“I got the idea I wasn’t real”: Favoritos de 2020

Marcus Vinicius
23 min readDec 27, 2020

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Incontáveis listas de fim de ano de 2020 começaram com uma frase falando sobre como o ano foi difícil, complicado, terrível, inesperado — e bom, foi, né, posso fazer o quê? Mas no meio disso tudo, a música continuou soberana — 2020 nos proporcionou muitas coisas que o tornou inesquecível na música, e foi, notadamente, um dos poucos pontos positivos dele — como sempre, nos acompanhando nos momentos difíceis e nos dando um pouco de sanidade para atravessar as dificuldades, sejam elas pessoais ou globais — desde projetos frutíferos da quarentena, passando pelo retorno triunfal de uma gigante, álbum(ns) surpresa e chegando na re-invasão potente da Disco na música pop moderna, 2020 abriu a década de maneira marcante. E seja o que for que 2021 nos prepara, seja o degringolamento da situação ou a melhoria dela, pelo menos trilha sonora para o fim do mundo sabemos que não vai faltar.

RATEYOURMUSIC

ÁLBUNS:

54. TOPS — I Feel Alive (Soft Rock)

Faixa essencial

Fat Possum, 03/04

Anteriormente sapateando ao redor da sonoridade, o 4º álbum da banda mergulha completamente na sonoridade do soft rock setentista — com funk o suficiente para ter um ritmo elástico, mas com melodias nebulosas o suficiente para flutuar — um álbum fácil e leve, que consegue acertar composições marcantes dentro do som familiar e criar uma coleção de canções deliciosamente melódicas — não é um álbum de pop rock titânico, mas que desenvolve muito bem seu tom aéreo no formato.

53. Carly Rae Jepsen — Dedicated Side B (Dance-Pop)

Faixa essencial / Review completa

Interscope, 21/05

Nos dando um álbum inteiro de canções descartadas do seu trabalho anterior, que se destacam tranquilamente em seus próprios méritos, Carly só mostra mais uma vez o seu talento imparável para música pop — as músicas aqui seguem na linha do álbum original em sua maioria, canções mais sutis que a explosão de açúcar de “Emotion”, mas por um outro lado, também apresentam alguns elementos novos e interessantes para a cantora, com toques mais psicodélicos em umas e produções mais R&B em outras.

52. Soccer Mommy — color theory (Bedroom Pop)

Faixa essencial

Loma Vista, 28/02

Amplificando suas composições para territórios irresistíveis, Soccer Mommy libera suas divagações melancólicas e as cristaliza numa bolinha de tristeza açucarada, um álbum cheio de melodias fortes e uma produção pristina, se desenvolve um ótimo álbum pop permeado por nostalgia, com guitarras ansiosas servindo de acompanhamento a uma abundância de ganchos memoráveis, ao mesmo tempo que consegue progredir com sucesso para catarse.

51. Megan Thee Stallion — Good News (Pop Rap)

Faixa essencial

300, 20/11

Com bom humor excepcional, Megan apresenta em seu álbum de estréia uma promessa interessante — uma coleção de 17 músicas bem construídas, repletas de ganchos pegajosos que são elevadas pela injeção de personalidade que Megan aplica — “Good News” traz as boas notícias, Megan está aqui para ficar — e como álbum pop faz o dever de casa direitinho: variado o suficiente para não entediar, se mantém coeso na sua produção para funcionar como álbum, com faixas empacotadas num sequenciamento que nos mantém grudados.

50. Sewerslvt — Draining Love Story (Atmospheric Drum and Bass)

Faixa essencial / Review completa

Self-Released, 25/01

Um álbum intenso de drum and bass que excede qualquer expectativa — a natureza do DnB de retratar um tipo de caos controlado é colocada junto aos socos mais lânguidos e emotivos, justapondo as passagens mais atmosféricas com os ritmos rápidos e hipnotizantes — e faz exatamente o que diz no título, é um álbum drenante de EDM ultra-emotivo, mas é uma experiência bem recompensadora, trazendo o senso dramático de amor arrebatador através de drum and bass sedado e momentos de house lo-fi.

49. Jónsi — Shiver (Art Pop, Glitch Pop)

Faixa essencial

Krunk, 02/10

Co-produzido juntamente a A. G. Cook, “Shiver” mostra uma sincronia bem interessante entre os dois — adicionando às baladas frágeis de Jónsi o design sonoro de A. G., instigando faíscas dentro do tom gélido, como uma luz de neon colorido cintilando num quarto escuro — essa sincronia se prova bem sucedida tanto quando A.G. se insere no mundo de Jónsi, dando impulsos multi-dimensionais a sua estrutura, assim como quando Jónsi se insere na produção caleidoscópica de A.G, pulsando sintetizadores estroboscópicos atrás da sua fragilidade.

48. Sevdaliza — Shabrang (Art Pop)

Faixa essencial

Twisted Elegance, 28/08

Uma calibração melhor dos talentos de Sevdaliza — encaixando sua voz áspera e levemente quebrada dentro da melancolia sedutora, que permeia essas baladas letárgicas de Art Pop, intoxicadas com batidas eletrônicas obscuras , pinceladas com influências clássicas e por fim distorcidas a levemente perturbadoras através do darkwave, dando ao álbum minimalista uma atmosfera magneticamente obscura — Sevdaliza usando seus poderes etéreos de maneira recompensadora.

47. Rina Sawayama — SAWAYAMA (Dance-Pop)

Faixa essencial

Dirty Hit, 17/04

Acentua ainda mais o sentimento de nostalgia dos anos 2000 atualizado para o pop moderno —criando uma mistura do R&B/Pop proeminente na época, com riffs de guitarras aqui e ali até uma faixa de nu metal completa, distorcendo esses tokens da década e os metamorfoseando com uma visão moderna, entregando tudo isso com carisma, preenchendo as canções com composições afiadas e ganchos impecáveis

46. Katie Gately — Loom (Art Pop)

Faixa essencial / Review completa

Houndstooth, 14/02

Um álbum permeado por suspense, com sua dinâmica sendo destacada de maneira bem sufocante, se focando tanto na percussão intensa quanto na atmosfera esparsa e assombrada, ocasionalmente nos transbordando com melodias vocais impecáveis e seus fraseamentos exuberantes — se mantendo perfeitamente melódico enquanto nos destrói com drones ameaçadores, distorcendo o art pop através do industrial, com diversas camadas sendo cirurgicamente sobrepostas.

45. Annie — Dark Hearts (Synthpop)

Faixa essencial

Annie Melody, 16/10

Se afastando da música dance na qual pautou sua carreira anteriormente, seu primeiro álbum em 11 anos apresenta um estilo de synthpop tão familiar quanto confortável — embebido na atmosfera onírica do dream pop, se adiciona guitarras sutis e sintetizadores fluorescentes junto as melodias cristalinas, uma mistura onde a voz vítrea de Annie se encaixa como uma luva, com um tom encharcado de nostalgia, ela passeia pelas canções como uma presença etérea e distante, resultando num álbum extremamente confortável.

44. A. G. Cook — 7G (Electronic)

Review completa

PC Music, 12/08

O produtor coletou tudo que “PC Music” pode ter significado nessa meia década de existência e desconstrói esses elementos da filosofia e prática do movimento, resultando em algo que não é reconhecível como “PC Music”, mas representa em partes separadas elementos familiares ao que associamos ao gênero — também delineando o seu trabalho e influência na música eletrônica — em “7G”, A.G. reflete de maneira orgulhosa sob o seu trabalho — e ele tem todo o direito de estar orgulhoso.

43. The Innocence Mission — See You Tomorrow (Indie Folk, Folk Pop)

Faixa essencial / Review completa

Umbrella Day, 17/01

Enquanto se mantém na sonoridade esperada da banda, também nos mostra um ângulo um pouco mais soturno, uma produção que se vale dos “espaços vazios” das canções para fazer com que as melodias e as palavras se espiralem para dentro da nossa mente — tudo se permanece impossivelmente suave e calmo, mas permeado por composições mais esparsas e vocais que atingem de forma mais melancólica — uma tristeza delicada e que pode passar despercebida, mas intensamente recompensadora se dado o valor correto.

42. Waxatchee — Saint Cloud (Alt-Country)

Faixa essencial / Review completa

Merge, 26/03

Dentro da sonoridade mais aberta do country, as composições de Waxahatchee parecem soar mais afiadas e encontrar um local melhor para pouso, com seus ganchos brilhando dentro da atmosfera pastoral e com sua voz distinta planando sob as canções e fazendo a união perfeita entre o senso tradicional do gênero com idiossincrasias indies — uma progressão musical clara, que deixa suas influências bem expostas, mas que é capaz de superar a redundância.

41. HAIM — Women in Music Pt. III (Indie Pop, Soft Rock)

Faixa essencial / Review completa

Columbia, 26/06

O terceiro álbum das irmãs se mostra mais como um diário — uma coleção de anedotas transformadas em músicas, com uma variedade de estilos e gêneros espalhados pela sua duração, mas nunca soando sem objetivo — existe uma confiança que segura o álbum, aliado a pura qualidade das composições, tendo sucesso em criar algo mais autobiográfico ao invés do pop titânico do seu debut — num geral, a combinação de vários talentos se juntando no momento certo e resultando em algo ótimo, simples assim.

40. Hayley Williams — Petals for Armor (Art Pop, Alternative Dance)

Faixa essencial / Review completa

Atlantic, 08/05

Enquanto parece existir numa configuração similar ao último do Paramore, provê intimidade suficiente para funcionar como trabalho solo — sonoramente explora alguns elementos mais idiossincráticos, com uma ângulos menos convencionais, que apesar de ainda bem polidos, demonstram algo mais interessante borbulhando abaixo da superfície — continua a evolução de Hayley como artista, a permitindo usar suas vulnerabilidades mais uma vez como escudo e criar mais um álbum emocionalmente relevante.

39. Pessoas que Eu Conheço — Ideologia Chinesa (Deep House)

Faixa essencial

40% Foda/Maneiríssimo, 13/05

Tem a cadência de um álbum de Deep House clássico e na maioria do tempo é — atmosférico, sensual e melódico — mas uma miríade de influências torna o álbum algo bem mais diverso, constrói uma atmosfera um tanto lisérgica através de breakbeats mais caóticos e uma abordagem irônica em seu uso de samples, criando um caleidoscópico de melodias elásticas e tendo sucesso em pegajosidade mesmo sem dizer uma única palavra, delineando seu próprio mundo, enquanto se expande gradativamente.

38. Fleet Foxes — Shore (Indie Folk, Chamber Pop)

Faixa essencial

Uma fusão bem interessante de harmonias intricadas, melodias transbordantes, várias faixas vocais e texturas mais atmosféricas com estruturas pop primaveris e diretas —é um álbum que soa simples, mas permeado por uma intensidade cativante, que empurra as composições diretas para um campo harmonicamente complexo e torna “Shore” um álbum ambíguo nas respostas sensoriais que nos provoca, se tornando memorável nas suas colorações quentes e convidativas.

37. Against All Logic — 2017–2019 (Post-Industrial)

Faixa essencial / Review completa

Other People, 07/02

Vemos Jaar se posicionando mais dentro do mundo da música eletrônica experimental, com texturas mais abrasivas e ritmos mais mecânicos, retirando o groove de “2012–2017” e o substituindo por um senso de desconforto — apesar da sua natureza mais esparramada, existe um controle aqui, com Jaar controlando a intensidade e como ela é usada durante o álbum, construindo um design sonoro impecável e desencadeando para cima do ouvinte canções cheias de curvas fechadas e progressões eletrizantes.

36. Julianna Barwick — Healing is a Miracle (Ambient)

Faixa essencial / Review completa

Ninja Tune, 10/06

Servindo como um álbum para fazer uma limpeza mental após ser transbordado por informações através das redes e das notícias, contém um som mais morno e menos distante que seus antecessores — apesar da sua natureza escapista, contém uma atmosfera mais terrena, colocando nossos pés no chão ao invés de nos colocar em uma bruma etérea, os loops vocais e o reverb constante nos colocam em um modo otimista, ao invés de idealista, trazendo um ângulo interessante para a música de Barwick.

35. Brandy Clark — Your Life Is a Record (Contemporary Country)

Faixa essencial / Review completa

Warner, 05/03

Preenche com facilidade todos os requisitos necessários para um álbum country ótimo — uma vocalista marcante, composições fortes, uma produção que sabe lidar com dinâmica e um tato excepcional para melodias — é um álbum simples, mas tratado de maneira excepcional, com pequenos elementos orquestrais que catapultam o álbum sem ofuscá-lo, seu charme sendo intensificado pelo quão bem ele flui, uma continuidade de faixas boas, uma atrás da outra, sem tempo para pensarmos em algo mais, Brandy entrega música boa sem subterfúgios.

34. Natalia Lafourcade — Un canto por México, Vol. 1 (Mexican Folk Music)

Faixa essencial / Review completa

Sony Latin, 08/05

Continuando a canalizar de maneira cada vez mais intensa seu amor pela música mexicana, Natalia explora mais a fundo gêneros especificamente mexicanos nessa ode fidedigna a cultura do país, construindo um projeto com cuidado e uma visão precisa, tricotando esse tapete intricado de arranjos coloridos com uma energia distinta e única, alternando entre covers das próprias músicas e composições novas, se imergindo não mais como uma homenageadora, mas se posicionando dentro do canon da música folk mexicana.

33. Eartheater — Phoenix: Flames Are Deew Upon My Skin (Avant-Folk, Chamber Folk)

Faixa essencial

PAN, 02/10

Desdobra uma tapeçaria bem interessante de elementos — a voz sombria, mas lânguida flutua etereamente sobre um estilo de folk atmosférico que além dos seus arranjos intensos de cordas, tem texturas mais amplificadas provenientes do ambient, criando camadas exuberantes de melancolia, entre tudo isso, passagens mais experimentais de colagem de sons, que energizam o disco de uma maneira mais distorcida e o tornam uma experiência única, cimentando seu poder com composições evocativas e cativantes.

32. Sufjan Stevens — The Ascension (Art Pop, Indietronica)

Faixa essencial / Review completa

Asthmatic Kitty, 25/09

Uma ode a ambiguidade — o álbum aonde Sufjan se cansa de sentir demais e simplesmente despeja esse sentimento de conformidade existencialista, canalizando-o através de uma parede de som Art Pop que serve como um véu que cobre os glitches, passagens IDM e vocais distorcidos que rodopiam ao redor de suas melodias estafadas — uma constante fadiga que nunca soa caótica, mas que nos envolve no seu perigoso estado de Stand-By mental e no seu cansaço de existir.

31. Kate NV — Room for the Moon (Art Pop, Progressive Pop)

Faixa essencial / Review completa

Rvng, 12/06

Incorpora as influências ambient de seus trabalhos anteriores num formato mais elástico, usando idiomas do new wave e influência da música japonesa para criar algo melodicamente angular com uma linha rítmica concisa e intricada costurados juntos com uma produção fluída, resultando num estilo de pop mecânico que pingue-pongueia incessantemente com suas idiossincrasias e se torna um caleidoscópio efusivo de texturas sensoriais,

30. Laura Marling — Song for Our Daughter (Contemporary Folk)

Faixa essencial / Review completa

Chrysallis, 10/04

O sétimo álbum de Marling coloca um freio na ambição do anterior da artista e entrega um trabalho mais tímido, uma coleção de faixas que demonstra perfeitamente porque é uma das mais consistentes compositoras da atualidade — um estilo composicional marcante, com um fraseado bem fluído, uma interpretação bem vívida do seu storytelling intricado e com um estilo de dedilhado ágil que as vezes é trocado por um piano mais esparso, o álbum serve como um cobertor morno em uma tarde fria, sendo uma ótima adição ao seu catálogo.

29. Liturgy — Origin of the Alimonies (Avant-Garde Metal)

Faixa essencial

Ao invés de quebrar a intensidade do black metal com incursões clássicas minimalistas, coloca tudo na intensidade máxima — as passagens orquestrais e os blasts de guitarras andam lado-a-lado nessa ópera black metal sobre a criação da sociedade através da morte de seus deuses — o álbum é tão cacofônico, surreal e pós-apocalíptico como sua descrição o faz soar e mesmo assim é capaz de ser um trabalho coeso e direto ao ponto em seu objetivo — uma imponente afirmação de criatividade.

28. clipping — Visions of Bodies Being Burned (Industrial Hip Hop, Horrorcore)

Faixa essencial

Sub Pop, 23/10

Ainda mais afiado que o anterior — faz uso da mesma base, música industrial como o suporte principal para criação de um álbum intenso e estranho enquanto se mantendo reconhecivelmente como hip hop — aqui se vê o retorno uma flow maníaca com uma combinação de texturas, composições, paletas sonoras e elementos de terror, mas amplificando o tom frio e mecânico e adicionando mais influências de música dance — clipping encontrando seu som e prosperando magnificamente no mesmo.

27. Ana Roxanne — Because of a Flower (Ambient)

Faixa essencial

Kranky, 13/11

Uma expansão bem sucedida do que foi apresentado em seu EP de estréia — um estilo simples e direto de ambient, escalado para níveis emocionais bem altos através de momentos sutilmente maximalistas, amplificando as texturas encapsulantes com progressões cativantes e temperando essa base com leves sintetizadores cristalinos, usando vocalizações etéreas para encorpar suas canções, mas com um conceito lírico abstrato que une o álbum esteticamente como uma peça única.

26. 유키카 — 서울여자 (K-Pop)

Faixa essencial / Review completa

ESTIMATE LLC, 21/07

Pega a euforia urbana da onda original do gênero e a atualiza com sintetizadores e estilo de produção modernos, mais similar a uma configuração dance, mas mantendo a essência do que o fazia tão incrível, sem nunca aguá-lo para o presente — o tom levemente piegas, as melodias neon, atmosfera noturna e linhas de baixo de funk polidas, o pacote completo — tem sucesso em sua tarefa de revival e também de construir um álbum de pop moderno incrível.

25. Deftones — Ohms (Alternative Metal)

Faixa essencial

Reprise, 25/09

Monumental em como sabe lidar com as dinâmicas sonoras para criar um som pervasivo, empilha camadas e mais camadas de guitarras afiadas, um estilo vocal magneticamente irresistível, ganchos eficientes e embebe tudo isso nessa sonoridade metal-etéreo, produzindo texturas sonoras que soam como um líquido venenoso sendo injetado nas nossas veias, os sintetizadores discretos e a influência de shoegaze sendo o elemento final para coroá-lo como uma tapeçaria intensa de agressividade etérea.

24. Dua Lipa — Future Nostalgia (Dance-Pop)

Faixa essencial / Review completa

Warner, 27/03

Um álbum retrô-pop moderno que apesar de se permanecer dentro desses conformes, entende perfeitamente o que faz esse tipo de música funcionar — Dua pega a energia despreocupada do dance-pop e a traduz para o formato de álbum de maneira respeitável, uma infinidade de ganchos eficientíssimos e uma produção polida dão vida a essa canções e criam um delicioso frenesi dance — só desfalcado um pouco pelas 2 últimas faixas, mas com bastante momentos incríveis para ser um destaque inegável do ano.

23. Klô Pelgag — Notre-Dame-des-Sept-Douleurs (Art Pop, Baroque Pop)

Faixa essencial / Review completa

Secret City, 26/06

Um álbum grandioso e maximalista, que faz uso de diversos elementos de maneira progressiva e quase caótica — constrói um mundo hermético aonde tudo parece carregado com violinos, celos, e harpas cascateantes, uma constante orquestra que segue cada pensamento — mas nunca a níveis sacarinos ou cansativos, sempre tem algo igualmente extasiante para balancear, seja as composições ágeis, vocal angular ou o tom peculiar cinemático que pincela o álbum com uma atmosfera surreal.

22. Perfume Genius — Set My Heart on Fire Immediately (Art Pop)

Faixa essencial / Review completa

Matador, 15/05

Faz uso de uma abordagem interessante ao incorporar grandes arranjos em canções minimalistas, mas nunca se deixando levar pelo experimentalismo ou melodrama completo, terminando as canções antes delas transbordarem, uma batalha entre a fragilidade e grandiosidade que nunca sacrifica seus detalhes intricados em favor do minimalismo, que apresenta Hadreas incendiando seu coração, mas sendo consumindo tão rapidamente ao ponto de conseguirmos ver apenas suas cinzas.

21. Taylor Swift — folklore / evermore (Folk Pop)

Faixa essencial / Review completa

O ano em que ela finalmente deixou a estranha persona de diva pop para trás — lançando dois álbuns “irmãs” que a coloca numa posição onde foca-se no seu melhor atributo, centralizando o seu senso melódico e construindo ao redor dele, Taylor soa confortável no meio da instrumentação folk esparsa e suas composições fluem melhor nessa configuração — dois álbuns deliciosamente melódicos e simples, que prosperam na casualidade.

20. Vile Creature — Glory! Glory! Apathy Took Helm! (Sludge Metal, Doom Metal)

Faixa essencial

Prosthetic, 19/06

Condensa os gritos agonizantes, as guitarras lodosas e densas, o senso de atmosfera esmagadora incomparável com elementos litúrgicos e evocações de imagens místicas e cria uma parede de som intransponível, um bloco concreto de dor que interpela sua mente e bloqueia seus pensamentos, te arrastando para o meio de uma catarse caótica, te mergulhando no meio dos sons contorcidos e desolados, destruindo e dominando tudo que vê em sua frente na sua incessante busca por liberação.

19. Kylie — DISCO (Dance-Pop)

Faixa essencial

BMG, 06/11

O elemento surpresa aqui é a energia revigorada de Kylie — demonstrar, em seu 15º álbum, uma intensidade tão estonteante aliada a refrões impecáveis, poder de permanência e uma produção polida e relevante, é sinal de um alto conhecimento e controle sobre a música pop — ela apresenta aqui, nada mais, nada menos, que 16 canções diretas que cristalizam o melhor da euforia do gênero, o revestimento confortável da música disco ajuda, mas Kylie é a estrela dessa galáxia, brilhando em máxima potência, confiante em seu próprio poder.

18. Cindy Lee — What’s Tonight to Eternity? (Hypnagogic Pop)

Faixa essencial / Review completa

W.25th, 14/02

Um passado idealizado que é distorcido até as memórias virarem algo repulsivo e assombrado — como reviver a pessoa amada já morta e ela retornar como um zumbi — e é incrível como se chega nesse efeito perfeitamente, as melodias psicodélicas e melancólicas torcidas por camadas de reverb, empurrando-as para um cataclismo de alta frequência e wall noise, numa mistura de terror psicológico e um álbum dos anos 60 deixado muito tempo no sol.

17. A Girl Called Eddy — Been Around (Sophisti-Pop)

Faixa essencial / Review completa

Elefant, 17/01

Amplificado para a satisfação máxima, derrete as texturas confortáveis dentro das estruturas cirurgicamente pop das canções num nível de charme polido com elegância incomparável — evocando sons do pop do passado, enquanto firma sua personalidade nesse microcosmo de romanticismo utópico, com melodias cinemáticas, um tom impossivelmente dramático e levemente decadente — uma carta de amor ao pop sentimentalista do século XX em todos seus formatos.

16. Emma Ruth Rundle & Thou — May Our Chambers Be Full (Atmospheric Sludge Metal)

Faixa essencial

Sacred Bones, 30/10

Existe algo bem natural em ouvir os vocais encorpadamente etéreos da ERR em meio as texturas das guitarras e progressão do post-metal — e finalmente essa combinação nos é apresentada, com Emma soando em perfeita sincronia ao lado da Thou, com a sonoridade deles servindo como o pano de fundo ideal para suas ruminações, enquanto adicionam seus próprios gritos sem um eclipsar o outro, o álbum é bem conciso, não sai da paisagem sonora típica do post-metal, mas a aborda de maneira excepcional.

15. Tennis — Swimmer (Indie Pop)

Faixa essencial / Review completa

Mutually Detrimental, 14/02

Um álbum saudável e reanimador que serve como uma carta de amor para o casamento dos dois, mas nunca parecendo manufaturado ou piegas, se fazendo do uso de composições mais fatalistas e levemente obscuras, tingidas pela temática recorrente da morte — tudo derretido na sonoridade perfeita que incorpora as guitarras e sutis sintetizadores do soft rock em idiomas do indie pop moderno, com uma cadência, progressão e melodias impecavelmente trabalhadas a perfeição.

14. Adrianne Lenker — Songs and Instrumentals (Contemporary Folk)

Faixa essencial

4AD, 23/10

Uma compositora que sabe dissecar com perfeição a passagem do tempo e a perda — imagens vívidas são evocadas por suas composições, que aliadas com seu estilo vocal quebradiço e distinto, trazem um caso clássico de um álbum intenso na simplicidade — perambulando suas melodias esparsas até elas dissiparem em duas peças instrumentais oníricas que nos enrolam num casulo de luz e calmaria, servindo como restauração após a torrente de emoções que veio antes.

13. Phoebe Bridgers — Punisher (Indie Folk)

Faixa essencial / Review completa

Dead Oceans, 19/06

Um álbum impecavelmente produzido, amplificando a atmosfera etérea num resultado grandioso — mas a sua mágica reside em quão casual ele soa — Bridgers adota um estilo fluxo-de-consciência para sua composição, mas ao invés de um empilhamento de preâmbulos verborrágicos, ela é capaz de cristalizar seus pensamentos num gancho perfeito, um dia ela disse aquela frase e ela se encaixou em perfeita sincronia — e com essa casualidade, o álbum nos eviscera e destrói, nos fazendo ansiosos para retornar a ele.

12. The Weeknd — After Hours (Alternative R&B, Synthpop)

Faixa essencial / Review completa

X♥O, 20/03

Combina de maneira fluída e natural o ethos hedonista e cinza do pop moderno com as melodias neon de um som throwback aos anos 80, construindo um delicioso álbum noturno, emocionalmente ressoante e esteticamente impactante — servindo também com a grande afirmação do artista, um trabalho aonde todas as arestas estão aparadas, com um senso afiado de como produzir a experiência de um álbum pop extremamente recompensador em todos os aspectos.

11. Luedji Luna — Bom mesmo é estar debaixo d’água (MPB, Vocal Jazz)

Faixa essencial

Self-Released, 14/10

Cumpre a promessa de seu tema aquático — a sensação ambígua da água, que nos energiza e nos acalma — uma tapeçaria de melodias aconchegantes e esparsas, exuberantes na medida certa, que são levemente perturbadas por uma percussão mais rítmica aqui e ali, uma lírica mais confrontativa — calibrando uma resposta sensorial tanto de atenção, quanto de escapismo pacífico, enquanto Luedji transita entre esses humores com uma fluídez impecável.

10. DJ Sabrina the Teenage DJ — Charmed (House)

Faixa essencial

Self-Released, 25/11

Num ano que ressignificou a necessidade da música House nas nossas vidas, DJ Sabrina derrete todo poder do gênero em um caldeirão de samples, sintetizadores efervescentes e uma progressão caleidoscópica de ritmos coloridos que resultam num álbum titânico de 183 minutos que serve como sua obra prima, sua afirmação máxima de catarse através da euforia emotiva, a demonstração incomparável de seu talento para conectar samples e colocá-los no formato de loop para o máximo efeito de escapismo de conforto.

09. Lianne La Havas — Lianne La Havas (Neo-Soul)

Faixa essencial / Review completa

Warner, 17/07

Sabe usar espaços vazios de uma maneira incrível, os preenchendo sem estufar, numa produção minimalista, mas exuberante em seus detalhes sutis — os arranjos de folk, o ritmo leve de funk, respingos de bossa e a atmosfera de jazz coexistindo em perfeita harmonia para uma texturização melódica que serve de pano de fundo para as ruminações solitárias que progridem de maneira contida, revelando a história de um amor que começa, acaba e é superado — emocionalmente intenso, sem causar grandes ondas.

08. Yves Tumor — Heaven to a Tortured Mind (Art Rock, Neo-Psychedelia)

Faixa essencial / Review completa

Warp, 03/04

Um balanço entre o melodrama e a crueza, distorcendo os anos 70 com a apatia moderna — o álbum permite que seus elementos noisy e psicodélicos torçam a essência pop, mas não a obscureça completamente, nos dando a sensação de andar por diversas camadas de música, em meio as guitarras cruas e os refrões catárticos indo de encontro com os vocais de múltiplas faixas e feedback dissonante — o poder de replay de um álbum de rock estonteante com o desconforto de algo mais experimental e provocativo.

07. Kelly Lee Owens — Inner Song (Tech House)

Faixa essencial / Review completa

Smalltown Supersound, 28/08

Acessando estruturas e melodias mais familiares que sua estréia, KLO ainda consegue moldar e traduzir sua própria essência esparsa nas canções mais firmes presentes aqui — transformando-as em algo extremamente onírico, derretendo as palavras no seu tech house etéreo e enchendo seus instrumentais com detalhes até eles se tornaram uma só entidade — música. Não é possível especificar seu objetivo com sua missão de nos hipnotizar, mas de qualquer forma nos provoca uma resposta sensorial inigualável.

06. Jessy Lanza — All the Time (Alternative R&B, Synthpop, UK Bass)

Faixa essencial / Review completa

Hyperdub, 24/07

Explorando mais um ângulo da sua sonoridade única, Jessy embebe uma tristeza casual na essência propulsiva do seu trabalho anterior, demonstrada tanto nos seus vocais lânguidos como na construção mínima e na produção “quebrada” das canções — fundindo a repetitividade dissociativa da música eletrônica moderna com baladas synthpop aconchegantes — nos intoxicando com seu sentimentalismo arquitetural e nos fazendo vulnerável ao seu magnetismo.

05. 青葉市子 — 青葉市子 (Chamber Folk)

Faixa essencial

hermine, 4/12

Se seus álbuns anteriores soavam como sonhos esparsos e lembrados pela metade, “Adan No Kaze” é um sonho lúcido, aonde você sente cada detalhe e consegue captar o quão intricado ele é — expandindo sutilmente seu estilo de folk com texturas de ambient e arranjos de cordas, Ichiko cria mais um espaço limiar em forma de álbum, a atmosfera aquática e onírica te coloca suspenso entre realidade e sonho, mas dessa vez em um local onde a resposta sensorial é mais pungente e afiada, mas não menos distante da realidade.

04. Charli XCX — How I’m Feeling Now (Electropop, Bubblegum Bass)

Faixa essencial / Review completa

Atlantic, 15/05

Evolução direta do som que ela vem construindo desde 2016 — pega o hyperpop mecânico com seu tom futurista e o contextualiza em uma configuração mais frágil, carregando as melodias pegajosas com uma dosagem de melancolia e ansiedade — fragmentando os sintetizadores trance efusivos em uma afirmação de incerteza em meio ao caos, mas ainda assim possuindo as características confortáveis da música pop — constantemente evoluindo sem sacrificar sua pegajosidade.

03. Jessie Ware — What’s Your Pleasure? (Dance-Pop)

Faixa essencial / Review completa

PMR, 26/06

Um álbum afiado até a perfeição — uma demonstração incrível de controle sobre seu trabalho que faz com que todas as influências se encaixem em um pacote coeso, canalizando gêneros dance de todas as décadas e cristalizando-os no formato pop — uma tapeçaria dance com detalhes complexos que se balanceiam entre o efervescente e o elusivo, Ware nos tranca em seu microcosmo ultrarromântico de paisagens sonoras que acertam nossos receptores de serotonina em cheio — nos pergunta qual é o nosso prazer enquanto provê o motivo dele

02. Róisín Murphy — Róisín Machine (Nu-Disco)

Faixa essencial / Review completa

Skint, 02/10

Escaneando a Diva Disco e desconstruindo sua aura magnética em um álbum de house denso, que nos atrai pelo seu ritmo frenético e eufórico, mas que com seu hedonismo existencialista e design sonoro opressivo acaba nos desconcertando e nos fazendo parar e ponderar se deveríamos continuar dançando — a máquina de Róisín no entanto continua em pleno vapor, nos nutrindo com seu fluxo contínuo de ritmos escapistas.

01. Fiona Apple — Fetch the Bolt Cutters (Singer/Songwriter, Art Pop)

Faixa essencial / Review completa

Epic 17/04

O álbum em que Fiona Apple está no controle da sua catarse — uma exposição intensa de fragilidade e raiva, mas o frenesi de emoções aqui não é um fluxo de consciência esparramado — por trás existe a consciência da sua própria força, que a permite exacerbar seus sentimentos estando consciente de cada grito frenético ou explosão, um reset da sua própria carreira ao queimar suas pontes e ressignificar nossa percepção e adjetivos atribuídos a ela , ela está no controle da sua própria narrativa, finalmente — um experimento em um ambiente controlado, através de um caleidoscópio obscuro de percussões, melodias mecânicas e vocalizações cruas culminando em um tom quase industrial, aonde se enfrenta os seus demônios sem o medo de ser esmagado por eles.

EPS / PROJETOS:

05. Clewerson — Segredinho (Ambient House)

Faixa essencial

Self-Released, 28/05

04. Ventura Profana & Podeserdesligado — Traquejos Pentecostais Para Matar o Senhor (Art Pop)

Faixa essencial

Self-Released, 27/07

03. Shygirl — Alias (UK Bass)

Faixa essencial

Because, 20/11

02. Blue Hawaii — Under 1 House (Deep House)

Faixa essencial

Arbutus, 25/09

01. Christine and the Queens — La Vita Nuova (Synthpop)

Faixa essencial

Because, 27/02

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