012

Divisa estruturas mais convencionais que o seu antecessor, mas ainda é coberto por uma aura de surrealidade que transforma o caos artístico submergido de “Tragedy” em algo mais claro e primaveril, mas não menos intricado — “Ekstasis” é o passeio num jardim onírico com uma atmosfera roseada, um eterno labirinto etéreo.

Faixa essencial: Marienbad

86. Tim Hecker — Konoyo (Ambient, Electroacoustic)

Kranky, 2018

Com seu design sonoro perfeito e incríveis texturas, Konoyo deixa as canções com finais e conclusões mais abertas, ao invés de atingir um ponto final natural ou esperado, construindo imagens gigantes e deixando-as penduradas como entidades ameaçadoras que nos encaram no topo de sua escuridão majestosa — um trabalho estonteante e corajoso que não tem medo de empurrar a beleza para o meio da destruição e completamente abraçar um som mais dinâmico dentro do gênero.

Faixa essencial: Keyed Out

85. Kacey Musgraves — Golden Hour (Country Pop)

MCA Nashville, 2018

Músicas felizes e com um sentimento otimista, muitas vezes acabam soando até mesmo opressivas para quem não é tão feliz quanto elas, como se estivessem esfregando o quanto são felizes e nós não somos — no entanto, Kacey consegue transmitir através de suas canções um sentimento leve e imaculado de felicidade, uma felicidade com pinceladas de melancolia cotidiana, mas com uma abordagem suave e pristina, que nos faz querer estar em seu estado de espírito e acreditar nela mesmo que seja durante apenas os 45 minutos de duração do álbum.

Faixa essencial: Slow Burn

84. Caroline Polachek — PANG (Art Pop)

Columbia, 2019

“PANG” é capaz de canalizar ambas as excentricidades inventivas do som da PC music, mas também parece um álbum clássico pop em todos os frontes, misturando uma produção glitch e estética mais experimental com ângulos vocais emotivos e influências cristalinas do R&B moderno e derretendo tudo isso na forma de algo estonteante e por fim discreto em quanto estonteante é. Polachek é uma das principais razões disso para seu magnetismo, o carisma contido em sua voz se destaca tremendamente, espiralando com suas melodias pungente e letras cativantemente ornadas.

Faixa essencial: Door

83. Robyn — Body Talk (Electropop, Dance-Pop)

Konichwa, 2010

Sintetiza muito bem o final dos 00s/começo dos 2010s, Robyn entrega um gigante do pop com “Body Talk”, com um som mais esparramado por conta do álbum ser uma compilação de 3 lançamentos, ainda é capaz conter canções efervescentes e emocionalmente intensas, com uma produção inventiva e cristalina por toda sua duração, sem nunca deslizar.

Faixa essencial: Dancing on My Own

82. M.I.A. — /\/\ /\ Y /\ (Industrial Hip Hop)

N.E.E.T., 2010

M.I.A. na era da Internet — mais intensa, mais abrasiva e mais experimental — se “Kala” e “Arular” já provavam que a rapper era uma das artistas mais importantes do seu tempo, esse álbum vem para cimentar esse fato com uma produção fantástica, uma energia sem precedentes e uma entrega intensa de canções com uma produção tão caleidoscópica quanto ameaçadora.

Faixa essencial: Born Free

81. Shura — Nothing’s Real (Synthpop, Dance-Pop)

Polydor, 2016

Mais um álbum revivalista oitentista que apresenta a sonoridade na sua melhor forma — Shura canaliza a euforia agridoce do synthpop através de seu olhar, compondo canções que são intensas tanto na sinceridade piegas quanto na sua sonoridade efusiva e sintetizadores cristalinos.

Faixa essencial: What Happened to Us?

80. David Bowie — ★ (Art Rock)

ISO, 2016

Faixa essencial:

Um álbum que vai além da música e entra num âmbito completamente pessoal — o último trabalho que representa perfeitamente a carreira do artista que encarou a morte como mais um desafio para sua arte e a usou como ferramenta para a criação de algo catártico e intenso, é a simbiose da vida e arte, uma sendo combustível para a outra — a contemplação do seu legado ao mesmo tempo que a falta de medo de empurrar limites até mesmo nos seus últimos momentos de vida.

79. Beach House — 7 (Dream Pop, Neo-Psychedelia)

Sub Pop, 2018

“7” não foge tanto da sua zona de conforto, mas brinca ao redor da mesma um pouco, de maneira hipnotizante e marcante. É óbvia a contínua evolução da banda, através das melodias imaculadamente construídas apresentadas aqui — desde o novo som psicodélico que energiza a sua fórmula dream pop impecável, até as canções mais obscuras, com influências de música eletrônica e ambient. “7” é um testamento ao legado da banda — um quieto e discreto legado, mas um legado monumental que demonstra um poder de longevidade de uma banda realizada que encontrou seu próprio som e continua a explorá-lo perfeitamente por mais de uma década e que nunca soa cansada ou menos relevante.

Faixa essencial: Last Ride

78. Marissa Nadler — Strangers (Contemporary Folk)

Sacred Bones, 2016

Dando continuidade ao seu estilo de folk fantasmagórico, Marissa caminha em uma direção com uma estética e sonoridade mais próxima do gótico, com uma melancolia similar e composições ainda mais etéreas, com a ajuda da sutil inserção de guitarras em seu som. Em “Strangers”, Nadler cria um mundo próprio, que não te envolve completamente de primeira, mas se você deixar, quando menos esperar sua névoa obscura e densa já te absorveu por completo.

Faixa essencial: Katie I Know

77. Robyn — Honey (Dance-Pop, House)

Konichwa, 2018

O álbum de dance-pop que todos nos precisávamos, pega uma fórmula simples e se sobressai perfeitamente. É hedonista na mesma intensidade que é sensível, pega seu electropop típico da Robyn e o intensifica com a sutilidade da Ambient House e o ritmo idionsicrático da Deep House — com uma produção cristalina e ganchos pungentes, Robyn soa revigorada, diminuindo a quantidade de refrões grandiosos e produções bombásticas, amplificando a atmosfera da música house, tornando música dance em algo reluzente e emotivo.

Faixa essencial: Honey

76. Bat for Lashes — The Bride (Art Pop)

Parlophone, 2016

Um álbum conceitual que se atém completamente a trama que pretende delinear — Khan consegue traduzir de maneira musicalmente coesa a trágica história da noiva que perde o marido a caminho do altar e que entra numa saga sobrenatural de auto-conhecimento — mesmo o foco sendo total na história apresentada, a artista ainda consegue canalizar seus próprios sentimentos através de interpretações multi-dimensionais e cativantes através da narrativa direta com a sonoridade esparsa e etérea.

Faixa essencial: In God’s House

75. Anna von Hausswolff — Dead Magic (Neoclassical Darkwave)

City Slang, 2018

Faixa essencial: The Mysterious Vanishing of Electra

“Dead Magic” é um álbum dinâmico que explora todas as capacidades Anna von Hauswolff em sua máxima potencialidade — tanto nos seus vocais expressivos que não se envergonham de criar texturas desconfortáveis através de grunhidos, algumas quebras e uma respiração entrecortada, assim como na construção de canções que progridem de maneira coerente, mas ao mesmo tempo infernal e surpreendente — uma das experiências mais arrebatadoras da década.

74. Rosalía — El Mal Querer (Flamenco Pop, Art Pop)

Sony, 2018

“El Mal Querer” é uma obra prima sonora — produção exuberante com escolhas inteligentes que valoriza cada detalhe do álbum num pacote acessível, mas também desafiador no final das contas, empurrando os limites na música mainstream de maneira única, através de uma voz vívida e impositiva. Rosalía subverte tanto o tradicional flamenco quanto a música mainstream moderna numa incrível fusão que torna-a uma das artistas mais importantes da segunda metade da década.

Faixa essencial: Di mi nombre

73. Jessica Pratt — Quiet Signs (Contemporary Folk)

Mexican Summer, 2019

Faixa essencial: Aeroplane

Embora trabalhando com elementos similares, os sinais de evolução no som da artista são visíveis, um tom mais noturno é adicionado pelo estilo das composições, uma atmosfera mais psicodélica é intensificada pela adição sutil de instrumentos como flautas e mais camadas de poeira são sentidas sob essas canções, com um pouco de reverb e distorções, se alcança um estilo de folk etéreo ao empregar composições sessentistas acopladas com estilizações lounge e pianos sutis e sensibilidade clássica. Junto com a voz enfumaçada e elusiva de Pratt, “Quiet Signs” se torna um álbum monumental intricado, embora discreto, construindo a perfeita ambientação para divagar sua mente para fora da realidade.

72. Esben and the Witch — A New Nature (Post-Rock, Ethereal Wave)

Nostromo, 2014

O ápice da banda, pega todos os flertes com o apocalíptico dos seus trabalhos anteriores e os intensifica num trabalho completamente realizado em todos os aspectos — nos vocais profundos e multi-angulares, no trabalho de guitarra rasgante e textural e na atmosfera desoladora perfeitamente delineada.

Faixa essencial: No Dog

71. Tulipa — Efêmera (MPB)

YB, 2010

Melhor representante da dita “Nova MPB”, uma mesclagem natural das composições poéticas e esparsas da MPB com elementos do indie pop cria um álbum leve e puro na medida certa — com detalhes intricados na produção suave e a voz levemente idiossincrática de Tulipa, “Efêmera” é uma junção preciosa de melodias cativantes e ritmos inventivos que se transformam num álbum que transborda personalidade.

Faixa essencial: Às vezes

70. Jessie Ware — Devotion (Alternative R&B)

Island, 2012

Meio que cria um microcosmo próprio nesse espaço liminar que é aonde ele se coloca quando mescla essa abordagem de devoção romântica com uma atmosfera etereamente lasciva — esse paralelo é muito bem carregado por Ware, que balanceia bem sua interpretação entre ambos mundos e ajuda a criar essa realidade meio intoxicante que permanece por toda sua duração.

Faixa essencial: Running

69. Mount Eerie — A Crow Looked at Me (Contemporary Folk)

P. W. Elverum & Sun, 2017

Sentimentos, contexto e aspectos externos são essenciais para a nossa percepção de música (e da arte num geral) e esse álbum resume isso tudo. Phil Elverum em “A Crow Looked at Me” usa a música para seu propósito mais intenso e verdadeiro, a catarse emocional de seu autor, sem se importar com qualquer tipo de audiência.

Faixa essencial: Real Death

68. Candy Claws — Ceres & Calypso in the Deep Time (Shoegaze, Neo-Psychedelia)

twosyllable, 2013

Claustrofobia tropical. Com uma masterização brilhante, de maneira comprimida e distorcida para intensificar a densidade e aumentar a surrealidade da sua atmosfera e colocar o ouvinte no meio do labirinto que é a floresta úmida e tropical aonde a história do álbum se passa — história também borrada com o passar do álbum, que se torna um sonho lembrado pela metade, “Ceres & Calypso” é um dos álbuns de shoegaze mais instigantes e criativos da década.

Faixa essencial: Into the Deep Time

67. Daughter — Not to Disappear (Dream Pop)

4AD, 2016

Um álbum desconfortável que se apresenta na forma de uma realidade que muitos preferem ignorar — o catatonismo de uma pessoa deprimida, “Not to Disappear” representa perfeitamente as dificuldades da convivência com a depressão no dia-a-dia e como esse processo pode ser complicado para todos ao seu redor — e sua escolha por representar isso através de um dream pop letárgico e esparso só torna “Not to Disappear” um grande e pessoal vazio.

Faixa essencial: New Ways

66. Rhye — Woman (Sophisti-Pop, Smooth Soul)

Polydor, 2013

O álbum de estreia do Rhye não modificou alguma estrutura do seu gênero — discreto, rápido, frágil, agridoce, meio solitário e efêmeramente delicioso. A estética exuberante do R&B combinada com a produção melancólica e os vocais andróginos fazem de “Woman” um álbum forte, mas sutil. Uma viagem por diferentes gamas de paixões, mas com melodias sempre suaves, como um sussurro no ouvido.

Faixa essencial: Open

65. Angel Olsen — All Mirrors (Art Pop, Chamber Pop)

Jagjaguwar, 2019

O trabalho de alguém que se recusa a ser rotulada a uma coisa só, que sabe exatamente o que está fazendo e como deve fazer para chegar a seu objetivo — Angel Olsen traz tudo pra fora, intensificando o melodrama, adicionando arranjos de cordas robustos, tornando seu estilo de composição mais esparso e no processo cria um álbum pop impactante composto em precisão cirúrgica, ao mesmo tempo que soa extremamente confortável na sua mudança, ainda se permitindo ser catártica e divagante mesmo dentro dos arranjos épicos e exuberantes dessas baladas.

Faixa essencial: Lark

64. Torres — Sprinter (Indie Rock)

Partisan, 2015

Pega a angústia que é a alma dos anos 90 e a transforma em algo completamente introspectivo — absorvido em sua própria confusão, em sua própria dor, Torres cria um álbum intensamente pessoal, embebido numa névoa distante que o torna único em sua mágoa e intenso em sua raiva contida, mas dilacerante.

Faixa essencial: Strange Hellos

63. Laurel Halo — Dust (Ambient Pop, Art Pop)

Hyperdub, 2017

“Dust” é como um jogo, aonde um chão sólido que estava presente em baixo de seus pés se dissipa em segundos e você tem que saber quando pular para a próxima plataforma, calculando seus movimentos para não bater de cara em algum lugar, desafiador e incessante, Laurel Halo foi capaz de criar uma das experiências mais estonteantes e surreais de todo o ano.

Faixa essencial: Moontalk

62. Róisín Murphy — Hairless Toys (Art Pop)

PIAS, 2015

Uma das mentes mais criativas da música pop-eletrônica se reinventa mais uma vez — “Hairless Toys” se reveste de uma atmosfera mais repetitiva e mecânica através do Microhouse, mas que contém uma força emocional orgânica e pulsante por baixo da produção pingue-pongueante e noturna e dos elusivos e apáticos vocais de Murphy.

Faixa essencial: Exploitation

61. Jenny Hval — Apocalypse, girl (Art Pop)

Sacred Bones, 2015

Hval condensa toda a sua visão experimental em um trabalho espetacular — “Apocalypse, girl” mostra a artista despejando todos os seus pensamentos divagantes e desconcertantes sem nenhum filtro para o ouvinte — como alguém contando suas experiências sexuais num jantar em família — instigante, desconfortável e confiante por natureza.

Faixa essencial: The Battle Is Over

60. Kero Kero Bonito — Bonito Generation (Electropop)

Double Denim, 2016

Faixa essencial: Picture This

É interessante perceber a dualidade desse álbum — temos seu lado superficial, sendo um pop feliz feito por pessoas que amam a música pop e querem produzir algo criativo ao mesmo tempo que pegajoso, mas ao analisarmos o álbum num geral sob uma faceta mais cínica, percebemos que existe uma camada de melancolia que permeia toda a sua duração, o entusiasmo de Sarah Bonito parece quebrável se olharmos mais profundamente para além de suas atestações divertidas — o álbum definitivo para esconder a sua depressão, crise existencial e desmoronamento emocional através de música pop chiclete

59. Lykke Li — I Never Learn (Indie Pop, Singer/Songwriter)

Atlantic, 2014

Lykke deixa suas emoções e seus lamentos transbordarem a sua música, no entanto “I Never Learn” o faz de maneira condensada e crua que seus trabalhos anteriores, talvez de uma maneira mais cansada — como se estivesse exausto de transbordar e sempre recorrer a se indulgir em sua própria tristeza.

Faixa essencial: Love Me Like I’m Not Made of Stone

58. Andy Stott — Faith in Strangers (Deconstructed Club)

Modern Love, 2014

Se seu trabalho anterior distorcia o dub de forma mais abstrata através do Techno, “Faith in Strangers” volta as suas raízes mais industriais e vai ainda mais fundo nessa estética — constrói uma cidade cinza, mas complexa, de desespero mudo — a cidade se mantém imponente com seu silêncio desolador, enquanto suas engrenagens a mantém funcionando perpetuamente.

Faixa essencial: Violence

57. Lana del Rey — Ultraviolence (Dream Pop, Art Pop)

Interscope, 2014

Mantém a mesma essência da sua persona satírica, mas troca o glamour cinquentista decadente pela estética de sad girl hippie dos anos 70 — com guitarras psicodélicas mais proeminentes, uma produção mais orgânica e letras ainda mais deliciosamente absurdas e exageradas, “Ultraviolence” corporifica o dedo do meio que a artista mostrou para suas críticas durante sua estréia.

Faixa essencial: West Coast

56. Pharmakon — Abandon (Death Industrial)

Sacred Bones, 2013

Gutural e repulsivo — “Abandon” é música industrial em uma das suas formas mais intensas — os guinchos de Margaret ecoam juntos de uma noise wall disforme e aterrorizante e os soluços de terror soam em coro com os barulhos rasgantes, causando sensações ininterruptas de dor através do meio sonoro — música sensorial e miserável.

Faixa essencial: Ache

55. Marina & the Diamonds — The Family Jewels (Indie Pop, Art Pop)

679, 2010

Uma personalidade sincera e genuína — as composições, mesmo quando ingênuas, são brilhantes em conseguirem soar específicas, mas totalmente identificáveis ao mesmo tempo — a produção peculiar intensifica ao tom candidamente ácido, oferecendo uma mistura criativa de melodias idiossincráticas e refrões pop, com a voz distinta de Diamandis servindo como a cereja do bolo.

Faixa essencial: Are You Satisfied?

54. Lorde — Pure Heroine (Art Pop, Synthpop)

Universal, 2013

Em seu álbum de estreia, Lorde foi capaz de condensar todas as angústias de uma adolescente suburbana de maneira precisa e sincera — aquele ponto perfeito entre composições cheias de pessoalidades específicas que consegue se tornar identificável mesmo assim, acoplado com uma produção minimalista e cinza, que se encaixa na mistura de apatia e desespero adolescente.

Faixa essencial: A World Alone

53. Chelsea Wolfe — Ἀποκάλυψις (Gothic Rock, Ethereal Wave)

Pendu Sound, 2011

Condensa o sentimento do álbum de estréia de uma maneira bem mais focada, canaliza os sentimentos obscuros de forma mais potente, atingindo o alvo em cheio enquanto vaga por seus devaneios etéreos ou quando se assenta num tom ameaçador que se aproxima em espírito do metal, concentrando o poder de composição e entrega de Wolfe de maneira pungente.

Faixa essencial: Movie Screen

52. Vampire Weekend — Modern Vampires of the City (Indie Pop, Art Pop)

XL, 2013

Pega a fórmula do “Contra”, de um álbum pop com melodias criadas de maneira cirúrgica para soarem tão acessíveis quanto cerebrais, só que retira o tom ensolarado das suas influências e se trabalha com um material mais melancólico e introspectivo, com doses mais obscuras de sarcasmo, mas sem perder o tato fantástico para suas composições imaculadas.

Faixa essencial: Step

51. Lykke Li — Wounded Rhymes (Art Pop, Indie Pop)

LL, 2011

Um dos álbuns pop que mais abraçam sua miséria e a representam de maneira fidedigna e sincera — e mesmo assim, continua em sua patética tentativa de sentir algo no meio de toda essa miséria, evocando imagens pálidas de sentimentos e forçando-se a chorar a fim de sentir-se viva, criando dessa forma um álbum eficientemente devastador.

Faixa essencial: Sadness is a Blessing

50. Sky Ferreira — Night Time, My Time (Synthpop, Noise Pop)

Capitol, 2013

Capta o ponto convergente perfeito entre a cultura noventista e a cultura dos anos 2010s — misturando a angústia do grunge e misturando com o imediatismo atual, fazendo uma mistura inigualável entre um synthpop cristalino imerso em camadas de noise e feedback — um resumo perfeito da sua própria geração.

Faixa essencial: Boys

49. Lana del Rey — Norman Fucking Rockwell! (Art Pop, Singer/Songwriter)

Interscope, 2019

“Norman Fuckng Rockwell!” entra em cena como um tipo de culminação, posicionado no último ano da década, serve não como um encerramento para a Lana, mas um certo acordo consigo mesma. Olhando para trás e vendo o quanto caminhou e quanto foi melhorado, mas percebendo que embora você não esteja completamente feliz agora, talvez é assim que deva ser. Isso tudo é filtrado através dos seus melhores momentos musicais, empurrando a sonoridade dream pop do “Ultraviolence” dentro de um template singer/songwriter, repleto de pianos melancólicos que ocasionalmente desaparecem numa nuvem de psicodelia, trocando sua indiferença fatalista por uma abordagem mais terrena, embora ainda cinemáticas das cantautoras setentistas.

Faixa essencial: The Greatest

48. Pharmakon — Bestial Burden (Death Industrial)

Sacred Bones, 2014

Pega a repulsão magnética do seu álbum de estreia e expande conceitualmente sobre ela — expande sobre seu aspecto sensorial e a temática de body horror que permeava “Abandon” e estende-a de maneira melhor delineada, mas não menos aterrorizante — pelo contrário, entre gritos, soluços e tosses, “Bestial Burden” é uma amplificação do sentimento de angústia dilacerante que demonstra perfeitamente o terror embebido na falta de controle sobre seu próprio corpo e como nossa própria natureza pode nos trair de maneira tão terrível.

Faixa essencial: Intent or Instinct

47. Alvvays — Antisocialites (Indie Pop, Jangle Pop)

Polyvinyl, 2017

“Antisocialites” pode não estar trazendo algo inovador — mas quem se importa com isso quando temos composições tão fortes, melodias tão cativantes, produção tão pristinamente lo-fi e vocais tão apaixonados quanto os de Molly Harken? Quando cada palavra das letras ingenuamente afiadas são ditas com tanto charme? Quando as guitarras são tão jangly, agridoces e as músicas tão simples, mas tão incríveis?

Faixa essencial: In Undertow

46. Beach House — Bloom (Dream Pop)

Sub Pop, 2012

Tira “Teen Dream” do seu sonho agridoce e o acerta na cabeça com uma melancolia mais catártica — “Bloom” tem uma abordagem mais obscura e angustiada ao Dream Pop, ao mesmo tempo que mantém a camada de surrealidade que eleva as composições pungentes e as melodias afiadas, transformando-o na montanha-russa de emoções mais intensa da banda.

Faixa essencial: New Year

45. Hannah Diamond — Reflections (Bubblegum Bass, Electropop)

PC Music, 2019

Contém uma sensibilidade sem paralelos em sua maneira de abordar solidão no mundo tecnológico moderno de uma forma aperfeiçoada por Hannah desde a sua estreia — pegando temas existencialistas e sobre perda de identidade e canalizando-os por canções de amor acopladas com um estilo gélido de bubblegum bass, numa mistura pristina da euforia efervescente do gênero e as texturas congelantes que transformam essa euforia num globo de neve frágil e então alinhando essas faixas num álbum só, intensificando seu impacto e nos atingindo como uma rocha.

Faixa essencial: Fade Away

44. Metá Metá — MetaL MetaL (Vanguarda Paulista)

Desmonta, 2012

Uma potência que só encontramos nesse país maravilhoso que é o nosso Brasil — a intensidade religiosa por trás das composições tem sua força amplificada pelas estruturas quebradas e arranjos levemente atonais que constroem uma polifonia carregada pela força da natureza que é a voz de Juçara Marçal, uma experiência única.

Faixa essencial: Man Feriman

43. Marissa Nadler — July (Contemporary Folk)

Sacred Bones, 2014

Levemente assombrado, soa como se um espírito que ainda não conseguiu se libertar do plano terrestre continuasse vagando melancolicamente por casas vazias. Nadler atinge o ápice da sua melancolia fatasmagórica em “July”, com composições ainda mais fortes e com uma atmosfera etérea ainda mais intensa, ela se transmuta em um fantasma que paira desesperançosamente sobre sua música.

Faixa essencial: Drive

42. FKA twigs — MAGDALENE (Art Pop, Glitch Pop)

Young Turks, 2019

Mais que uma evolução, “Magdalene” é o refinamento do som de FKA twigs — o alinhamento perfeitamente calibrado da natureza mecânica da música eletrônica, a experimentação alienígena distante e o magnetismo imediato que é tão intrínseco a natureza humano. Se em seus trabalhos anteriores a cantora demonstrava uma submissão obsessiva, “Magdalene” vê FKA twigs não mais entorpecida em relação a sua dor, mas sim tomando um partido, reconhecendo seus aspectos devastadores e se empurrando para frente, se construindo de sua fraqueza e no processo criando um trabalho estonteante através de suas cinzas.

Faixa essencial: Home with You

41. Grimes — Visions (Synthpop)

Arbutus, 2012

Uma culminação mais encorpada e sólida dos seus trabalhos anteriores — Grimes acerta a atmosfera perfeita, entre o futurista e o onírico, o sentimental e o mecânico e cria em “Visions” o ponto alto da sua visão musical e estética — sintetizadores etéreos complementam sua voz idiossincrática e se juntam para canções maleáveis e levemente abstratas, mas eternamente cativantes.

Faixa essencial: Genesis

40. Lingua Ignota — Caligula (Neoclassical Darkwave, Death Industrial)

Profound Lore, 2019

“Caligula” soa como a vingança calculada que ela infligiu em seus abusadores — enquanto em “All Bitches Die” ela estava colocando para fora todos os seus pensamentos sombrios, “Caligula” põe esses pensamentos em prática. As passagens mais ambient e os momentos mais sutis destacam esse intento, abrindo o álbum com uma afirmação ameaçadora, um assustador calafrio na espinha, um prelúdio momentos antes dela abaixar seu machado no pescoço do seu traidor na segunda faixa e essa dinâmica é vista por todo o álbum.

Faixa essencial: Do You Doubt Me Traitor

39. St. Vincent — St. Vincent (Art Pop, Art Rock)

Loma Vista, 2014

Serve de culminação para tudo que a artista fez até agora — também é um trabalho calculado perfeitamente, que você consegue perceber as engrenagens da mente brilhante por trás disso funcionando e encaixando cirurgicamente suas partes — o balanço perfeito entre a experimentação instigante que não aliena os fãs e uma acessibilidade que permite-a expandir seu público.

Faixa essencial: Birth in Reverse

38. Florence + the Machine — How Big, How Blue, How Beautiful (Art Pop)

Island, 2015

Florence em mais uma dose do seu melodrama que busca sentir mais para uma experiência mais intensa de catarse — mas aqui, o sentimento é mais cru, o que em “Ceremonials” era revestido por um ligação obscura de magia, aqui as cordas arrebentam e a artista permite se esparramar descontroladamente de maneira mais realista e contundente, mas não menos grandiosa.

Faixa essencial: Delilah

37. Janelle Monáe — The ArchAndroid (Art Pop, Contemporary R&B)

Bad Boy, 2010

Totalmente psicodélico por natureza, “The Archandroid” emprega diversos elementos do rock, pop, R&B e jazz e os misturam num caleidoscópio próprio, moldando-os a partir de sua narrativa instigante e a energia única de Monáe, nos levando numa aventura com arestas bem definidas e uma visão futurista magnifica.

Faixa essencial: Dance or Die

36. Kelela — Take Me Apart (Alternative R&B, UK Bass)

Warp, 2017

“Take Me Apart” é uma viagem, uma vulnerável, frágil e emocional viagem, ao mesmo tempo que misteriosa e imersiva. “R&B noventista do ano 3000” — tem aquela sensação clássica da Janet Jackson, mas apresentada com uma visão e produção futurista — esse não é o presente, é o futuro do pretérito do R&B.

Faixa essencial: Blue Light

35. Grimes — Art Angels (Electropop, Synthpop)

4AD, 2015

Um frenesi de música pop que é a combinação perfeita para quando você quer sentir tudo ao mesmo tempo — melancolia, euforia, raiva, sarcasmo, nostalgia, tudo — tem essa atmosfera que suga toda a energia do ouvinte de maneira exultante e catártica — uma explosão que vai direto para os receptores de dopamina do nosso cérebro.

Faixa essencial: Kill V. Maim

34. Florence + the Machine — Ceremonials (Art Pop)

Island, 2011

A síntese do melodrama — sempre querer sentir mais do que deveria estar sentindo para experienciar a catarse — com a sonoridade obscurecida com influências do darkwave e metáforas religiosas complicadas, tudo em “Ceremonials” é deliciosamente exagerado, uma torrente de emoções explosivas intensificadas por uma voz e composições exuberantes.

Faixa essencial: What the Water Gave Me

33. Beach House — Depression Cherry (Dream Pop)

Sub Pop, 2015

Um dos trabalhos mais introspectivos da dupla — a sonoridade aqui é mais sonolenta, mais minimalista, trabalhando na zona de conforto da banda, mas expandido sua paleta sonora etérea — as melodias cintilantes complementam a atmosfera aveludada e reflexiva, fazendo com que o álbum represente um tom mais maduro em contrapartida ao jovial “Teen Dream”.

Faixa essencial: Days of Candy

32. Natalia Lafourcade — Musas, Vol. 1 (Nueva canción latinoamericana)

Sony Latin, 2017

“Musas” não falha nunca em me fazer sentir confortável ou colocar um sorriso em meu rosto através da sua voz suave, a beleza do idioma espanhol e as melodias convidativas, com aquele irresistível toque de bolero. Natalia foi fiel as suas raízes, mas temperou-as com sua personalidade, dando um sentido e objetivo para o álbum além de mero saudosismo.

Faixa essencial: Soledad y el mar

31. iamamiwhoami — kin (Art Pop, Electropop)

To whom it may concern, 2012

O ponto aonde o projeto iamamiwhoami foi mais bem sucedido — encapsula uma visão extremamente concisa do que quer fazer e a executa com uma maestria estonteante — desde a rastejante faixa de abertura até a euforia exuberante da faixa que fecha o projeto, somos levados por uma aventura etérea com seus altos e baixos através dos sintetizadores oníricos e o vocal único de Jonna que refletem uma narrativa bem divisada, que funciona mesmo sem os vídeos para acompanhar.

Faixa essencial: sever

30. Angel Olsen — MY WOMAN (Indie Rock)

Jagjaguwar, 2016

Com uma ambição maior que em seus álbuns anteriores, Angel Olsen amplifica o melodrama através de diversos elementos de muitas eras musicais — a voz empoeirada e melancólica remetendo a cantoras sessentistas, os refrões épicos do pop rock setentista, a polidez oitentista, o tom confessional noventista e a produção do indie rock moderno, fundindo todos esses elementos num trabalho que expande as suas facetas musicais e dá novos ângulos a sua voz perfurante e o seu senso de composição atemporal, tanto nas canções mais diretas da primeira metade quanto nas ruminações mais atmosféricas da segunda metade do álbum — “MY WOMAN” nos apresenta uma artista bem sucedida e bem articulada em todos os aspectos da sua música.

Faixa essencial: Woman

29. Kero Kero Bonito — Time ’n’ Place (Twee Pop)

Polyvinyl, 2018

“Time ’n’ Place” é uma explosão de sentimentos em forma de álbum, uma explosão sem filtros num tom quase auto-depreciativo, mas consciente de seu próprio estado mental, aceitando suas crises e tomando o controle, mesmo que seja para uma ocasional explosão desgovernada. “Time ’n’ Place” é agridoce assim como é catártico, ganchos deliciosos se tornam ainda mais estelares através de linhas de guitarra twee fantásticas e explosões de sintetizadores barulhentos que floreiam ainda mais as canções — uma experiência fantástica e viciante que soa tão importante quanto nunca, um retrato direto da depressão através dos olhos de alguém que tenta lidar com isso da melhor maneira que pode, incluindo berrar sobre o quão miserável é através de uma sonoridade indie pop noventista

Faixa essencial: Only Acting

28. Kate Bush — 50 Words for Snow (Ambient Pop, Art Pop)

Fish People, 2011

Servindo como o inverno do verão de “Aerial”, Kate Bush expande seu lado atmosférico em um álbum gélido e que captura perfeitamente a sensação do frio, com uma produção vítrea que amplifica suas melodias cristalinas e intensificam a surrealidade de suas composições excepcionais.

Faixa essencial: Snowflake

27. SOPHIE — OIL OF EVERY PEARL’S UN-INSIDES (Deconstructed Club, Bubblegum Bass)

Future Classic, 2018

O som da libertação de uma pessoa em relação a suas amarras sobre gênero, rótulos, expectativas e papéis, soa como algo que conforta ao mesmo tempo que confronta, te empurra para frente por provocar auto-liberação, borrando a linha do “gênero” em algo irrelevante e imaterial enquanto tornando-o como algo ainda mais importante de ser discutido.

Faixa essencial: Whole New World / Pretend World

26. Jessica Pratt — On Your Own Love Again (Contemporary Folk)

Drag City, 2015

Existe algo meio sobrenatural permeando esse álbum — algo que o torna estranhamente atemporal, perdido entre a voz enevoada e distante de Pratt, as composições que borram a linha entre abstração e terreno e a sonoridade acústica solitária e estonteantes sem grandes esforços — isso tudo torna “On Your Own Love Again” como uma obra primeiramente aconchegante, mas perturbadoramente devastadora em essência.

Faixa essencial: Strange Melody

25. Charli XCX — Pop 2 (Electropop, Bubblegum Bass)

Asylum, 2017

Charli está basicamente construindo seu próprio império e “Pop 2” talvez seja seu trabalho definitivo. A produção de A. G. Cook é detalhada e vívida, as melodias plásticas saltam através dos tons coloridos e repetitivos, unidos pela performance de XCX e suas melodias vocais hipnotizantes, numa demonstração incrível da essência hedonista pop com a intensidade de uma produção mais experimental ao mesmo tempo que consegue enganchar uma emotividade robótica, mas pungente.

Faixa essencial: Track 10

24. Paramore — After Laughter (New Wave, Alternative Dance)

Fueled by Ramen, 2017

“After Laughter” serve como a afirmação definitiva da frase “Paramore is still a band”. Você consegue sentir o compromisso e a sinceridade que eles colocaram aqui, toda a banda se engajou em sua produção, isso é visto nos detalhes da produção, nos vocais enérgicos de Hayley e nas letras diretas e incisivas, além do contraste forte entre sonoridade colorida e alegre com as letras sobre depressão

Faixa essencial: Hard Times

23. 青葉市子 — 0 (Contemporary Folk)

Speedstar Int’l, 2013

Não existem muitas palavras para descrever “0” — mas quando um álbum consegue conjurar e evocar imagens tão exuberantes, tão complexas, mas ao mesmo tempo pacíficas e cristalinas de uma forma magnífica como ele consegue, não há muito o que falar mesmo. Melodias acústicas e melodias vocais tão pristinas e brilhantes acopladas a algumas field recordings criam um estado de sono profundo aonde o seu sonho é populado por uma brisa leve e raios leves de sol, aonde você não consegue distinguir faces ou formas específicas, mas ainda assim se sentir absolutamente confortável enquanto sua pele percebe o calor e o aconchego do sonho. Único em sua absoluta maestria em compor canções tão surreais, mágicas e hipnotizantes com a pura simplicidade de uma voz e violão.

Faixa essencial: いりぐちでぐち

22. Chelsea Wolfe — Pain is Beauty (Darkwave)

Sargent House, 2013

Em “Pain Is Beauty”, Wolfe refina o seu som através de uma visão mais concisa e direta — transformando seu rock gótico em um darkwave gélido pela inclusão de uma produção mais eletrônica, com vocalizações etéreas em uma abordagem mais atmosférica que nunca, “Pain Is Beauty” traz um tom mais distante para a música de Wolfe, mais presente em uma dimensão onírica congelada, com soundscapes mais exuberantemente obscuras que a floresta úmida dos seus álbuns anteriores, trazendo consigo composições mais complexas que favorecem a atmosfera encapsulante.

Faixa essencial: The Waves Have Come

21. Lorde — Melodrama (Synthpop, Art Pop)

Universal, 2017

Lorde fez o que ela teve que fazer — expandiu seu som e suas composições, mas mantendo a mesma essência e dessa forma soando inescapavelmente Lorde. Ela pegou todas as inseguranças enfrentadas na adolescência e sua performance blasé e indiferente do seu álbum de estréia e explodiu tudo isso em pura catarse juvenil.

Faixa essencial: Perfect Places

20. FKA twigs — LP1 (Art Pop, Alternative R&B)

Young Turks, 2014

Permanece sendo um dos álbuns mais inventivos e emocionalmente crus do R&B moderno — canalizando seus anseios, seus desejos, suas necessidades emocionais e seus inevitáveis machucados dessa devoção intensa através de uma aura de sensualidade etérea que se funde com uma cacofonia polida, intensificando o sentimento de isolamento emocional e de uma intensidade que se queima sem nenhum espectador.

Faixa essencial: Lights On

19. Mitski — Puberty 2 (Indie Rock)

Dead Oceans, 2016

Em “Puberty 2”, Mitski consegue canalizar os sentimentos de apatia, insegurança e pressão social tão proeminentes e amplamente discutidos da “segunda puberdade”, os 25–29 anos, aonde a animação da primeira puberdade com sua inocência e planos para o futuro são esmagados pela dura realidade da vida adulta — Mitski pega essas temáticas constantes no indie rock e as apresenta sob um ponto de vista diferente e único a si mesma, com seus vocais apáticos e indiferentes, ela explode em canções repletas de solidão tanto nas suas letras existencialistas quanto nos tons de guitarras ora etéreos ora esmagadores — “Puberty 2” é uma das experiências e um dos álbuns de rock mais catárticos recentes, trazendo um fôlego novo ao gênero não de maneira bombástica e experimental, mas ao fazer algo relevante com elementos conhecidos, se encaixando como uma luva nas angústias dos jovens-adultos dessa década.

Faixa essencial: Your Best American Girl

18. The Caretaker — An Empty Bliss Beyond This World (Ambient, Turntable Music)

History Always Favours the Winners, 2011

A última pessoa do mundo sentada em um restaurante com as luzes fracas ouve um barulho de voz vindo da cozinha. Nada supera a sensação de desolação, de isolamento mental e de surrealidade fantasmagórica que esse álbum proporciona. Inigualável e insuperável em seu poder de invocação de imagens através de samples empoeirados, cria um mundo esmaecido próprio dentro da nossa realidade passada, de maneira distorcida e embaçada.

17. Joanna Newsom — Have One on Me (Chamber Folk, Progressive Folk)

Drag City, 2010

Duas horas ininterruptas de composições complexas, repletas de momentos marcantes, uma produção dinâmica que destaca os elementos prístinos das canções guiada por um senso melódico imaculado e por uma voz agridoce que demanda pela sua atenção — Um testamento ao talento de Newsom que a solidifica como uma das maiores compositoras do século.

Faixa essencial: Have One on Me

16. Grouper — Ruins (Singer/Songwriter, Ambient)

Kranky, 2014

Desconcertante no quão íntimo soa, Liz Harris assume o seu lado cantautora ao se despir de todas as camadas dos seus álbuns anteriores, criando um álbum que é o equivalente musical a aquele suspiro cansado que você dá enquanto está sentando estaticamente no escuro do seu quarto as 4 da manhã após uma crise de ansiedade que te deixou desesperançosamente vazio e entorpecido. O bipe do micro-ondas aparecendo abruptamente no meio do álbum ainda dói toda vez.

Faixa essencial: Clearing

15. Carly Rae Jepsen — E•MO•TION (Dance-Pop, Synthpop)

Interscope, 2015

Um daqueles álbuns especiais, que conseguem capturar o sentimento único de que todo o sentido do mundo poderia caber num momento só que situações como assistir a queima de fogos na noite de Ano Novo nos dá — aquele sentimento puro de euforia e sentimentalismo que só a música pop e seus refrões ultra-polidos e imediatismo podem nos proporcionar — aquela intensidade filtrada que ainda assim soa como uma intensidade sem cortes, a vida toda dentro de uma melodia vocal excepcional.

Faixa essencial: Warm Blood

14. Björk — Vulnicura (Art Pop, Glitch Pop)

One Little Indian, 2015

O álbum em que Björk expõe todas as suas feridas da maneira mais catártica possível — detalhando a intimidade do seu casamento, o seu rompimento gradual e doloroso e todos os seus sentimentos ao longo desse caminho da maneira mais minuciosa, real e intensa possível — um álbum que explicita uma dor lancinante que vem com a perda de confiança, da confusão de se sentir perdido após um término e a falta de esperança para a própria família, envolvidos em uma produção atmosférica densa e levemente quebrada que representa todo o luto da artista, que transforma “Vulnicura” no velório do próprio casamento, assim como seu processo de cura.

Faixa essencial: Stonemilker

13. Julia Holter — Have You in My Wilderness (Art Pop, Chamber Pop)

Domino, 2015

O álbum pop de Julia Holter no sentido que a artista escolheu compor deliberadamente letras e melodias sob estruturas mais convencionais, usando menos a abstração dos seus álbuns anteriores — o resultado é um trabalho mais convidativo, com sua atmosfera ensolarada e seu tom de storyteller mais baseado no significado das palavras que no significado dos sons, se tornando algo confortável e genuinamente envolvente — o que não mudou foi a capacidade de Holter de evocar as emoções mais profundas com seus vocais multi-angulares e seus arranjos repletos de camadas que dão a “Have You in My Wilderness” uma miríade de elementos que constroem algo tão elusivo quanto seus trabalhos mais experimentais.

Faixa essencial: Betsy on the Roof

12. Chelsea Wolfe — Abyss (Darkwave, Gothic Rock)

Sargent House, 2015

Chelsea Wolfe se desassociando de qualquer característica terrena e se afundando completamente no terreno do surreal — criando um álbum que reflete a experiência de paralisia do sono, a artista intensifica suas influências de metal e as mescla com seu darkwave denso e lamacento, criando uma camada musical de textura densa e sufocante, que não se censura em criar contrastes entre o calmo e o agressivo, que abruptamente tira o ouvinte de um transe para jogá-lo no meio do caos. Incorporando como uma entidade abstrata, Wolfe se apresenta em “Abyss” composições entrecortadas, palavras aleatórias que parecem alucinadas e que intensificam esse estado claustrofóbico de sonho-pesadelo e criam a atmosfera impecável para o mesmo, imergindo quem o ouve numa experiência sensorial cativante, como um terror psicológico, representando uma queda livre e espiralada até o fundo invisível do abismo.

Faixa essencial: Carrion Flowers

11. Angel Olsen — Burn Your Fire for No Witness (Indie Folk)

Jagjaguwar, 2014

Assim como a maioria dos meus álbuns favoritos, é um álbum que simplesmente me entende e que fala comigo em praticamente todos os níveis — que compreende o sentimento confuso inerente ao ciclo de apatia a vida, que causa ansiedade intensa que culmina em mais apatia e assim por diante — que compreende o quão torturante é lutar contra o instinto natural de dar sentido a própria vida quando você quer apenas se aceitar como uma crise existencial ambulante — é conforto para quem não consegue encontrar um foco e o cérebro te tortura tentando posicionar sua visão para algo concreto sem sucesso — tudo isso canalizado pela voz rouca e apática de Olsen, que ecoa até nos hipnotizar por seu ritmo constante e então prover um fôlego ao energizar suas canções folk-country com fagulhas de esperança, que quebra nosso transe e nos leva de volta a realidade não totalmente revigorados, mas com uma certa percepção inconsciente que nos permite continuar por mais um dia, ao nos ensinar a abraçar a apatia como catalisadora de entusiasmo.

Faixa essencial: White Fire

10. Beach House — Teen Dream (Dream Pop, Indie Pop)

Sub Pop, 2010

Um sonho misticamente melancólico de um verão enevoado e longínquo, camadas e mais camadas de melodias que evocam uma inocência agridoce misturada com um efêmero sentimento de euforia romântica. Um dos álbuns mais importantes da década por simplesmente construir uma paisagem impecável através de texturas intrincadas que preenchem os ouvidos numa das experiências mais completamente oníricas que já ouvi.

Faixa essencial: Silver Soul

09. Fiona Apple — The Idler Wheel Is Wiser Than the Driver of the Screw and Whipping Cords Will Serve You More Than Ropes Will Ever Do (Art Pop, Singer/Songwriter)

Clean Slate, 2012

A honestidade mais brutal da década — um álbum composto de pequenos momentos — uma pequena idiossincrasia vocal, um forma de pronunciar uma palavra, um elemento ao fundo, uma explosão maior , etc. — que se ligam e que se amplificam quando conectados, formando um desenho intricado entre as composições emocionalmente complexas, que se espiralam, se entrelaçam e cambaleiam, acompanhados de uma Fiona Apple que tem muito a dizer, mas que atropela suas próprias palavras ao vomitar o que tem preso em si — um trabalho emocionalmente experimental, que se despe de melodias mais óbvias em detrimento de arranjos minimalistas provocantes, inferindo cortes lancinantes que passam imperceptíveis de primeira, até você perceber que está todo dilacerado.

Faixa essencial: Every Single Night

08. Susanne Sundfør — Music for People in Trouble (Art Pop, Singer/Songwriter)

Bella Union, 2017

Um ensaio sobre a solidão e como abraçá-la, encontrar esperança nela e conviver com ela como uma companhia permanente e não como um fardo. Solidão como forma de conforto e estilo de vida — esse sentimento é bem representado pela justaposição de canções levemente esperançosas e canções simplesmente esmagadoras por sua aura de pesar e desistência como. Sua voz quebrada e a produção latente contribuem para esse clima ermo e sombrio do álbum, enquanto as canções são quebradas e interrompidas por uma passagem de drone ou jazz, muitas vezes deixando pensamentos e frases pela metade, incompletas, acentuando ainda mais a sensação de não-importância da vida num geral. “Music for People in Trouble” soa perdido em sua própria floresta de sonhos e não parece querer deixar o conforto do seu próprio frio, a existência em si não parece importar, objetivos para nossa vida não parecem importar — um álbum de superação, não por mensagens positivas e pela esperança de um futuro melhor, mas sim pela aceitação do vazio e da nossa falta de controle sobre nossa própria existência num geral.

Faixa essencial: Bedtime Story

07. Weyes Blood — Titanic Rising (Baroque Pop)

Sub Pop, 2019

Um microcosmo próprio hermético, composto de pensamentos, divagações, ilusões, esperanças, angústias e crenças submergido em galões de melancolia e nostalgia — “Titanic Rising” é tal microcosmo, composto das divagações submergidas da mente de Natalie Mering, ajustado nas expressões do pop setentista, o álbum soa como uma versão alternativa a década, com seu senso estético de esperança etérea, mas posicionados por uma visão milenial moderna mais pessimista — e nessa justaposição, é aonde vem o seu trunfo, com os arranjos de corda exuberantes e as tonalidades confortáveis das guitarras do soft rock, Mering cria aqui uma sonoridade completamente aconchegante e convidativa, criando a sua própria zona de conforto para então confrontá-la com questionamentos existenciais, perda da crença, escapismo auto-destrutivo, solidão humana no mundo moderno e claro, a sombra da mudança climática. “Titanic Rising” é a submersão na fantasia, o envenenamento da própria, a crise de ansiedade causada por isso e então a tentativa de se empurrar para fora da fantasia tentando melhorar, enquanto ainda retendo alguns elementos da mesma para não se render a realidade completamente — tudo enrolado em uma sonoridade tão impecavelmente arranjada, com cada canto afiado perfeitamente e cada acorde cirurgicamente construído, que esconde toda a confusão mental contida no álbum, ironicamente servindo como a válvula de escape perfeita.

Faixa essencial: Andromeda

06. The Caretaker — Everywhere at the End of Time Stages 1–6 (Dark Ambient, Drone)

History Always Favours the Winners, 2016-2019

Um projeto trabalhado e lançado pelo curso de 4 anos, contendo os seis estágios que representam o gradativo esmaecimento e deterioração da memória — ao lentamento matar seu próprio pseudônimo, Leyland Kirby criou um trabalho poderoso sobre a efemeridade da vida e a nossa insignificância em relação a forças exteriores a nós, ao mesmo tempo que valoriza ainda mais nossas experiências individuais como algo que nos torna único e valida nossa existência, em suas seis horas de duração — ao longo de cada estágio você se percebe perdendo a sanidade pouco a pouco, partindo do cândido primeiro estágio com seus samples cristalinos e bem divisados, com apenas uns ameaçadores cliques e arranhões que dão um tom melancólico e a partir dele tudo vai se dissolvendo e ficando mais fragmentado até virar um monólito de drone e ruídos que se amontoam em faixas de 20 minutos com momentos de clareza cada vez mais esparsos, marchando cada vez mais para o centro do buraco negro, aonde tudo irá se dissipar numa nota deprimente, mas por fim com um certo tom de esperança e clareza em meio ao caos — uma obra devastadora em premissa e extremamente bem sucedida em transmitir esse sentimento através do refinamento da técnica trabalhada por Leyland Kirby desde o início do projeto, atingindo seu ápice e se auto-destruindo no processo da maneira mais gloriosa, intensa e claustrofóbica possível.

05. Julia Holter — Aviary (Progressive Pop, Experimental)

Domino, 2018

“Aviary” é música em seu aspecto mais corajoso e importante — é tradução de sentimentos, tradução de uma mensagem, tradução da forma que você quer se comunicar com o mundo e ao mesmo tempo é abrigo de toda comunicação, é a retirada de qualquer mensagem, uma quebra de todos os sentimentos barulhentos que martelam sua cabeça. É o nosso mundo e um escape do nosso mundo — não resolve o caos de nossas almas, mas nos dá conforto através de texturas sonoras, palavras abafadas, composições extraordinárias e um senso de liberação através de paisagens sonoras. “Aviary” é capaz de soar grandioso ao apenas ser, sem a pretensão de se tornar algo.

Faixa essencial: Words I Heard

04. Joanna Newsom — Divers (Chamber Folk)

Drag City, 2015

Trabalhando com o conceito de tempo, repetição e conexão de uma maneira quase impenetrável, “Divers” representa 11 histórias desconexas que recontam sentimentos similares de deslocamento temporal— elas vão se mostrando cada vez mais conectadas em um ciclo e que formam uma paisagem única, que contam uma história única por partes separadas. Em “Divers”, Newsom exerce sua mágica musical uma quarta vez e soa cada vez mais complexa, apesar das melodias ornadas parecerem mais acessíveis — contando histórias que trespassam o conceito de tempo, ela adiciona uma pitada de realismo mágico nelas, invocando o surreal e o misturando com o urbano, com o cotidiano, adicionando camadas mais densas nos contos existencialistas através de referências que vão construindo uma teia entre as canções, num tipo de álbum “hyperlink”, criando assim um caleidoscópio de pequenos contos que lamentam, celebram, questionam e denunciam o mesmo conceito: a relação do amor e o tempo, ou do amor através do tempo. Com sua incomparável habilidade de criar cenários e personagens complexos em suas composições, seus vocais inigualáveis e cada vez mais encorpados para máximo efeito e uma orquestração mais maximalista, “Divers” é mais uma pérola que cimenta Newsom como uma das artistas centrais desse século, mas que além disso, que é capaz de transformar suas composições intricadas em algo pessoal, tocante e que evoca emoções e sentimentos através de sua delicada harpa e melodias douradas, Newsom escava com sua voz o nosso âmago e traz com cada sutil enrolar de sílabas sentimentos enterrados lá no fundo, trazendo-os a tona por uma simples pronunciação mágica, transcendendo o tempo e as suas barreiras assim como as histórias presentes nesse álbum.

Faixa essencial: Sapokanikan

03. Grouper — A I A : Dream Loss / Alien Observer (Ambient)

Kranky, 2011

“Dream Loss” te apresenta um mundo enevoado, aonde não há uma visão clara de tempo e lugar, coberto por um drone ameaçador e simples murmúrios para além dele — estar debaixo de um lago congelado — então “Alien Observer” chega e é como se alguém quebrasse aquele vidro que estivesse te impedindo de sentir o mundo e agora você é capaz de sentir tudo se desdobrando lentamente em sua volta, primeiros os sentimentos mais melancolicamente perfurantes, se descongelando pelas faixas até você sentir a primeira pontada de euforia — o resto, é por sua conta.

Faixa essencial: Alien Observer

02. Julia Holter — Loud City Song (Art Pop, Ambient Pop)

Domino, 2013

Embebido num tom urbano-surrealista, “Loud City Song” é um dos álbuns mais evocativos que já ouvi — cada nota tocada, cada elemento, cada vocalização, cada efeito e instrumentos estão em sincronia perfeita, evocando imagens de solitude, caos e paranoia presentes em uma cidade grande sob um véu de apatia surreal que o transforma numa experiência única e estranhamente intensa — Holter foi capaz de alcançar um balanço impecável entre o experimentalismo abstrato e uma acessibilidade confortável, submergindo o ouvinte em uma aventura aparentemente simples, mas que viaja e transiciona por uma miríade de estímulos sensoriais e é ainda capaz de manter uma linearidade conceitual envolvente.

Faixa essencial: Maxim’s II

01. Goldfrapp — Tales of Us (Art Pop, Chamber Folk)

Mute, 2013

Tão absurdamente perfeito que chega a ser injusto — a atmosfera contida aqui é capaz de penetrar profundamente na minha alma e me retirar completamente da realidade — tudo soa alinhado e calibrado para favorecer ao máximo essa camada de sonho que desliza entre vários estados, entre o calmo e enevoado, a um sonho lúcido a um pesadelo mais intenso — cada música é uma entidade separada, aonde Alison assume uma personalidade e abordagem diferente, de maneira sutil, mas pungente e extremamente cativante — ela consegue incorporar todas as dores, angústias, melancolias e com a maestria de uma atriz consegue externar tudo que se passa na vida desses personagens atormentados. Tudo no álbum colabora para essa atmosfera cinematográfica — a produção soturna que pincela tons noir nas canções, a masterização dinâmica que sabe combinar os volumes dos instrumentos e intensificar o suspense embebidos nelas, criando uma aura impecável de um filme, com introdução, clímax e conclusão divisados de uma maneira embasbacante. A combinação natural do orgânico com o eletrônico, que ajuda a deslizar o tom de surrealidade neblinada ao palpável de maneira sutil. As letras que adotam um estilo storyteller para explicitar sua narrativa de maneira compressível, mas que mescla esse estilo com composições e passagens mais enigmáticas, para deixar a trama pairando no ar e injetando-as uma dose deliciosa de subjetividade. E para além disso tudo, “Tales of Us” é música que excita, que cativa e que te transporta para dentro das imagens que evocam, ativando uma parte do seu cérebro que o faz analisar cada um dos seus detalhes, mesmo com a sua atmosfera soturna e aparentemente discreta — é música viva, que não só tem algo para dizer, mas sim algo para você ver e sentir — uma amalgama de tudo que me faz gostar de música e uma escolha perfeita para meu álbum favorito.

Faixa essencial: Annabel

MELHORES EPs:

Self-Released, 2015

50. Metá Metá — EP (Art Punk)

Faixa essencial: Atotô

Petroleum, 2015

49. AURORA — Running with the Wolves (Art Pop)

Faixa essencial: Runaway

Self-Released, 2017

48. La Favi — Reir & Llorar (Reggaeton)

Faixa essencial: Tu y yo

True Panther, 2016

47. Kelsey Lu — Church (Chamber Folk, Art Pop)

Faixa essencial: Dreams

Self-Released, 2016

46. Bad Gyal — Slow Wine (Reggaeton)

Faixa essencial: D Way You Do Me

Bathetic, 2010

45. Angel Olsen — Strange Cacti (Contemporary Folk)

Faixa essencial: Creator, Destroyer

Self-Released, 2018

44. Kim Petras — Turn Off the Light, Vol. 1 (Electropop, Dance-Pop)

Faixa essencial: Close Your Eyes

On Repeat, 2018

43. Little Boots — Burn (Nu-Disco)

Faixa essencial: Shadows

Interscope, 2012

42. Lana del Rey — Paradise (Art Pop)

Faixa essencial: Ride

BlockBerry Creative, 2018

41. LOOΠΔ — [ + + ] (K-Pop)

Faixa essencial: Hi High

Warp, 2015

40. Kelela — Hallucinogen (Alternative R&B)

Faixa essencial: Rewind

Universal, 2013

39. Lorde — The Love Club (Art Pop, Synthpop)

Faixa essencial: Bravado

JYP, 2019

38. TWICE — Feel Special (K-Pop)

Faixa essencial: Rainbow

Self-Released, 2019

37. Lim Kim — Generasian (Experimental Hip Hop, Deconstructed Club)

Faixa essencial: Digital Khan

PC Music, 2015

36. Danny L Harle — Broken Flowers (Bubblegum Bass)

Faixa essencial: Broken Flowers

Deewee, 2019

35. Charlotte Adigéry — Zandoli (Synthpop, Art Pop)

Faixa essencial: Paténipat

PC Music, 2017

34. Danny L Harle — 1UL EP (Bubblegum Bass, Electropop)

Faixa essencial: Me4U

Self-Released, 2018

33. Iglooghost — Clear Tamei (Wonky, UK Bass)

Faixa essencial: Clear Tamei

Self-Released, 2018

32. Iglooghost — Steel Mogu (Wonky, UK Bass)

Faixa essencial: Steel Mogu

Dog Triumph, 2014

31. Röyksopp & Robyn — Do It Again (Electro House)

Faixa essencial: Monument

NUXXE, 2018

30. Shygirl — Cruel Practice (Deconstructed Club)

Faixa essencial: O

Spanish Prayers, 2012

29. Cigarettes After Sex — I (Dream Pop, Slowcore)

Faixa essencial: Nothing’s Gonna Hurt You Baby

Island, 2018

28. Disclosure — Moonlight (House)

Faixa essencial: Where Angels Fear to Tread

Blackest Ever Black, 2017

27. Carla dal Forno — The Garden (Minimal Wave, Ethereal Wave)

Faixa essencial: We Shouldn’t Have to Wait

Acephale, 2014

26. Doss — Doss (Dream Trance)

Faixa essencial: The Way I Feel

On Repeat, 2019

25. Little Boots — Jump (Nu-Disco, Deep House)

Faixa essencial: Jump

Pleasure Masters, 2015

24. Annie — Endless Vacation (Dance-Pop)

Faixa essencial: Cara mia

Polivinyl, 2019

23. Kero Kero Bonito — Civilisation I (Synthpop)

Faixa essencial: Battle Lines

True Panther, 2016

22. Abra — Princess (Alternative R&B, Synthpop)

Faixa essencial: Crybaby

Sleepless, 2015

21. Allie X — CollXtion I (Synthpop)

Faixa essencial: Prime

BlockBerry Creative, 2017

20. Odd Eye Circle — Max & Match (K-Pop)

Faixa essencial: Loonatic

Capitol, 2012

19. Sky Ferreira — Ghost (Indie Pop)

Faixa essencial: Everything is Embarassing

Sacred Bones, 2018

18. Jenny Hval — The Long Sleep (Art Pop, Ambient)

Faixa essencial: Spells

Xenomania, 2010

17. Florrie — Introduction (Electropop, Dance-Pop)

Faixa essencial: Call of the Wild

Pleasure Masters, 2013

16. Annie — A&R (Dance-Pop, Nu-Disco)

Faixa essencial: Invisible

SM, 212

15. f(x) — Electric Shock (K-Pop)

Faixa essencial: Electric Shock

Self-Released, 2014

14. Kitty — Frostbite (Progressive House)

Faixa essencial: Last Minute

Self-Released, 2011

13. Daughter — His Young Heart (Contemporary Folk)

Faixa essencial: Switzerland

Self-Released, 2017

12. Rina Sawayama — RINA (Electropop, Contemporary R&B)

Faixa essencial: Alterlife

604, 2016

11. Carly Rae Jepsen — E•MO•TION: Side B (Synthpop, Dance-Pop)

Faixa essencial: Higher

Terrible, 2012

10. Solange — True (Alternative R&B)

Faixa essencial: Losing You

Young Turks, 2013

09. FKA twigs — EP2 (Alternative R&B, Art Pop)

Faixa essencial: How’s That

Interscope, 2012

08. Azealia Banks — 1991 (Hip House)

Faixa essencial: 212

Blacksmith, 2019

07. Kilo Kish — REDUX (Electropop)

Faixa essencial: Nice Out

Xenomania, 2011

06. Florrie — Experiments (Dance-Pop, Synthpop)

Faixa essencial: Experimenting with Rugs

Polyvinyl, 2018

05. Kero Kero Bonito — TOTEP (Indie Pop, Noise Pop)

Faixa essencial: Only Acting

Self-Released, 2011

04. Daughter — The Wild Youth (Indie Pop, Dream Pop)

Faixa essencial: Home

Ivy League, 2018

03. Hatchie — Sugar & Spice (Dream Pop)

Faixa essencial: Sure

Vroom Vroom, 2016

02. Charli XCX — Vroom Vroom (Bubblegum Bass)

Faixa essencial: Vroom Vroom

Young Turks, 2015

01. FKA twigs — M3LL155X (Art Pop, Glitch Pop)

Faixa essencial: Glass & Patron

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