“My life came and went. Short flight, free descent”: Favoritos de 2015

Marcus Vinicius
19 min readAug 4, 2019

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Se eu tivesse que escolher um ano para destacar da década inteira, 2015 seria o escolhido. Um ano abarrotado de lançamentos não só ótimos, mas definidores de diversos gêneros na década — folk, dance, synthpop, art pop, eletrônica-experimental, hip hop, todos os gêneros tiveram um lançamento que balançou os eixos da sua fundação. Numa nota mais pessoal, também foi um ano abarrotado de marcos para o meu gosto musical, seja com Björk e Florence abrindo suas feridas, com Chelsea Wolfe intensificando seus talentos, Joanna Newsom sendo a incrível Joanna Newsom, FKA twigs delineando seus horizontes, Róisín Murphy retornando com pompa, Carly Rae Jepsen com sua emoção desmedida entre inúmeros outros lançamentos — para ter-se uma percepção de tamanho doacontecimento, 12 álbuns receberam nota 5/5, com 4 recebendo a máxima da máxima, 100. Todos com suas nuances emocionais e musicais, marcando com brasa a importância desse ano no meu gosto musical.

OS 10 MELHORES EPS / PROJETOS:

Mexican Summer, 9/10

10. Weyes Blood — Cardamom Times (Chamber Folk)

Faixa essencial: Take You There

PC Music, 27/01

09. GFOTY — Cake Mix (Bubblegum Bass)

Self-Released, 11/08

08. Moe Shop — Pure Pure (Future Funk)

Faixa essencial: You Look So Good

PC Music, 20/11

07. Danny L Harle — Broken Flowers (Bubblegum Bass)

Faixa essencial: Broken Flowers

Petroleum, 04/05

06. AURORA — Running with the Wolves (Art Pop)

Faixa essencial: Runaway

Self-Released, 19/05

05. Metá Metá — EP (Art Punk)

Faixa essencial: Atotô

Cherry Coffee, 09/10

04. Kelela — Hallucinogen (Alternative R&B)

Faixa essencial: Rewind

Pleasure Masters, 16/10

03. Annie — Endless Vacation (Dance-Pop)

Faixa essencial: Cara mia

Sleepless, 07/04

02. Allie X — CollXtion I (Synthpop)

Faixa essencial: Prime

Young Turks, 14/08

01. FKA twigs — M3LL155X (Art Pop, Glitch Pop)

Faixa essencial: Glass & Patron

OS 50 MELHORES ÁLBUNS:

Atlantic, 13/03

50. Marina and the Diamonds — FROOT (Synthpop, Electropop)

Faixa essencial: Froot

Mais orgânico e menos ambicioso que seu antecessor, “Froot” é um trabalho mais introspectivo e centrado de Diamandis, mas que ainda mantém suas peculiaridades assim como bom ouvido para melodias ganchos, cobertos por uma produção polida e coesa.

4AD, 25/09

49. U.S. Girls — Half Free (Psychedelic Pop, Art Pop)

Faixa essencial: Damn That Valley

Um passo acima no trabalho da artista, tanto no que diz respeito as suas composições mais fortes e marcantes, como também num desenvolvimento de sonoridade que apresenta mais coesão e ambição dentro do pop psicodélico que apela para afetações mais artsy.

BMG, 02/10

48. Janet Jackson — Unbrekable (Contemporary R&B, Dance-Pop)

Faixa essencial: Night

O único álbum da icônica Janet Jackson na década de 2010 é o suficiente para mostrar que a cantora se mantém atualizada e tão forte quanto no seu auge — composições marcantes e uma produção antenada que consegue evitar clichês de trend-hopping são propulsionadas por uma interpretação no ponto certo e cheia de energia.

Mercury Nashville, 23/06

47. Kacey Musgraves — Pageant Material (Contemporary Country)

Faixa essencial: Late to the Party

Não tão consistente quanto o seu álbum de estreia, aqui Musgraves apresenta um ângulo ainda mais sarcástico as suas canções de country — abraçando o country pop mais clássico ao mesmo tempo que discorre críticas sobre estruturas sociais de maneira leve e brincalhona.

Virgin, 23/03

46. Laura Marling — Short Movie (Indie Folk)

Faixa essencial: Warrior

O folk da cantautora ganha um som mais encorpado aqui — acoplando guitarras elétricas ao seu som mais acústico dá um tom mais rock a suas canções, mesmo que o estilo de composição pesado e cheio de palavras e a maneira rápida e incisiva de interpretar suas canções continuam as mesmas.

SM, 27/10

45. f(x) — 4 Walls (K-Pop)

Faixa essencial: 4 Walls

Um dos trabalhos mais interessantes do K-Pop — f(x) atinge seu ápice ao casar a efusividade do gênero coreano com a produção mais enevoada do future house e do uk garage, pegando suas influências da EDM e as vestindo de maneira proeminente. O resultado são 10 músicas pop de aço que exalam energia.

Awful. 16/06

44. Abra — Rose (Alternative R&B, Synthpop)

Faixa essencial: Fruit

Um trabalho muito interessante no meio do R&B alternativo — mescla a produção atmosférica e polida do gênero moderno com sintetizadores lo-fi do minimal synth e o groove mecânico do freestyle oitentista — produzindo algo perdido no próprio tempo — produzindo algo cheio de um charme indiferente e magnético.

6131, 23/10

43. Julien Baker — Sprained Ankle (Indie Folk)

Faixa essencial: Rejoice

Um folk cru e direto ao ponto — usa influências estéticas e conceituais da música emo sem trabalhar exatamente dentro do gênero, pegando emprestada a emotividade exacerbada e a angústia raivosa e explodindo-as ao lado de um violão e uma voz poderosa.

Top Dawg, 15/03

42. Kendrick Lamar — To Pimp a Butterfly (Conscious Hip Hop, Jazz Rap)

Faixa essencial: Wesley’s Theory

Existe uma razão para esse ser o álbum de hip hop mais importante da década e qualquer um provavelmente é ciente da mesma — Kendrick condensou toda a alma, essência e intensidade do gênero em pouco mais de uma hora — não é preciso mais delongas.

Self-Released, 07/04

41. Timbre — Sun & Moon (Chamber Folk, Progressive Folk)

Faixa essencial: Night Girl, Nycteris Sees the Sun

Um álbum de 2 horas divididos em duas partes — a primeira trabalha canções de chamber folk mais convencionais, mas não menos espirituais e evocativas, enquanto a segunda parte intensifica nas influências clássicas — as duas juntas formam uma odisséia folk.

Planet Mu, 23/03

40. Jlin — Dark Energy (Footwork)

Faixa essencial: Black Ballet

Música eletrônica que por trás de todos seus floreios e camadas esconde uma essência primitiva — Jlin decide explicitar essa energia através de uma produção obscura e hipnótica, mas principalmente através de samples repetitivos que pontuam nos momentos certos a intensidade necessária de melancolia para esse álbum mecânico.

Blueberry, 07/08

39. Elysia Crampton — American Drift (Deconstructed Club, Latin Electronic)

Faixa essencial: Petrichrist

Um dos trabalhos, se não o trabalho essencial, sobre a representação da busca pela identidade latino-americana através de uma produção metacultural que pega emprestado ritmos regionais e o distorce através da música eletrônica experimental, borrando a linha da identidade e a transformando.

100% SILK, 14/08

38. Auscultation — L’étreinte imaginaire (Outsider House)

Faixa essencial: Promise You’ll Haunt Me

Música house completamente coberta por um grosso véu de melancolia — serve perfeitamente para música de fundo, mas também te afeta profundamente se você deixar se levar por sua atmosfera sedada.

YOY, 25/09

37. V V Brown — Glitch (Art Pop, Electropop)

Faixa essencial: Lazarus

Prosseguindo em sua carreira independente, a cantora investe mais pesado nos ritmos eletrônicos e mescla seu tato para melodias pop afiadas com uma produção angular, mecânica e intensa — deixando o darkwave de lado e abraçando mais um tom robótico, mas não menos marcante.

4AD, 18/05

36. Holly Herndon — Platform (Glitch)

Faixa essencial: Chorus

Por vezes, uma bagunça incongruente de sons que vão de encontro um ao outro e causam uma explosão metálica, permeando o álbum todo com sua cacofonia — até que um grito melódico emerge do meio da confusão e se empenha em ligar todos os pontos esparramados.

Sacred Bones, 12/05

35. Blanck Mass — Dumb Flesh (Electro-Industrial)

Faixa essencial: Dead Format

Mais um grande álbum eletrônico-experimental que aborda temas corporais — produzindo uma sonoridade industrial que se intensifica de forma física rapidamente e que te envolve por completo, mesclando a atmosfera de um ambient obscuro com as batidas frenéticas da dance music.

Ninja Tune, 18/04

34. Annabel (Lee) — By the Sea… And Other Solitary Places (Dark Jazz)

Faixa essencial: Breathe Us

Um dos álbuns mais cinemáticos que já ouvi — pega essa atmosfera surreal e trabalha ela tanto de forma abstrata quanto de forma intensa — com seu Dark Jazz enigmático, esse álbum rico em sons distorce sua percepção e te leva por um labirinto de suspense melancólico.

4AD, 03/03

33. Purity Ring — Another Eternity (Synthpop)

Faixa essencial: Heartsigh

Se o álbum anterior da dupla apresentava uma sonoridade fluorescente, “Another Eternity” vai direto para algo ofuscantemente colorido, usando sintetizadores caleidoscópicos que desabrocham junto com os vocais sacarinos e desavergonhadamente pop.

Babycat, 27/02

32. Soko — My Dreams Dictate My Reality (New Wave, Post-Punk)

Faixa essencial: Temporary Mood Swings

A Soko pegou os anos 80 pelo pescoço e transferiu a sua alma diretamente para dentro desse álbum — uma incorporação inseparável do espírito do new wave, com seu existencialismo indiferente, sintetizadores secos e guitarras jangly, junto com a personalidade ácida da cantora.

Mom + Pop, 16/10

31. Neon Indian — VEGA INTL. Night School (Synthpop, Chillwave)

Faixa essencial: Annie

Neon Indian aumenta de nível ainda mais aqui, incorporando no seu já oitentista chillwave dos álbuns anteriores uma influência mais proeminente de funk, criando assim uma sonoridade que é tão lisérgica quanto rítmica e contagiosa.

Warp, 13/11

30. Oneohtrix Point Never — Garden of Delete (Progressive Electronic)

Faixa essencial: Sticky Drama

Uma evolução na sonoridade mais ambient e coesa dos álbuns anteriores, OPN funde diversos gêneros dentro de uma colcha de retalhos experimental e esmaga tudo com um espírito industrial pulsante — criando um cataclismo altamente emocional, mas que prefere se manter no nível abstrato.

JYP, 04/08

29. Wonder Girls — Reboot (K-Pop)

Faixa essencial: I Feel You

Agora eu estou falando sério: o ápice do K-Pop. Ao voltarem para os anos 80 e misturarem o seu tom sacarino com o ritmo incessante do synthpop e freestyle da década, as Wonder Girls capturaram de uma forma impecável uma fotografia da perfeição pop — melodias impecáveis, harmonias sem precedentes na cena e uma produção forte que pontua as interpretações de todas as integrantes

PC Music, 02/05

28. Various Artists — PC Music Volume 1 (Bubblegum Bass)

Faixa essencial: Attachment

Marca um ponto interessante na música dessa década — o fenômeno da PC Music, o surgimento do Bubblegum Bass como uma junção cacofônica e empilhamento de diversos gêneros do pop num caos melódico — e essa primeira compilação é um resumo perfeito disso tudo que aconteceu por esses anos.

Nat, 15/07

27. KOTO — プラトニック プラネット (J-Pop)

Faixa essencial: パステルパスポート

Pega a intensidade do J-Pop e emulsifica ainda mais o açúcar do gênero, criando uma consistência sacarino pastosa, causando um frenesi que borra a linha entre o infantil e o idiossincrático, trabalha isso tudo junto com uma vocalista tão sacarina quanto carismática e você tem esse bloco de açúcar perfeito em forma de álbum.

Sony, 17/03

26. Natalia Lafourcade — Hasta La Raíz (Chamber Pop, Folk Pop)

Faixa essencial: Hasta La Raíz

As composições impecáveis de Lafourcade brilham ainda mais quando ela abre mais ângulos para o seu indie pop através da incorporação de influências ensolaradas latinas — resultando num álbum perfeito para se ouvir despretensiosamente em uma tarde sol, um álbum que traz paz ao coração de forma instantânea

Spacebomb, 27/01

25. Natalie Prass — Natalie Prass (Chamber Pop, Pop Soul)

Faixa essencial: Bird of Prey

Uma voz deliciosamente aguda com um arranjo de cordas fatalmente exuberante acompanham canções intensamente agridoces que apresentam contos melodramáticos e quase trágicos de romance — um álbum soul sessentista estilizado para o indie pop moderno.

Pomperipossa, 13/11

24. Anna von Hausswolff — The Miraculous (Experimental Rock, Ethereal Wave)

Faixa essencial: Come Wander with Me / Deliverance

Intensificando e obscurecendo ainda mais seu som, em seu terceiro álbum, Hausswolff injeta um tom infernal em suas canções com guitarras experimentais, criando um tom infernal mas que ainda não se sucumbiu ao caos total — uma espécie de purgatório musical.

Virgin EMI, 25/09

23. CHVRCHES — Every Open Eye (Synthpop, Electropop)

Faixa essencial: Leave a Trace

Caminha para um lado mais mainstream, mas caminha na calçada certa — melodias pop intensas que explodem os sintetizadores de maneira harmônica com os refrões complexos e interessantes de Mayberry, que enche o álbum de personalidade com suas capacidades como compositora e vocalista.

Mom + Pop, 24/03

22. Courtney Barnett — Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit (Indie Rock)

Faixa essencial: Pedestrian at Best

Um dos álbuns de indie rock mais afiados dessa década — Barnett condensa toda a indiferença sarcástica e apatia angustiante dos late 20s e a explode em linhas de guitarra incisivas e uma mistura de psicodelia com a crueza do garage rock que soa tanto familiar quanto refrescante.

Sub Pop, 20/01

21. Sleater-Kinney — No Cities to Love (Indie Rock)

Faixa essencial: Price Tag

Em todos os aspectos soa como um álbum que procurar testar águas — ver se ainda existe a chama que as levaram a ser uma banda antes e como elas ressoam no cenário atual — por isso, se mantém num ponto seguro da sonoridade, canalizando sua energia num mix de indie e punk que fica mais ritmíco e com refrões mais explosivos — mostrando que a banda ressoa perfeitamente para uma nova geração de ouvintes.

Interscope, 18/09

20. Lana del Rey — Honeymoon (Art Pop)

Faixa essencial: Terrence Loves You

Lana del Rey se entedia com a própria persona glamour-decadente que incorporou anteriormente e decide explodir tudo, ao mesmo tempo que canta sem expressão na frente das suas próprias ruínas — “Honeymoon” se auto-satisfaz em sua letargia sofisticada, em seu niilismo insignificante e caminha sangrando para dentro do próprio vazio, alheio a tudo em seu redor.

Numbers, 26/11

19. SOPHIE — Product (Bubblegum Bass)

Faixa essencial: BIPP

Pega o pop distorcido e satírico da PC Music e demonstra como empurrar suas barreiras ainda mais para frente — do template básico de pop-edm hiperativo para um frenesi de melancolia ingênua até a canções genuinamente perturbadoras, “Product” é o produto de venda de Sophie, plástico e tragicamente sincero — e a coloca como catalisadora e protagonista de todo o movimento.

Circus, 01/10

18. Elza — A Mulher do Fim do Mundo (Art Rock, Vanguarda Paulista)

Faixa essencial: Mulher do fim do mundo

Pega toda a força de Elza Soares e a solidifica ainda mais como uma força da natureza — moderniza o seu som, a sua importância e a traduz para gerações novas, ainda se mantendo fiel a todo seu histórico. O primeiro álbum autoral da cantora aos 80 anos mostra uma vontade de cantar e de se expressar imparável e inigualável.

MIE, 19/01

17. Áine O’Dwyer — Music for Church Cleaners Vol. I & II (Ambient)

Despe o catolicismo de toda sua pompa e doutrinas, retira tudo que reveste a espiritualidade e nos mostra que se Deus existe, ele está dentro dos momentos que não há celebração, nos pequenos silêncios do dia-a-dia e naquelas pessoas que cantam para ninguém, “Deus” se manifesta quando não há ninguém prestando atenção ou entendendo sua mensagem — são nesses momentos que experiências marcantes se sucedem.

Ashmatic Kitty, 31/03

16. Sufjan Stevens — Carrie & Lowell (Indie Folk)

Faixa essencial: Should Have Known Better

Um álbum que representa a dor que a efemeridade da vida e dos bons momento nos inflige, que discorre sobre pequenos detalhes e os disseca de maneira obsessiva que só resulta em prantos inconsoláveis, um álbum que demonstra o ápice artístico de Sufjan Stevens quando ele se despe de toda a sua produção e se apoia apenas no som atemporal do folk atmosférico.

Self-Released, 07/04

15. Duda Brack — É (Alternative Rock)

Faixa essencial: Cadafalso

Duda pega música compostas por outros e transformam numa força que só poderiam ser interpretadas por ela — com uma voz marcante e poderosa, ela torna esse curto álbum em uma afirmação marcante de sua maestria como intérprete, acompanhada de uma banda que faz um trabalho criativo dentro da mistura do rock e ritmos brasileiros.

Sub Pop, 16/10

14. Beach House — Thank Your Lucky Stars (Dream Pop)

Faixa essencial: Elegy to the Void

O segundo álbum da banda no mesmo ano afunda-se ainda mais em seus próprios pensamentos e se transmuta em algo ainda mais anônimo, que divaga sonambulamente em uma casa fria e vazia, ao mesmo tempo que parece ir para todos os lugares.

Warner Music Norway, 16/02

13. Susanne Sundfør — Ten Love Songs (Art Pop, Synthpop)

Faixa essencial: Kamikaz

O fato que a ideia inicial da artista para esse álbum era “Ten Songs About Violence” e no meio do processo percebeu que escrevia canções de amor diz muito sobre ele — músicas que explicitam uma dor tão lancinante que resulta em violência emocional e até física contra outros e si própria — catarse condensada em sintetizadores fluorescentes e refrões intensos.

Partisan, 05/05

12. Torres — Sprinter (Indie Rock)

Faixa essencial: Strange Hellos

Pega a angústia que é a alma dos anos 90 e a transforma em algo completamente introspectivo — absorvido em sua própria confusão, em sua própria dor, Torres cria um álbum intensamente pessoal, embebido numa névoa distante que o torna único em sua mágoa.

PIAS, 11/05

11. Roísín Murphy — Hairless Toys (Art Pop)

Faixa essencial: Exploitation

Uma das mentes mais criativas da música pop-eletrônica se reinventa mais uma vez — “Hairless Toys” se reveste de uma atmosfera mais repetitiva e mecânica através do Microhouse, mas que contém uma força emocional orgânica e pulsante por baixo da produção pingue-pongueante e noturna e dos elusivos e apáticos vocais de Murphy.

Sacred Bones, 09/06

10. Jenny Hval — Apocalypse, girl (Art Pop)

Faixa essencial: That Battle Is Over

Hval condensa toda a sua visão experimental em um trabalho espetacular — “Apocalypse, girl” mostra a artista despejando todos os seus pensamentos divagantes e desconcertantes sem nenhum filtro para o ouvinte — como alguém contando suas experiências sexuais num jantar em família — instigante, desconfortável e confiante por natureza.

Island, 01/06

09. Florence + the Machine — How Big, How Blue, How Beautiful (Art Pop)

Faixa essencial: Delilah

Florence em mais uma dose do seu melodrama que busca sentir mais para uma experiência mais intensa de catarse — mas aqui, o sentimento é mais cru, o que em “Ceremonials” era revestido por um ligação obscura de magia, aqui as cordas arrebentam e a artista permite se esparramar descontroladamente de maneira mais realista e contundente, mas não menos grandiosa.

4AD, 06/11

08. Grimes — Art Angels (Electropop, Synthpop)

Faixa essencial: Kill V. Maim

Um frenesi de música pop que é a combinação perfeita para quando você quer sentir tudo ao mesmo tempo — melancolia, euforia, raiva, sarcasmo, nostalgia, tudo — tem essa atmosfera que suga toda a energia do ouvinte de maneira exultante e catártica — uma explosão que vai direto para os receptores de dopamina do nosso cérebro.

Sub Pop, 28/08

07. Beach House — Depression Cherry (Dream Pop)

Faixa essencial: Levitation

Um dos trabalhos mais introspectivos da dupla— a sonoridade aqui é mais sonolenta, mais minimalista, trabalhando na zona de conforto da banda, mas expandido sua paleta sonora etérea — as melodias cintilantes complementam a atmosfera aveludada e reflexiva, fazendo com que o álbum represente um tom mais maduro em contrapartida ao jovial “Teen Dream”.

Drag City, 27/01

06. Jessica Pratt — On Your Own Love Again (Contemporary Folk)

Faixa essencial: Game That I Play

Existe algo meio sobrenatural permeando esse álbum — algo que o torna estranhamente atemporal, perdido entre a voz enevoada e distante de Pratt, as composições que borram a linha entre abstração e terreno e a sonoridade acústica solitária e estonteantes sem grandes esforços — isso tudo torna “On Your Own Love Again” como uma obra primeiramente aconchegante, mas perturbadoramente devastadora em essência.

Interscope, 24/06

05. Carly Rae Jepsen — E•MO•TION (Dance-Pop, Synthpop)

Faixa essencial: Warm Blood

Um daqueles álbuns especiais, que conseguem capturar o sentimento único de que todo o sentido do mundo poderia caber num momento só que situações como assistir a queima de fogos na noite de Ano Novo nos dá — aquele sentimento puro de euforia e sentimentalismo que só a música pop e seus refrões ultra-polidos e imediatismo podem nos proporcionar — aquela intensidade filtrada que ainda assim soa como uma intensidade sem cortes, a vida toda dentro de uma melodia vocal excepcional.

One Little Indian, 20/01

04. Björk — Vulnicura (Art Pop)

Faixa essencial: Black Lake

O álbum em que Björk expõe todas as suas feridas da maneira mais catártica possível — detalhando a intimidade do seu casamento, o seu rompimento gradual e doloroso e todos os seus sentimentos ao longo desse caminho da maneira mais minuciosa, real e intensa possível — um álbum que explicita uma dor lancinante que vem com a perda de confiança, da confusão de se sentir perdido após um término e a falta de esperança para a própria família, envolvidos em uma produção atmosférica densa e levemente quebrada que representa todo o luto da artista, que transforma “Vulnicura” no velório do próprio casamento, assim como seu processo de cura.

Domino, 25/09

03. Julia Holter — Have You in My Wilderness (Art Pop, Chamber Pop)

Faixa essencial: Betsy on the Roof

O álbum pop de Julia Holter no sentido que a artista escolheu compor deliberadamente letras e melodias sob estruturas mais convencionais, usando menos a abstração dos seus álbuns anteriores — o resultado é um trabalho mais convidativo, com sua atmosfera ensolarada e seu tom de storyteller mais baseado no significado das palavras que no significado dos sons, se tornando algo confortável e genuinamente envolvente — o que não mudou foi a capacidade de Holter de evocar as emoções mais profundas com seus vocais multi-angulares e seus arranjos repletos de camadas que dão a “Have You in My Wilderness” uma miríade de elementos que constroem algo tão elusivo quanto seus trabalhos mais experimentais.

Sargent House, 07/08

02. Chelsea Wolfe — Abyss (Darkwave)

Faixa essencial: Carrion Flowers

Chelsea Wolfe se desassociando de qualquer característica terrena e se afundando completamente no terreno do surreal — criando um álbum que reflete a experiência de paralisia do sono, a artista intensifica suas influências de metal e as mescla com seu darkwave denso e lamacento, criando uma camada musical de textura densa e sufocante, que não se censura em criar contrastes entre o calmo e o agressivo, que abruptamente tira o ouvinte de um transe para jogá-lo no meio do caos. Incorporando como uma entidade abstrata, Wolfe se apresenta em “Abyss” composições entrecortadas, palavras aleatórias que parecem alucinadas e que intensificam esse estado claustrofóbico de sonho-pesadelo e criam a atmosfera impecável para o mesmo, imergindo quem o ouve numa experiência sensorial cativante, como um terror psicológico, representando uma queda livre e espiralada até o fundo invisível do abismo.

Drag City, 23/10

01. Joanna Newsom — Divers (Chamber Folk)

Faixa essencial: Sapokanikan

Trabalhando com o conceito de tempo, repetição e conexão de uma maneira quase impenetrável, “Divers” representa 11 histórias desconexas que recontam sentimentos similares de deslocamento temporal, de amores que transcendem o plano temporal e de mulheres que em face das dificuldade se apoiam na sua força interior — As 11 canções aqui presentes se desenrolam de uma maneira primeiramente complexa, mas que vão se mostrando cada vez mais conectadas em um ciclo e que formam uma paisagem única, que contam uma história única por partes separadas. Em “Divers”, Newsom exerce sua mágica musical uma quarta vez e soa cada vez mais complexa, apesar das melodias ornadas parecerem mais acessíveis — contando histórias que trespassam o conceito de tempo, ela adiciona uma pitada de realismo mágico nelas, invocando o surreal e o misturando com o urbano, com o cotidiano, adicionando camadas mais densas nos contos existencialistas através de referências que vão construindo uma teia entre as canções, num tipo de álbum “hyperlink”, criando assim um caleidoscópio de pequenos contos que lamentam, celebram, questionam e denunciam o mesmo conceito: a relação do amor e o tempo, ou do amor através do tempo. Com sua incomparável habilidade de criar cenários e personagens complexos em suas composições, seus vocais inigualáveis e cada vez mais encorpados para máximo efeito e uma orquestração mais maximalista, “Divers” é mais uma pérola que cimenta Newsom como uma das artistas centrais desse século, mas que além disso, que é capaz de transformar suas composições intricadas em algo pessoal, tocante e que evoca emoções e sentimentos através de sua delicada harpa e melodias douradas, Newsom escava com sua voz o nosso âmago e traz com cada sutil enrolar de sílabas sentimentos enterrados lá no fundo, trazendo-os a tona por uma simples pronunciação mágica, transcendendo o tempo e as suas barreiras assim como as histórias presentes nesse álbum

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